Cyntia Pinheiro
Jesus, vinde ao meu coração neste Natal, acalmai a saudade, abrandai a ira, apaziguai.
Obrigada pelo ano maravilhoso que foi 2011, um ano sem igual para mim, em que muitas coisas conquistei pela tua graça abundante em minha vida.
Se hoje meu coração está triste, é só saudade, porque tenho todos os motivos do mundo para ser grata e comemorar.
Abençoe esse serzinho novo que carrego em meu ventre, pa...ra que ele chegue cheio de saúde e serenidade, assim como já abençoaste o meu menino-anjo Samuel, que é tão especial.
Obrigada por tudo, Jesus. Obrigada porque posso sentir o seu carinho todas as manhãs, na renovação do dia, no canto dos passarinhos que daqui consigo ouvir com fartura, no sorriso do meu filho, no abraço do meu esposo amado.
Grata sou, por cada dia vivido e por tudo o que virá.
Assim seja!
Graças a Deus e Graças a Jesus!
"Cada Espírito é um mundo onde o Cristo deve nascer. Se Jesus não nascer e crescer, na manjedoura de nossa alma, em vão os Anos Novos se abrirão iluminados para nós." (HUmberto de Campos / Emmanuel / Chico Xavier)
sábado, 24 de dezembro de 2011
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
O macaco-barrigudo
Cyntia Pinheiro
Na floresta Amazônica, no alto do mapa do Brasil, onde o rio Amazonas faz uma curva em forma de "S" vivia um macaco-barrigudo muito especial. Ele adorava lavar seus olhinhos redondos na barriguinha do "S" do rio todas as manhãs ao acordar e saia logo assobiando no melhor astral.
Gostava de comer frutinhas, no alto das árvores e fazer graça com sua amiga da mesma raça, a macaquinha que carinhosamente ele chamava de "Pancinha".
Pancinha o apelidou de "Fofo", por causa da sua forma redonda e peluda. Ele ficava meio sem graça com esse apelido, mas até que gostava dos carinhos da Pancinha.Lá no alto da árvore os dois amigos trocavam gentilezas, comendo frutas deliciosas, apreciando a vista e fazendo piruetas magistrais no topo das árvores.
Um dia, porém, avistaram uma coisa terrível do outro lado do rio. Era uma nuvem escura de fumaça, muito grande mesmo que ia do chão ao céu, numa vista infernal. Não tiveram dúvidas, a floresta estava pegando fogo.
Fofo e Pancinha pularam o mais depressa que podiam e começaram a se agitar no alto das árvores para chamar a atenção dos outros bichos, logo dezenas de animais se reuniam sob o gigante Jequitibá para uma reunião de emergência. Vieram bichos de todas as espécies para saber o que estava acontecendo.
- E agora, amiguinhos? A floresta parece estar pegando fogo. - disse Pancinha com um olhar aflito.
- Isso mesmo, vimos uma nuvem terrível de fumaça do outro lado do rio, temos que fazer alguma coisa. - Acrescentou o macaco Fofo.
- Mas o que fazer? Como chegar até o lado de lá do rio? - Indagou o macaco-aranha.
- Teremos que dar um jeito nisso. - Retrucou a Onça Pintada.
Os bichos então, decidiram que ajudariam a salvar a mata, pois ali era a sua casa e do outro lado onde a floresta ardia no fogo quente havia outros bichos precisando de ajuda. Se organizaram em equipes e foram para a beira do rio. Lá chegando um bando de jacarés e crocodilos os aguardavam para dar carona. O macaco Fofo e a macaca Pancinha foram os primeiros a subir nos bichos, quase todos os animais conseguiram ser transportados à outra margem.
Lá chegando ficaram ainda mais assustados com tanto fogo e tanta fumaça, havia muitos bichos que estavam perdidos no meio da nuvem escura e já não conseguiam respirar direito. Os amigos salvadores foram encaminhando os bichinhos perdidos para os crocodilos que os levaram em segurança para a outra margem, fazendo um rápido resgate.
Nossos heróis corriam muito pra tentar conter o fogo, mas não conseguiam muita coisa, os olhinhos do macaco-barrigudo ardiam muito, a onça pintada tossia demais e até a pobre da Pancinha já não conseguia nem mais ficar de pé de tão cansada. E o fogo não diminuia.
Passarinhos enchiam seus biquinhos de água e traziam para jogar no fogo, mas ele insistia em se propagar. Até que, de repente, quando as forças já tinham se esgotado, ouviu-se um estrondo bem forte e começaram a cair gotinhas de uma chuva abençoada. Choveu sem parar por muito tempo e nossos amiguinhos, exaustos que estavam, nem perceberam as primeiras gotinhas que lhes lambiam os pelos, pois já estavam todos caídos no chão inertes de tão cansados.
Depois de um tempo, Pancinha acordou e viu que o fogo havia sido apagado pela chuva. Ficou triste porque o cenário ali era desolador. Havia um grande buraco na mata, o fogo consumiu um grande pedaço de vegetação e muitos bichinhos jaziam no meio do clarão.
Procurou seu amigo Fofo e não o encontrou, aos poucos os bichinhos que sobreviveram foram acordando e ficavam estupefatos quando percebiam o que havia acontecido com seu habitat.
- Quem faria uma coisa dessas? - perguntou desconsolada a pobre Pancinha.
- Só mesmo algum bicho muito burro e cruel pra colocar fogo na própria casa e pra matar tanto bicho inocente. - disse furioso o cachorro-vinagre.
- Vejam! - convidou a jaguatirica. - Pode ser uma pista.
Todos os bichinhos olharam na mesma direção, onde haviam cabaninhas de madeira com roupas penduradas nos varais e restos de comida em grandes caldeirões. Foi então que o astuto Gavião-real concluiu:
- Conheço esse bicho, é o bicho-homem que sempre chega destruindo tudo por onde passa...
Todos os animais estavam muito tristes e indignados, principalmente quando viam seus amiguinhos sem vida deitadinhos no chão ainda coberto de cinzas das árvores mortas.
Pancinha, desesperada, só queria saber onde estava seu amigo Fofo. Não o encontrava em lugar nenhum. Foi quando todos os amiguinhos resolveram sair dali para procurá-lo.
Mais adiante avistaram uma aldeia de índios que também eram nativos da região e zelavam pela natureza. Perguntaram por Fofo e foram informados de que um macaco-barrigudo estivera ali mais cedo, pedindo aos índios que fizessem a dança da chuva para tentar salvar a floresta. Pancinha logo entendeu que se tratava do Fofo, mas onde ele estaria agora?
Continuaram procurando pelo amiguinho e se assutaram muito quando o viram caído no meio de uma trilha na floresta. Parte do pelo dele estava queimada e ele tinha na mãozinha uma cuia onde ainda havia um restinho de água que ele usara para tentar conter o fogo. Infelizmente seu corpinho estava sem vida.
Pancinha chorou muito de saudades do seu melhor amigo. Todos ficaram comovidos com a cena triste, mas entenderam que Fofo foi, na verdade, um grande herói, pois quando ele percebeu que todos morreriam em razão do incêndio, arriscou a própria vida para pedir socorro aos índios. E a floresta foi salva por causa de sua atitude.
Embora Pancinha estivesse triste, estava também orgulhosa do seu amigo. Todos os bichos reconheceram o seu valor. E a floresta se uniu por uma causa: cuidar da natureza e não permitir mais que isso aconteça.
Só que o bicho-homem é implacável e não se cansa de atacar a floresta e seus bichinhos, por isso essa história chegou até você. Será que podemos fazer algo para preservar a natureza e salvar o lugar onde vivemos?
Na floresta Amazônica, no alto do mapa do Brasil, onde o rio Amazonas faz uma curva em forma de "S" vivia um macaco-barrigudo muito especial. Ele adorava lavar seus olhinhos redondos na barriguinha do "S" do rio todas as manhãs ao acordar e saia logo assobiando no melhor astral.
Gostava de comer frutinhas, no alto das árvores e fazer graça com sua amiga da mesma raça, a macaquinha que carinhosamente ele chamava de "Pancinha".
Pancinha o apelidou de "Fofo", por causa da sua forma redonda e peluda. Ele ficava meio sem graça com esse apelido, mas até que gostava dos carinhos da Pancinha.Lá no alto da árvore os dois amigos trocavam gentilezas, comendo frutas deliciosas, apreciando a vista e fazendo piruetas magistrais no topo das árvores.
Um dia, porém, avistaram uma coisa terrível do outro lado do rio. Era uma nuvem escura de fumaça, muito grande mesmo que ia do chão ao céu, numa vista infernal. Não tiveram dúvidas, a floresta estava pegando fogo.
Fofo e Pancinha pularam o mais depressa que podiam e começaram a se agitar no alto das árvores para chamar a atenção dos outros bichos, logo dezenas de animais se reuniam sob o gigante Jequitibá para uma reunião de emergência. Vieram bichos de todas as espécies para saber o que estava acontecendo.
- E agora, amiguinhos? A floresta parece estar pegando fogo. - disse Pancinha com um olhar aflito.
- Isso mesmo, vimos uma nuvem terrível de fumaça do outro lado do rio, temos que fazer alguma coisa. - Acrescentou o macaco Fofo.
- Mas o que fazer? Como chegar até o lado de lá do rio? - Indagou o macaco-aranha.
- Teremos que dar um jeito nisso. - Retrucou a Onça Pintada.
Os bichos então, decidiram que ajudariam a salvar a mata, pois ali era a sua casa e do outro lado onde a floresta ardia no fogo quente havia outros bichos precisando de ajuda. Se organizaram em equipes e foram para a beira do rio. Lá chegando um bando de jacarés e crocodilos os aguardavam para dar carona. O macaco Fofo e a macaca Pancinha foram os primeiros a subir nos bichos, quase todos os animais conseguiram ser transportados à outra margem.
Lá chegando ficaram ainda mais assustados com tanto fogo e tanta fumaça, havia muitos bichos que estavam perdidos no meio da nuvem escura e já não conseguiam respirar direito. Os amigos salvadores foram encaminhando os bichinhos perdidos para os crocodilos que os levaram em segurança para a outra margem, fazendo um rápido resgate.
Nossos heróis corriam muito pra tentar conter o fogo, mas não conseguiam muita coisa, os olhinhos do macaco-barrigudo ardiam muito, a onça pintada tossia demais e até a pobre da Pancinha já não conseguia nem mais ficar de pé de tão cansada. E o fogo não diminuia.
Passarinhos enchiam seus biquinhos de água e traziam para jogar no fogo, mas ele insistia em se propagar. Até que, de repente, quando as forças já tinham se esgotado, ouviu-se um estrondo bem forte e começaram a cair gotinhas de uma chuva abençoada. Choveu sem parar por muito tempo e nossos amiguinhos, exaustos que estavam, nem perceberam as primeiras gotinhas que lhes lambiam os pelos, pois já estavam todos caídos no chão inertes de tão cansados.
Depois de um tempo, Pancinha acordou e viu que o fogo havia sido apagado pela chuva. Ficou triste porque o cenário ali era desolador. Havia um grande buraco na mata, o fogo consumiu um grande pedaço de vegetação e muitos bichinhos jaziam no meio do clarão.
Procurou seu amigo Fofo e não o encontrou, aos poucos os bichinhos que sobreviveram foram acordando e ficavam estupefatos quando percebiam o que havia acontecido com seu habitat.
- Quem faria uma coisa dessas? - perguntou desconsolada a pobre Pancinha.
- Só mesmo algum bicho muito burro e cruel pra colocar fogo na própria casa e pra matar tanto bicho inocente. - disse furioso o cachorro-vinagre.
- Vejam! - convidou a jaguatirica. - Pode ser uma pista.
Todos os bichinhos olharam na mesma direção, onde haviam cabaninhas de madeira com roupas penduradas nos varais e restos de comida em grandes caldeirões. Foi então que o astuto Gavião-real concluiu:
- Conheço esse bicho, é o bicho-homem que sempre chega destruindo tudo por onde passa...
Todos os animais estavam muito tristes e indignados, principalmente quando viam seus amiguinhos sem vida deitadinhos no chão ainda coberto de cinzas das árvores mortas.
Pancinha, desesperada, só queria saber onde estava seu amigo Fofo. Não o encontrava em lugar nenhum. Foi quando todos os amiguinhos resolveram sair dali para procurá-lo.
Mais adiante avistaram uma aldeia de índios que também eram nativos da região e zelavam pela natureza. Perguntaram por Fofo e foram informados de que um macaco-barrigudo estivera ali mais cedo, pedindo aos índios que fizessem a dança da chuva para tentar salvar a floresta. Pancinha logo entendeu que se tratava do Fofo, mas onde ele estaria agora?
Continuaram procurando pelo amiguinho e se assutaram muito quando o viram caído no meio de uma trilha na floresta. Parte do pelo dele estava queimada e ele tinha na mãozinha uma cuia onde ainda havia um restinho de água que ele usara para tentar conter o fogo. Infelizmente seu corpinho estava sem vida.
Pancinha chorou muito de saudades do seu melhor amigo. Todos ficaram comovidos com a cena triste, mas entenderam que Fofo foi, na verdade, um grande herói, pois quando ele percebeu que todos morreriam em razão do incêndio, arriscou a própria vida para pedir socorro aos índios. E a floresta foi salva por causa de sua atitude.
Embora Pancinha estivesse triste, estava também orgulhosa do seu amigo. Todos os bichos reconheceram o seu valor. E a floresta se uniu por uma causa: cuidar da natureza e não permitir mais que isso aconteça.
Só que o bicho-homem é implacável e não se cansa de atacar a floresta e seus bichinhos, por isso essa história chegou até você. Será que podemos fazer algo para preservar a natureza e salvar o lugar onde vivemos?
sábado, 3 de dezembro de 2011
Dia de chuva - (para os meus filhotes)
Cyntia Pinheiro
Tilinta a chuva que cai da nuvem densa
Espremem os anjos o algodão fofinho
De onde respingam gotinhas claras
Que escurecem o dia outrora azulzinho.
O arco-íris divide o céu em dois
Lá em cima, Deus com suas barbas brancas
Embaixo, nós com nossas almas tantas
E o barulhinho bom do som da chuva caindo.
Lagartixas se escondem nos buracos da parede
Passarinhos se aquecem nos ninhos quentinhos
E todos os bichinhos se escondem da chuva
Até a gente quer cama e carinho.
Tilinta a chuva que cai da nuvem densa
Espremem os anjos o algodão fofinho
De onde respingam gotinhas claras
Que escurecem o dia outrora azulzinho.
O arco-íris divide o céu em dois
Lá em cima, Deus com suas barbas brancas
Embaixo, nós com nossas almas tantas
E o barulhinho bom do som da chuva caindo.
Lagartixas se escondem nos buracos da parede
Passarinhos se aquecem nos ninhos quentinhos
E todos os bichinhos se escondem da chuva
Até a gente quer cama e carinho.
Processo Civil Romântico
Cyntia Pinheiro
Quem imagina que aula de direito é só teoria e pouco ou nenhum romantismo se engana. No quinto período de Direito, nossa turma teve a felicidade de conhecer o professor Otávio Augusto, homem sério, distinto e visivelmente culto e vaidoso. Mas vaidoso de uma vaidade saudável, do tipo de gente que se cuida, sempre de terno estiloso e óculos impecavelmente limpos.
Trouxe um certo temor nas primeiras aulas, com seu ar sério e seu português irrepreensível, além das notícias que tivemos de que suas provas eram difíceis e de que ele seria implacável como professor. Mas logo essa imagem equivocada se desfez, e o professor Otávio se mostrou acessível e descontraído em vários momentos.
Bem, mas para que não me compreendam mal, às vésperas que estamos da última prova de processo civil, minha intenção com este texto não é a bajulação, mas tão somente comentar um pouco do que aconteceu ontem em nossa última aula e da inspiração que ela me trouxe.
Discutíamos Recurso Extraordinário e Recurso Especial. Já no final da aula, nas considerações derradeiras, surgiu (não me lembro bem de onde), um comentário acerca das missivas que já não se mandam mais. O professor Otávio bem disse que nos tempos modernos já não se escrevem mais cartas aqueles que se encontram enamorados, a internet acabou com todo o romantismo, a tecnologia fez com que muita coisa perdesse a graça.
Minha colega Thiara, que se casa em janeiro, foi indagada pelo professor, sobre o seu noivo, se por acaso ela lhe escrevera cartas românticas, já que é sabido de todos que William não reside em Montes Claros. Ela logo respondeu, romanticíssima que é, que é claro que já se comunicou com ele através das cartas, que demoravam cerca de cinco dias para chegarem até a Bahia, local onde ele se encontra fazendo mestrado.
Bem, aproveitando a deixa o professor logo emendou brincando que por se tratar da Bahia, somente por carta mesmo... Mas continuou emendando com uma seriedade invejável e uma inspiração fantástica: "Quando não há espaço entre o desejo e a satisfação, não há tempo para os sentimentos brotarem."
Eis o ponto culminante no qual me apeguei para esta crônica. A frase do professor foi ainda comentada por alguns instantes enquanto eu refletia acerca de sua profundidade. Cecília, amiga e parceira de todos os momentos, notando meu mergulho nas ideias foi logo sugerindo: escreva uma crônica. Eu, como muitos já sabem, costumo atender a esse tipo de pedido. Cá estou tentando fazê-lo.
Pensar que deve haver espaço entre o desejo e a satisfação é pensar em como Ismália quis a lua, levada pela loucura de amor, que morre de amor pensando alcançá-lo.
É pensar em como Aída quis Radamés e foi desejada por ele, morrendo ambos de amor, de um amor que não teve tempo de ser vivido.
É também pensar em como Elis amou a música, mais do que aos filhos e no tempo curto que teve para viver e amar.
Assim só posso pensar que o tempo está para o amor, como bem cantou Caetano em sua Oração ao Tempo, pois é o tempo o melhor "compositor de destinos" de que se tem notícias.
E sim, desejo prontamente satisfeito não tem o mesmo "tempero" de um desejo esperado, almejado, aguardado. Para tanto, que bom seria se voltássemos às tradicionais missivas, eu mesma já escrevi dezenas, centenas delas e tenho um baú lotado de cartas que recebi dos amigos e do marido também nos tempos de namoro. Por que não?
Claro que "Todas as cartas de amor são ridículas" como escreveu Álvaro de Campos, mas não é por acaso que ele mesmo concluiu que só quem nunca escreveu uma carta de amor é que é, de fato, ridículo.
E para que os sentimentos brotem, nada como ser ridículo com as palavras, nada mais salutar. Pequenas doses de desejo satisfeito são como pequenas gotas de mel, deliciosas e doces. Desejo prontamente satisfeito é como o mel que transborda e enjoa.
03/12/2011
Quem imagina que aula de direito é só teoria e pouco ou nenhum romantismo se engana. No quinto período de Direito, nossa turma teve a felicidade de conhecer o professor Otávio Augusto, homem sério, distinto e visivelmente culto e vaidoso. Mas vaidoso de uma vaidade saudável, do tipo de gente que se cuida, sempre de terno estiloso e óculos impecavelmente limpos.
Trouxe um certo temor nas primeiras aulas, com seu ar sério e seu português irrepreensível, além das notícias que tivemos de que suas provas eram difíceis e de que ele seria implacável como professor. Mas logo essa imagem equivocada se desfez, e o professor Otávio se mostrou acessível e descontraído em vários momentos.
Bem, mas para que não me compreendam mal, às vésperas que estamos da última prova de processo civil, minha intenção com este texto não é a bajulação, mas tão somente comentar um pouco do que aconteceu ontem em nossa última aula e da inspiração que ela me trouxe.
Discutíamos Recurso Extraordinário e Recurso Especial. Já no final da aula, nas considerações derradeiras, surgiu (não me lembro bem de onde), um comentário acerca das missivas que já não se mandam mais. O professor Otávio bem disse que nos tempos modernos já não se escrevem mais cartas aqueles que se encontram enamorados, a internet acabou com todo o romantismo, a tecnologia fez com que muita coisa perdesse a graça.
Minha colega Thiara, que se casa em janeiro, foi indagada pelo professor, sobre o seu noivo, se por acaso ela lhe escrevera cartas românticas, já que é sabido de todos que William não reside em Montes Claros. Ela logo respondeu, romanticíssima que é, que é claro que já se comunicou com ele através das cartas, que demoravam cerca de cinco dias para chegarem até a Bahia, local onde ele se encontra fazendo mestrado.
Bem, aproveitando a deixa o professor logo emendou brincando que por se tratar da Bahia, somente por carta mesmo... Mas continuou emendando com uma seriedade invejável e uma inspiração fantástica: "Quando não há espaço entre o desejo e a satisfação, não há tempo para os sentimentos brotarem."
Eis o ponto culminante no qual me apeguei para esta crônica. A frase do professor foi ainda comentada por alguns instantes enquanto eu refletia acerca de sua profundidade. Cecília, amiga e parceira de todos os momentos, notando meu mergulho nas ideias foi logo sugerindo: escreva uma crônica. Eu, como muitos já sabem, costumo atender a esse tipo de pedido. Cá estou tentando fazê-lo.
Pensar que deve haver espaço entre o desejo e a satisfação é pensar em como Ismália quis a lua, levada pela loucura de amor, que morre de amor pensando alcançá-lo.
É pensar em como Aída quis Radamés e foi desejada por ele, morrendo ambos de amor, de um amor que não teve tempo de ser vivido.
É também pensar em como Elis amou a música, mais do que aos filhos e no tempo curto que teve para viver e amar.
Assim só posso pensar que o tempo está para o amor, como bem cantou Caetano em sua Oração ao Tempo, pois é o tempo o melhor "compositor de destinos" de que se tem notícias.
E sim, desejo prontamente satisfeito não tem o mesmo "tempero" de um desejo esperado, almejado, aguardado. Para tanto, que bom seria se voltássemos às tradicionais missivas, eu mesma já escrevi dezenas, centenas delas e tenho um baú lotado de cartas que recebi dos amigos e do marido também nos tempos de namoro. Por que não?
Claro que "Todas as cartas de amor são ridículas" como escreveu Álvaro de Campos, mas não é por acaso que ele mesmo concluiu que só quem nunca escreveu uma carta de amor é que é, de fato, ridículo.
E para que os sentimentos brotem, nada como ser ridículo com as palavras, nada mais salutar. Pequenas doses de desejo satisfeito são como pequenas gotas de mel, deliciosas e doces. Desejo prontamente satisfeito é como o mel que transborda e enjoa.
03/12/2011
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Riqueza
Obrigada aos 53 amigos que vieram à nossa casa no último dia 26/11 para o chá de bebê do Vinícius...
Me senti rica, milionária por contar com tanta gente especial perto de mim!
Foi lindo! Foi maravilhoso!
Estou imensamente feliz e grata a Deus por ter tantos amigos!
Sei que muita gente não veio em razão do tempo, outros por compromissos anteriores, mesmo assim, sinto-me abraçada por todos e o Vinícius já sabe o quanto é bem-vindo e amado!
Obrigada mais uma vez!
Cyntia, Beto, Samuel e Vinícius.
Me senti rica, milionária por contar com tanta gente especial perto de mim!
Foi lindo! Foi maravilhoso!
Estou imensamente feliz e grata a Deus por ter tantos amigos!
Sei que muita gente não veio em razão do tempo, outros por compromissos anteriores, mesmo assim, sinto-me abraçada por todos e o Vinícius já sabe o quanto é bem-vindo e amado!
Obrigada mais uma vez!
Cyntia, Beto, Samuel e Vinícius.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
O anjinho peralta
Cyntia Pinheiro
Lá no céu havia uma escola de anjinhos, meninos-aprendizes de todos os tamanhos, desde bebês-anjinhos até mocinhas e rapazinhos angelicais. Anjinhos de cabelos cacheados, de cabelinhos lisos e crespos. Anjinhos negros, loirinhos e de olhinhos puxados também.
Em uma linda manhã de sol, o anjinho Astolfo, que era o mais peralta dos meninos-anjo de sua idade, pulava de nuvem em nuvem, sentindo em seu rostinho rosado a brisa cariciosa e os raiozinhos de sol que lhe tocavam delicadamente a testa. Sabia que o Papai do Céu estava de olhos bem abertos, prestando atenção em tudo o que ele fazia. De repente, um trovão estrondou bem forte, quase derrubando o anjinho pulador, que foi logo reclamando:
- Mas que coisa mais desagradável! Será que eu poderia brincar sem levar sustos? Quem foi o anjinho levado que ligou o som a essa altura aqui no céu?
Para a surpresa do anjinho Astolfo a resposta veio como um trovão ainda mais forte, era o Papai do Céu que lhe falava:
- Anjinho lindo que tanto amo, você que é tão corajoso, que se equilibra nessas nuvens como nenhum outro anjinho sabe fazer, você que tem tanta energia angelical, que já aprendeu tanta coisa aqui no céu, chegou a hora de ganhar uma missão especial.
Claro que o anjinho ficou bem assustado, pois não era todo dia que se ouvia assim tão forte a voz do Papai do Céu, afinal Ele estava sempre de olho em todo mundo, cuidando de tudo, mas Deus prefere falar baixinho, no silêncio do coração das pessoas, na verdade Ele sabe que tem uma voz muito poderosa, por isso prefere ouvir mais e falar menos. Obediente que era, apesar das peraltices, Astolfo estava disposto a agradar ao Senhor, e respondeu com alegria:
- Sim, meu Deus! Estou prontinho para qualquer trabalho que o Senhor me confiar.
Deus então respondeu:
- Sua missão será na terra, alegrando as criancinhas. Você aceita?
Astolfo nem pestanejou e disse iluminado pela sua linda auréola que reluzia tanto quanto seus olhinhos emocionados:
- Claro, meu papaizinho, eu aceito.
Mal Astolfo respondeu àquela pergunta e sentiu imediatamente seu corpinho escorregando pelas nuvens branquinhas. Ele foi descendo como uma pluma, caindo devagarinho, e enquanto apreciava a vista linda lá do alto, pensava em como seria o lugar para onde Deus o estava levando... Confiava tanto no Criador que não teve medo nenhum. Algum tempo depois acordou sem suas asinhas, sem sua auréola dourada, com a pele um pouco mais bronzeada e cabelos como de menino da terra. Ele estava deitado num campo verdinho, à sombra de uma árvore frondosa. Vestido como um menino normal, ele olhou à sua volta buscando saber que lugar era aquele onde estava, foi quando ao longe ele avistou alguma coisa muito colorida que se sacudia fortemente ao vento. Não teve dúvidas, era um circo. Aproximou-se lentamente, até encontrar a porta principal, e foi entrando sem ser incomodado.
- Olá - gritou o menino-anjo - tem alguém aí?
Mas ninguém respondeu. Astolfo então foi entrando e ficou admirado com tudo o que via, o picadeiro era enorme, cheio de coisas grandes e coloridas, no alto haviam trapézios de uma altura impressionante e também pôde notar uma corda-bamba que atravessava o circo inteiro. Astolfo estava encantado... foi aproximando-se como que fascinado e começou a mexer em tudo o que via. Subiu no trampolim, deu piruetas no meio do picadeiro, fez estrelinhas, criou coragem e foi até lá no alto, pendurou-se no trapézio de ponta-cabeça, girou no ar, andou na corda bamba e quando se preparava para descer da sua aventura circense foi surpreendido com alguns poucos aplausos de uma plateia bem especial.
(palmas)
- Bravo! - Gritou o palhaço Cascatinha.
- Genial! - Bradou o mágico do circo.
- Quanta habilidade! Estou impressionada! - Disse a mulher barbada.
Astolfo não estava entendendo nada. Então pediu desculpas:
- Pessoal, eu não sabia que vocês estavam aí. Me desculpem por invadir assim o circo de vocês, é que eu fiquei...
Mas antes que Astolfo completasse a frase foi interrompido por Cascatinha:
- O que há garotinho? Nós adoramos assistí-lo. Onde foi que você aprendeu tanta coisa assim? Você é artista de circo?
- N-n-não... eu...
- Não importa - disse a mulher barbada - o importante é que você chegou aqui na hora certa, foi Deus quem te enviou menininho. Quer trabalhar conosco?
Quando ouviu aquelas palavras o menino-anjo não teve dúvidas, sabia que tinha ido parar ali a mando mesmo do Papai do Céu, então não havia porque recusar àquele convite tentador.
- Está bem. Eu aceito.
Pegando sua cartola mágica, o mágico do circo foi logo tirando coisas lindas para presentear Astolfo. A primeira a sair foi uma roupinha toda colorida de palhaço, depois veio uma peruca toda espivitada e por último um sapato gigantão desses que palhaço usa. Astolfo ficou muito feliz, mas não deixou de perceber o olhar triste do palhaço Cascatinha.
- O que foi Cascatinha, você não está feliz? - perguntou o anjinho.
- Não, é que... bem... eu... é que essas coisas eram do meu filho, o palhacinho bolotinha e... é que me deu uma saudade danada dos tempos em que ele podia usar todas essas coisinhas lindas...
- E por que ele não pode mais usá-las? - indagou o curioso anjinho.
Cascatinha começou a chorar. Então a mulher barbada explicou:
- Olha menino, é que o Bolotinha acidentou-se aqui no circo e agora não pode mais fazer graça, o circo já não é mais o mesmo sem ele. Precisávamos mesmo de um substituto, porque as crianças que vêm aqui adoravam vê-lo em cena. Já faz um tempão que ele está deitadinho na cama, triste, amuado, desanimado da vida, e não temos mais esperanças de que ele volte ao picadeiro.
- Nossa! Que coisa triste. Gostaria muito de conhecê-lo.
- Você irá conhecê-lo na hora certa - disse o mágico - agora vamos preparar a apresentação de logo mais.
Então foram surgindo por trás das cortinas pesadas vários personagens interessantes do circo, o malabarista com suas bolinhas encantadas que jamais caiam, a contorcionista que cabia numa caixinha pequenininha, o trapezista com músculos de aço pendurava-se de ponta-cabeça, girava e saltava no ar, o mágico tirava coelhos lindos de sua cartola, a mulher barbada girava no ar pendurada por malhas coloridas, o palhaço Cascatinha arrancava risadas de todos ali presentes. E o nosso pequeno Astolfo ficou encantado pela atmosfera maravilhosa do circo, inebriado com tanta beleza, tantas cores e tanta alegria, ganhou o apelido carinhoso de palhaço Fumacinha e ficou decidido que participaria de vários quadros, penduraria-se no trapézio, andaria na corda-bamba que era sua especialidade, faria graça junto com o palhaço Cascatinha e até sairira de dentro da cartola do mágico em um número novo que eles inventaram só pra ele. Tudo parecia perfeito, até que Fumacinha percebeu uma sombra que espiava por traz da lona, um olhinho triste que acompanhava todo o ensaio, não teve dúvidas, era o palhaço Bolotinha e correu até lá:
- Bolotinha!
O palhacinho doente levou um susto, não esperava ser encontrado ali no seu esconderijo:
- Q-quem é você? - perguntou intrigado.
- Sou o palhaço Fumacinha e vim para...
- Não precisa me dizer... eu já sei, você veio para ficar no meu lugar, eu sei que não sirvo pra nada mais... depois que caí do trampolim, meus pezinhos ficaram tortos e já não posso mais andar direito, também estou bem doente, tenho febre e muita tristeza...
- Ei, espere Bolotinha, você não pode ficar revoltado assim, pois existe um Deus tão grande e tão bonito cuidando de você.
Bolotinha revoltado respondeu:
- Então porque Ele mandou você em vez de cuidar de mim?
- Mas ele cuida, amiguinho. Confie n´Ele. Me conte uma coisa: o que eu poderia fazer para te deixar feliz, Bolotinha? Quero ser seu amigo, quero que você confie em mim.
- Ah! Ninguém pode me fazer feliz, a única coisa que me deixaria realmente feliz seria voltar ao picadeiro, voltar a ser o palhaço Bolotinha de antes...
E Bolotinha saiu chateado com aquela conversa. Mas Fumacinha, nosso anjinho Astolfo, já tinha um plano.
Quando a noite chegou, o público lotou o auditório do circo, muitas crianças vinham de várias localidades para conhecer o novo palhacinho. As luzes finalmente se acenderam e o espetáculo começou com muita alegria. Era possível notar a felicidade das crianças encantadas com tanta arte e beleza. Fumacinha foi a principal atração da noite. Para a surpresa geral, no número mais difícil que apresentaria, nosso anjinho pediu para falar ao microfone, e deixou a plateia e os amigos do circo ainda mais intrigados quando disse com voz confiante:
- Convido aqui o meu amigo, o melhor palhaço que já houve nesse circo, o mais esperto, o mais inteligente e bonito, o palhaço Bolotinha para andar comigo na corda-bamba.
Ouviu-se um longo "Ohhhhhhhh" por parte dos presentes. Todos sabiam que Bolotinha não conseguiria, como poderia andar na corda-bamba com seus pezinhos tortos? E fraquinho como ele estava, não seria capaz. O mágico tentou impedir a loucura, mas Cascatinha, confiando em Deus deixou seu filhinho subir.
A plateia ficou enlouquecida, entre preocupados e confiantes, aplaudiam com entusiasmo o pequeno Bolotinha. E agora era possível perceber um brilho diferente em seu olhar, ele estava encantado e realmente feliz de estar ali, sentia-se útil e importante novamente. De mãos dadas com nosso anjinho Astolfo se deixou levar confiante pela corda-bamba que balançava calmamente sentindo o peso dos dois novos amigos. Bolotinha sorria muito, não cabia em si de tanta felicidade. De repente, algo inesperado aconteceu, a corda começou a sacudir rapidamente e os dois corriam o risco de cair lá do alto. Foi quando Bolotinha fechou os olhos e disse para Astolfo:
- Estou pronto, amiguinho!
E como mágica duas asas gigantes brotaram nas costas de Astolfo e a mesma coisa aconteceu com o palhaço Bolotinha, duas asas imensas sairam de suas costas e quando começaram a cair da corda-bamba, bateram suas asas lindas e passaram a sobrevoar a plateia emocionada com tanta beleza. Aquela foi a noite mais especial e linda que o circo jamais viu. Fumacinha e Bolotinha voltaram a ser anjinhos de Deus, e voaram para fazer suas traquinagem e malabarismos lá no céu, felizes e agradecidos ao grande Criador que os deu a chance de alegrar muitas crianças aqui na terra.
Lá no céu havia uma escola de anjinhos, meninos-aprendizes de todos os tamanhos, desde bebês-anjinhos até mocinhas e rapazinhos angelicais. Anjinhos de cabelos cacheados, de cabelinhos lisos e crespos. Anjinhos negros, loirinhos e de olhinhos puxados também.
Em uma linda manhã de sol, o anjinho Astolfo, que era o mais peralta dos meninos-anjo de sua idade, pulava de nuvem em nuvem, sentindo em seu rostinho rosado a brisa cariciosa e os raiozinhos de sol que lhe tocavam delicadamente a testa. Sabia que o Papai do Céu estava de olhos bem abertos, prestando atenção em tudo o que ele fazia. De repente, um trovão estrondou bem forte, quase derrubando o anjinho pulador, que foi logo reclamando:
- Mas que coisa mais desagradável! Será que eu poderia brincar sem levar sustos? Quem foi o anjinho levado que ligou o som a essa altura aqui no céu?
Para a surpresa do anjinho Astolfo a resposta veio como um trovão ainda mais forte, era o Papai do Céu que lhe falava:
- Anjinho lindo que tanto amo, você que é tão corajoso, que se equilibra nessas nuvens como nenhum outro anjinho sabe fazer, você que tem tanta energia angelical, que já aprendeu tanta coisa aqui no céu, chegou a hora de ganhar uma missão especial.
Claro que o anjinho ficou bem assustado, pois não era todo dia que se ouvia assim tão forte a voz do Papai do Céu, afinal Ele estava sempre de olho em todo mundo, cuidando de tudo, mas Deus prefere falar baixinho, no silêncio do coração das pessoas, na verdade Ele sabe que tem uma voz muito poderosa, por isso prefere ouvir mais e falar menos. Obediente que era, apesar das peraltices, Astolfo estava disposto a agradar ao Senhor, e respondeu com alegria:
- Sim, meu Deus! Estou prontinho para qualquer trabalho que o Senhor me confiar.
Deus então respondeu:
- Sua missão será na terra, alegrando as criancinhas. Você aceita?
Astolfo nem pestanejou e disse iluminado pela sua linda auréola que reluzia tanto quanto seus olhinhos emocionados:
- Claro, meu papaizinho, eu aceito.
Mal Astolfo respondeu àquela pergunta e sentiu imediatamente seu corpinho escorregando pelas nuvens branquinhas. Ele foi descendo como uma pluma, caindo devagarinho, e enquanto apreciava a vista linda lá do alto, pensava em como seria o lugar para onde Deus o estava levando... Confiava tanto no Criador que não teve medo nenhum. Algum tempo depois acordou sem suas asinhas, sem sua auréola dourada, com a pele um pouco mais bronzeada e cabelos como de menino da terra. Ele estava deitado num campo verdinho, à sombra de uma árvore frondosa. Vestido como um menino normal, ele olhou à sua volta buscando saber que lugar era aquele onde estava, foi quando ao longe ele avistou alguma coisa muito colorida que se sacudia fortemente ao vento. Não teve dúvidas, era um circo. Aproximou-se lentamente, até encontrar a porta principal, e foi entrando sem ser incomodado.
- Olá - gritou o menino-anjo - tem alguém aí?
Mas ninguém respondeu. Astolfo então foi entrando e ficou admirado com tudo o que via, o picadeiro era enorme, cheio de coisas grandes e coloridas, no alto haviam trapézios de uma altura impressionante e também pôde notar uma corda-bamba que atravessava o circo inteiro. Astolfo estava encantado... foi aproximando-se como que fascinado e começou a mexer em tudo o que via. Subiu no trampolim, deu piruetas no meio do picadeiro, fez estrelinhas, criou coragem e foi até lá no alto, pendurou-se no trapézio de ponta-cabeça, girou no ar, andou na corda bamba e quando se preparava para descer da sua aventura circense foi surpreendido com alguns poucos aplausos de uma plateia bem especial.
(palmas)
- Bravo! - Gritou o palhaço Cascatinha.
- Genial! - Bradou o mágico do circo.
- Quanta habilidade! Estou impressionada! - Disse a mulher barbada.
Astolfo não estava entendendo nada. Então pediu desculpas:
- Pessoal, eu não sabia que vocês estavam aí. Me desculpem por invadir assim o circo de vocês, é que eu fiquei...
Mas antes que Astolfo completasse a frase foi interrompido por Cascatinha:
- O que há garotinho? Nós adoramos assistí-lo. Onde foi que você aprendeu tanta coisa assim? Você é artista de circo?
- N-n-não... eu...
- Não importa - disse a mulher barbada - o importante é que você chegou aqui na hora certa, foi Deus quem te enviou menininho. Quer trabalhar conosco?
Quando ouviu aquelas palavras o menino-anjo não teve dúvidas, sabia que tinha ido parar ali a mando mesmo do Papai do Céu, então não havia porque recusar àquele convite tentador.
- Está bem. Eu aceito.
Pegando sua cartola mágica, o mágico do circo foi logo tirando coisas lindas para presentear Astolfo. A primeira a sair foi uma roupinha toda colorida de palhaço, depois veio uma peruca toda espivitada e por último um sapato gigantão desses que palhaço usa. Astolfo ficou muito feliz, mas não deixou de perceber o olhar triste do palhaço Cascatinha.
- O que foi Cascatinha, você não está feliz? - perguntou o anjinho.
- Não, é que... bem... eu... é que essas coisas eram do meu filho, o palhacinho bolotinha e... é que me deu uma saudade danada dos tempos em que ele podia usar todas essas coisinhas lindas...
- E por que ele não pode mais usá-las? - indagou o curioso anjinho.
Cascatinha começou a chorar. Então a mulher barbada explicou:
- Olha menino, é que o Bolotinha acidentou-se aqui no circo e agora não pode mais fazer graça, o circo já não é mais o mesmo sem ele. Precisávamos mesmo de um substituto, porque as crianças que vêm aqui adoravam vê-lo em cena. Já faz um tempão que ele está deitadinho na cama, triste, amuado, desanimado da vida, e não temos mais esperanças de que ele volte ao picadeiro.
- Nossa! Que coisa triste. Gostaria muito de conhecê-lo.
- Você irá conhecê-lo na hora certa - disse o mágico - agora vamos preparar a apresentação de logo mais.
Então foram surgindo por trás das cortinas pesadas vários personagens interessantes do circo, o malabarista com suas bolinhas encantadas que jamais caiam, a contorcionista que cabia numa caixinha pequenininha, o trapezista com músculos de aço pendurava-se de ponta-cabeça, girava e saltava no ar, o mágico tirava coelhos lindos de sua cartola, a mulher barbada girava no ar pendurada por malhas coloridas, o palhaço Cascatinha arrancava risadas de todos ali presentes. E o nosso pequeno Astolfo ficou encantado pela atmosfera maravilhosa do circo, inebriado com tanta beleza, tantas cores e tanta alegria, ganhou o apelido carinhoso de palhaço Fumacinha e ficou decidido que participaria de vários quadros, penduraria-se no trapézio, andaria na corda-bamba que era sua especialidade, faria graça junto com o palhaço Cascatinha e até sairira de dentro da cartola do mágico em um número novo que eles inventaram só pra ele. Tudo parecia perfeito, até que Fumacinha percebeu uma sombra que espiava por traz da lona, um olhinho triste que acompanhava todo o ensaio, não teve dúvidas, era o palhaço Bolotinha e correu até lá:
- Bolotinha!
O palhacinho doente levou um susto, não esperava ser encontrado ali no seu esconderijo:
- Q-quem é você? - perguntou intrigado.
- Sou o palhaço Fumacinha e vim para...
- Não precisa me dizer... eu já sei, você veio para ficar no meu lugar, eu sei que não sirvo pra nada mais... depois que caí do trampolim, meus pezinhos ficaram tortos e já não posso mais andar direito, também estou bem doente, tenho febre e muita tristeza...
- Ei, espere Bolotinha, você não pode ficar revoltado assim, pois existe um Deus tão grande e tão bonito cuidando de você.
Bolotinha revoltado respondeu:
- Então porque Ele mandou você em vez de cuidar de mim?
- Mas ele cuida, amiguinho. Confie n´Ele. Me conte uma coisa: o que eu poderia fazer para te deixar feliz, Bolotinha? Quero ser seu amigo, quero que você confie em mim.
- Ah! Ninguém pode me fazer feliz, a única coisa que me deixaria realmente feliz seria voltar ao picadeiro, voltar a ser o palhaço Bolotinha de antes...
E Bolotinha saiu chateado com aquela conversa. Mas Fumacinha, nosso anjinho Astolfo, já tinha um plano.
Quando a noite chegou, o público lotou o auditório do circo, muitas crianças vinham de várias localidades para conhecer o novo palhacinho. As luzes finalmente se acenderam e o espetáculo começou com muita alegria. Era possível notar a felicidade das crianças encantadas com tanta arte e beleza. Fumacinha foi a principal atração da noite. Para a surpresa geral, no número mais difícil que apresentaria, nosso anjinho pediu para falar ao microfone, e deixou a plateia e os amigos do circo ainda mais intrigados quando disse com voz confiante:
- Convido aqui o meu amigo, o melhor palhaço que já houve nesse circo, o mais esperto, o mais inteligente e bonito, o palhaço Bolotinha para andar comigo na corda-bamba.
Ouviu-se um longo "Ohhhhhhhh" por parte dos presentes. Todos sabiam que Bolotinha não conseguiria, como poderia andar na corda-bamba com seus pezinhos tortos? E fraquinho como ele estava, não seria capaz. O mágico tentou impedir a loucura, mas Cascatinha, confiando em Deus deixou seu filhinho subir.
A plateia ficou enlouquecida, entre preocupados e confiantes, aplaudiam com entusiasmo o pequeno Bolotinha. E agora era possível perceber um brilho diferente em seu olhar, ele estava encantado e realmente feliz de estar ali, sentia-se útil e importante novamente. De mãos dadas com nosso anjinho Astolfo se deixou levar confiante pela corda-bamba que balançava calmamente sentindo o peso dos dois novos amigos. Bolotinha sorria muito, não cabia em si de tanta felicidade. De repente, algo inesperado aconteceu, a corda começou a sacudir rapidamente e os dois corriam o risco de cair lá do alto. Foi quando Bolotinha fechou os olhos e disse para Astolfo:
- Estou pronto, amiguinho!
E como mágica duas asas gigantes brotaram nas costas de Astolfo e a mesma coisa aconteceu com o palhaço Bolotinha, duas asas imensas sairam de suas costas e quando começaram a cair da corda-bamba, bateram suas asas lindas e passaram a sobrevoar a plateia emocionada com tanta beleza. Aquela foi a noite mais especial e linda que o circo jamais viu. Fumacinha e Bolotinha voltaram a ser anjinhos de Deus, e voaram para fazer suas traquinagem e malabarismos lá no céu, felizes e agradecidos ao grande Criador que os deu a chance de alegrar muitas crianças aqui na terra.
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Vida errante
Cyntia Pinheiro
Ontem, depois de quatro meses morando do outro lado da cidade, errei pela primeira vez o caminho de volta para casa. Só notei o tamanho da volta que eu havia dado quando, já chegando no apartamento em que vivemos por felizes sete anos, é que Samuel me acordou:
- Mãe, onde você tá indo?
Ops, era tarde. Agora teria que completar a volta na avenida toda pra retornar lá na frente e tomar o trajeto correto, rumo à "casa nova".
No caminho de volta, entre debochada e estupefata eu ria com o meu pequenino, achando graça da minha distração, mas enquanto isso, lá no fundo eu refletia sobre as voltas que a vida dá, ou as voltas que a gente dá na vida.
É bem conhecida a passagem bíblica em que Jesus, acolhendo Maria Madalena, profere as sábias palavras: "Atire a primeira pedra aquele que não tiver pecado". Quem nesse mundo é capaz de dizer que jamais cometeu algum engano?
Eu erro muito. Erro o tempo inteiro. Mas trago no peito uma certeza tão plena quanto aquela de quando eu dirigia para o antigo apartamento: eu erro querendo acertar. E trazendo isso para a linguagem do Direito: erro culposamente, sem dolo.
Penso que ninguém erra por dolo, mas descubro um segundo depois que não é bem assim, tal pensamento por si só consiste em um erro. Há pessoas nesse mundo que são mal intencionadas, cometem erro com total responsabilidade sobre ele, plenamente lúcidos do que fazem e sem o menor escrúpulo nem impulso inibidor.
Não é o meu caso. Definitivamente não é. Digo isso com toda a pureza do meu coração. Falho porque sou humana, cheia de defeitos, mas não tenho "aquela" maldade de fazer algo para prejudicar alguém ao bel prazer...
Em meus devaneios na volta para casa fiquei pensando ainda sobre a situação do planeta em que vivemos, da forma como vivemos e cheguei à conclusão de que deve existir nesse universo tão grande algum lugar melhor do que esse aqui. Onde os habitantes não careçam de armas para se defender, não precisem de muros para se esconder, não precisem de mentiras para vencer, não precisem se agredir.
Enfim, não havendo muito o que fazer por hora, vou continuar o meu caminho errando, falhando - especialmente com quem amo - mas querendo acertar a cada dia para um dia merecer um lugar melhor no futuro, onde eu não erre mais.
Ontem, depois de quatro meses morando do outro lado da cidade, errei pela primeira vez o caminho de volta para casa. Só notei o tamanho da volta que eu havia dado quando, já chegando no apartamento em que vivemos por felizes sete anos, é que Samuel me acordou:
- Mãe, onde você tá indo?
Ops, era tarde. Agora teria que completar a volta na avenida toda pra retornar lá na frente e tomar o trajeto correto, rumo à "casa nova".
No caminho de volta, entre debochada e estupefata eu ria com o meu pequenino, achando graça da minha distração, mas enquanto isso, lá no fundo eu refletia sobre as voltas que a vida dá, ou as voltas que a gente dá na vida.
É bem conhecida a passagem bíblica em que Jesus, acolhendo Maria Madalena, profere as sábias palavras: "Atire a primeira pedra aquele que não tiver pecado". Quem nesse mundo é capaz de dizer que jamais cometeu algum engano?
Eu erro muito. Erro o tempo inteiro. Mas trago no peito uma certeza tão plena quanto aquela de quando eu dirigia para o antigo apartamento: eu erro querendo acertar. E trazendo isso para a linguagem do Direito: erro culposamente, sem dolo.
Penso que ninguém erra por dolo, mas descubro um segundo depois que não é bem assim, tal pensamento por si só consiste em um erro. Há pessoas nesse mundo que são mal intencionadas, cometem erro com total responsabilidade sobre ele, plenamente lúcidos do que fazem e sem o menor escrúpulo nem impulso inibidor.
Não é o meu caso. Definitivamente não é. Digo isso com toda a pureza do meu coração. Falho porque sou humana, cheia de defeitos, mas não tenho "aquela" maldade de fazer algo para prejudicar alguém ao bel prazer...
Em meus devaneios na volta para casa fiquei pensando ainda sobre a situação do planeta em que vivemos, da forma como vivemos e cheguei à conclusão de que deve existir nesse universo tão grande algum lugar melhor do que esse aqui. Onde os habitantes não careçam de armas para se defender, não precisem de muros para se esconder, não precisem de mentiras para vencer, não precisem se agredir.
Enfim, não havendo muito o que fazer por hora, vou continuar o meu caminho errando, falhando - especialmente com quem amo - mas querendo acertar a cada dia para um dia merecer um lugar melhor no futuro, onde eu não erre mais.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Letras dos amigos
Esses dois versinhos me foram enviados por Damião Cordeiro,o Poeta do Acaso, achei de uma lindeza sem tamanho, que resolvi compartilhar com vocês, espiem só:
"Quem quiser plantar saudade
Escalde bem a semente
Plante num lugar bem seco
Onde o sol seja bem quente
Porque se plantar no molhado
Quando crescer mata a gente."
ANTÔNIO PEREIRA
"Aconselhado pelo poeta Antônio Pereira
Dele, à risca pus em prática a receita,
Fervi a semente em alta temperatura,
E pra não sentir o fel que viria em deleita
No Saara enterrei-a numa imensurável fundura,
Portanto, da saudade nenhuma colheita."
O POETA DO ACASO.
"Quem quiser plantar saudade
Escalde bem a semente
Plante num lugar bem seco
Onde o sol seja bem quente
Porque se plantar no molhado
Quando crescer mata a gente."
ANTÔNIO PEREIRA
"Aconselhado pelo poeta Antônio Pereira
Dele, à risca pus em prática a receita,
Fervi a semente em alta temperatura,
E pra não sentir o fel que viria em deleita
No Saara enterrei-a numa imensurável fundura,
Portanto, da saudade nenhuma colheita."
O POETA DO ACASO.
domingo, 11 de setembro de 2011
Carta ao Vinícius
Cyntia Pinheiro
Sinto um peixinho dando piruetas na minha barriga. É o Vinícius!
Esse menininho amado, que chegou de mansinho, sem alarde, quando ninguém esperava, e trouxe uma chuva de bênçãos e felicidade para a nossa vida!
Fico imaginando seu rostinho pequenino, será que vai ter o bocão da mãe ou os olhinhos cor de mel? Será que vai ter o cabelo pretinho do pai?
Estamos sonhando com o Vinícius que vai trazer uma grande mudança para a nossa rotina, para os nossos hábitos, para tudo o que está prontinho, cheio de regras, construído. Vinícius vem para desconstruir e refazer, vem para colorir, vem para animar, vem para trazer muito mais felicidade!
Será uma festa! Dois rapazes lindos em casa, aliás, dois não, três, porque o papai também conta. E a gente vai jogar bola juntos, vamos soltar pipa, tomar sorvete, cantar, dançar, fotografar, filmar, correr, cheirar, amar, amar, amar... tô até com pena desse pequeno, porque vou apertá-lo tanto, cheirá-lo tanto!
Querido filho, só peço a Deus que você venha com saúde, e tenha um coraçãozinho tão puro e bom quanto o do Samuel, disposto a ser educado no bem, na retidão, na fé Cristã, na caridade, enfim, que você também venha sob medida, porque se vamos ou não amar você? Nem preciso responder! Você já é um menino amado, desejado, bem-vindo, querido, abençoado!
Com todo amor,
Mamãe.
Sinto um peixinho dando piruetas na minha barriga. É o Vinícius!
Esse menininho amado, que chegou de mansinho, sem alarde, quando ninguém esperava, e trouxe uma chuva de bênçãos e felicidade para a nossa vida!
Fico imaginando seu rostinho pequenino, será que vai ter o bocão da mãe ou os olhinhos cor de mel? Será que vai ter o cabelo pretinho do pai?
Estamos sonhando com o Vinícius que vai trazer uma grande mudança para a nossa rotina, para os nossos hábitos, para tudo o que está prontinho, cheio de regras, construído. Vinícius vem para desconstruir e refazer, vem para colorir, vem para animar, vem para trazer muito mais felicidade!
Será uma festa! Dois rapazes lindos em casa, aliás, dois não, três, porque o papai também conta. E a gente vai jogar bola juntos, vamos soltar pipa, tomar sorvete, cantar, dançar, fotografar, filmar, correr, cheirar, amar, amar, amar... tô até com pena desse pequeno, porque vou apertá-lo tanto, cheirá-lo tanto!
Querido filho, só peço a Deus que você venha com saúde, e tenha um coraçãozinho tão puro e bom quanto o do Samuel, disposto a ser educado no bem, na retidão, na fé Cristã, na caridade, enfim, que você também venha sob medida, porque se vamos ou não amar você? Nem preciso responder! Você já é um menino amado, desejado, bem-vindo, querido, abençoado!
Com todo amor,
Mamãe.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
O enterro do João
Cyntia Pinheiro
Segue o corpo no caixão. Mortinho da Silva! O tal do João.
As alças de bronze reluzem ao sol forte da rua quente, meio-dia. Seis corajosos homens o carregam, solenes. Talvez sejam ali os únicos suficientemente parrudos, para aguentarem o peso de defunto misturado à quentura do inferno poeirento da rua.
Meninos alheios soltam pipa sorridentes na esquina, e deixam o brinquedo oscilando no vento, perdem um pouco da atenção observando o cortejo fúnebre, enquanto as velhas desdentadas entoam o "a nós descei divina luz", quase em forma de canto-chão.
A viúva num choro convulsivo é conduzida por um filho adulto, e o catarrentinho menor vai no colo da mais moça. O homem de branco se aproveita para enlaçar a jovem órfã sob seus braços peludos e empoeirados.
Passa um carro de som no cruzamento e ao microfone ouve-se: "galinhas gordas, galinhas sadias, dez reais, promoção do dia". Uma velha rechonchuda e de voz forte começa um canto diferente, quase geme para tirar o "avé-avé-avé-maria..." enquanto é seguida pelo sanfoneiro solitário e careca que se junta ao cortejo.
Já no cemitério o padre borrifa umas águas bentas no caixão aberto do defundo e encomenda a alma, e depois joga as águas também no povo que o assiste. A moça coloca o catarrentinho do chão e se joga sobre o pai gritando: "Levanta, pai!"
O povo se comove e chora, agora cada vez mais alto. A cantoria para. Só a gorda da vozona não chora, mas parece engasgada. O catarrentinho abraça a perna da mãe e pede pra mijar, ninguém ouve o menino. O caixão é fechado. A viúva grita e desmaia. É amparada pelo filho mais velho. O pequeno grita: "quero mijar, quero mijar", mas ninguém escuta o menino. O caixão desce à cova, a filha joga um punhado de terra e enfia a cara no resto do monte de terra que ficou no chão, descabelada e com a boca espumando grita cada vez mais alto: "Levanta, pai". Mas o defunto nem lhe dá ouvidos. A primeira pá de terra é jogada. Sobe um poeirão avermelhado, a velha gorda da voz grave espirra, a magrela da dentatura lacrimeja, e a segunda pá de terra é lançada sob protestos da filha estérica. A mãe continua desacordada. O desespero começa mais uma vez a tomar conta do lugar, todos com pena da filha desolada, mas antes que se lançasse a terceira pá de terra, um jato de água surge no nada. O catarrentinho sem pudores, põe o pinto pra fora e mija, no caixão do pai, e olha para a irmã que assiste a cena impressionada, balança a cabeça com um olharzinho inocente e fala: eu avisei.
Segue o corpo no caixão. Mortinho da Silva! O tal do João.
As alças de bronze reluzem ao sol forte da rua quente, meio-dia. Seis corajosos homens o carregam, solenes. Talvez sejam ali os únicos suficientemente parrudos, para aguentarem o peso de defunto misturado à quentura do inferno poeirento da rua.
Meninos alheios soltam pipa sorridentes na esquina, e deixam o brinquedo oscilando no vento, perdem um pouco da atenção observando o cortejo fúnebre, enquanto as velhas desdentadas entoam o "a nós descei divina luz", quase em forma de canto-chão.
A viúva num choro convulsivo é conduzida por um filho adulto, e o catarrentinho menor vai no colo da mais moça. O homem de branco se aproveita para enlaçar a jovem órfã sob seus braços peludos e empoeirados.
Passa um carro de som no cruzamento e ao microfone ouve-se: "galinhas gordas, galinhas sadias, dez reais, promoção do dia". Uma velha rechonchuda e de voz forte começa um canto diferente, quase geme para tirar o "avé-avé-avé-maria..." enquanto é seguida pelo sanfoneiro solitário e careca que se junta ao cortejo.
Já no cemitério o padre borrifa umas águas bentas no caixão aberto do defundo e encomenda a alma, e depois joga as águas também no povo que o assiste. A moça coloca o catarrentinho do chão e se joga sobre o pai gritando: "Levanta, pai!"
O povo se comove e chora, agora cada vez mais alto. A cantoria para. Só a gorda da vozona não chora, mas parece engasgada. O catarrentinho abraça a perna da mãe e pede pra mijar, ninguém ouve o menino. O caixão é fechado. A viúva grita e desmaia. É amparada pelo filho mais velho. O pequeno grita: "quero mijar, quero mijar", mas ninguém escuta o menino. O caixão desce à cova, a filha joga um punhado de terra e enfia a cara no resto do monte de terra que ficou no chão, descabelada e com a boca espumando grita cada vez mais alto: "Levanta, pai". Mas o defunto nem lhe dá ouvidos. A primeira pá de terra é jogada. Sobe um poeirão avermelhado, a velha gorda da voz grave espirra, a magrela da dentatura lacrimeja, e a segunda pá de terra é lançada sob protestos da filha estérica. A mãe continua desacordada. O desespero começa mais uma vez a tomar conta do lugar, todos com pena da filha desolada, mas antes que se lançasse a terceira pá de terra, um jato de água surge no nada. O catarrentinho sem pudores, põe o pinto pra fora e mija, no caixão do pai, e olha para a irmã que assiste a cena impressionada, balança a cabeça com um olharzinho inocente e fala: eu avisei.
Amor pequenino
Cyntia Pinheiro
Amor não há maior
Que o pequenino.
Fruto de si mesma
Gerado dentro.
Feito pedaço da gente
Feito outra gente.
Da gente.
Amor maior que esse
Só Deus sabe dizer se tem.
E se tem é porque vem do próprio Deus!
Amor não há maior
Que o pequenino.
Fruto de si mesma
Gerado dentro.
Feito pedaço da gente
Feito outra gente.
Da gente.
Amor maior que esse
Só Deus sabe dizer se tem.
E se tem é porque vem do próprio Deus!
O selo do amor
Cyntia Pinheiro
Teu olhar grava em meu corpo
O selo de tua paixão
Os graves desejos secretos
Dos dias de solidão.
Feito flor desabrochada
Aberto o peito e a ternura
Das noites fortes e belas
Da entrega de toda candura.
O amor feito carne
Devolvendo o selo da mão
Sangrando o alvoroçar da noite
Em suave despertar de clarão.
E a brisa empalidece os cabelos
Umedecidos da chaga estampada
Querendo mais de teu corpo
Enquanto houver madrugada.
O corpo é pouco para a noite
E a noite é refresco ao desejo
Lentamente se refaz a calma
Na doce entrega do beijo.
O selo gravado está
Para sempre o amor verdadeiro
No seio o fruto querido
E a doce lembrança do outeiro.
O amor se expressa na alma
E no corpo se faz companheiro
O sentimento explode em cantigas
Do desejo de ser tua por inteiro.
Teu olhar grava em meu corpo
O selo de tua paixão
Os graves desejos secretos
Dos dias de solidão.
Feito flor desabrochada
Aberto o peito e a ternura
Das noites fortes e belas
Da entrega de toda candura.
O amor feito carne
Devolvendo o selo da mão
Sangrando o alvoroçar da noite
Em suave despertar de clarão.
E a brisa empalidece os cabelos
Umedecidos da chaga estampada
Querendo mais de teu corpo
Enquanto houver madrugada.
O corpo é pouco para a noite
E a noite é refresco ao desejo
Lentamente se refaz a calma
Na doce entrega do beijo.
O selo gravado está
Para sempre o amor verdadeiro
No seio o fruto querido
E a doce lembrança do outeiro.
O amor se expressa na alma
E no corpo se faz companheiro
O sentimento explode em cantigas
Do desejo de ser tua por inteiro.
Deus pequenino
Cyntia Pinheiro
No ser pequenino eu vejo
A grandeza de Deus ao meu lado
Seu fôlego de brisa me beija
Com a força da pluma e do raio.
Seu amor cristalino irradia
A luz da manhã renascida
Como a pluma serena que voa
E a força do sol que suscita.
Viver é um rio de delícias
Doce martírio e nostalgia
Reconhecendo Deus pequenino
Na força do olhar do menino.
No ser pequenino eu vejo
A grandeza de Deus ao meu lado
Seu fôlego de brisa me beija
Com a força da pluma e do raio.
Seu amor cristalino irradia
A luz da manhã renascida
Como a pluma serena que voa
E a força do sol que suscita.
Viver é um rio de delícias
Doce martírio e nostalgia
Reconhecendo Deus pequenino
Na força do olhar do menino.
Inspiração
Cyntia Pinheiro
Flutuar é imensa virtude
Nas letras fluidas que amiúde surgem
Na vasta mata das ideias mudas
Lambendo os cabelos das árvores rudes.
Flutuar é imensa virtude
Nas letras fluidas que amiúde surgem
Na vasta mata das ideias mudas
Lambendo os cabelos das árvores rudes.
Mil tempos
Cyntia Pinheiro
Mil tempos são mil minutos
Mil dias, mil eras antigas
Mil tempos são mil ternuras
São doces verões e cantigas.
De mil em mil tempos refaço
A vida das vidas e vidas
Nascendo, vivendo e morrendo
Em mil aventuras aguerridas.
Mil tempos são mil minutos
Mil dias, mil eras antigas
Mil tempos são mil ternuras
São doces verões e cantigas.
De mil em mil tempos refaço
A vida das vidas e vidas
Nascendo, vivendo e morrendo
Em mil aventuras aguerridas.
Amálgama
Cyntia Pinheiro
Na severa lembrança de ontem
A gota da lágrima amarga
Belo e triste poema
Prisma refletido em amálgama
Na cor violeta da noite
Incandescente rubor de aurora
Descortina na vida a morte
E faz da certeza a demora
Doída chaga de Cristo
No coração que reclama
A saudade de um tempo vivido
Partindo um coração que ainda ama.
01/09/2011
Na severa lembrança de ontem
A gota da lágrima amarga
Belo e triste poema
Prisma refletido em amálgama
Na cor violeta da noite
Incandescente rubor de aurora
Descortina na vida a morte
E faz da certeza a demora
Doída chaga de Cristo
No coração que reclama
A saudade de um tempo vivido
Partindo um coração que ainda ama.
01/09/2011
sábado, 27 de agosto de 2011
Experiências Pregressas
Sou espírita. Com fé e convicção.
Encontrei na Doutrina Kardecista Cristã o remédio que minha alma precisava. Mas não sou assídua como gostaria, nem dedicada tanto quanto necessito. Procuro apenas vivenciar dia após dia a filosofia que tenho aprendido, trazendo para a minha rotina as melhores e mais eloquentes experiências espirituais que a graça suprema de Deus me tem concedido.
No entanto, me surpreendo diariamente com essa presença iluminada que Deus trouxe ao meu convívio nessa existência. Samuel me ensina coisas riquíssimas que religião nenhuma seria capaz de ensinar-me. Demonstra ser um espírito evoluído. Fala sobre a reencarnação com uma naturalidade peculiar, hoje disse algo mais ou menos assim:
- Mãe, antes eu tava morrido, depois eu virei um anjinho, morei no céu com Jesus um tempo e depois voltei. É assim, mãe, assim mesmo, a gente morre, vira anjo e depois a gente volta e vive de novo. Você também vai morrer, depois vai nascer de novo, papai também, todo mundo... E depois a gente faz tudo outra vez, faz outra casa, compra outras coisas, vive outra vez... (e insistia) é assim mãe, assim mesmo!
Eu perguntei:
- Sam, e antes de você estar morrido, quem você era?
- Mãe, eu já falei, era um anjinho, no céu.
- Nâo filho, antes de virar anjinho, antes de morrer, você se lembra de quem você era?
- Mãe, eu era eu mesmo. Só que eu tava morrido, entendeu? Agora eu vivi outra vez. Só isso, e acabou a história.
Encontrei na Doutrina Kardecista Cristã o remédio que minha alma precisava. Mas não sou assídua como gostaria, nem dedicada tanto quanto necessito. Procuro apenas vivenciar dia após dia a filosofia que tenho aprendido, trazendo para a minha rotina as melhores e mais eloquentes experiências espirituais que a graça suprema de Deus me tem concedido.
No entanto, me surpreendo diariamente com essa presença iluminada que Deus trouxe ao meu convívio nessa existência. Samuel me ensina coisas riquíssimas que religião nenhuma seria capaz de ensinar-me. Demonstra ser um espírito evoluído. Fala sobre a reencarnação com uma naturalidade peculiar, hoje disse algo mais ou menos assim:
- Mãe, antes eu tava morrido, depois eu virei um anjinho, morei no céu com Jesus um tempo e depois voltei. É assim, mãe, assim mesmo, a gente morre, vira anjo e depois a gente volta e vive de novo. Você também vai morrer, depois vai nascer de novo, papai também, todo mundo... E depois a gente faz tudo outra vez, faz outra casa, compra outras coisas, vive outra vez... (e insistia) é assim mãe, assim mesmo!
Eu perguntei:
- Sam, e antes de você estar morrido, quem você era?
- Mãe, eu já falei, era um anjinho, no céu.
- Nâo filho, antes de virar anjinho, antes de morrer, você se lembra de quem você era?
- Mãe, eu era eu mesmo. Só que eu tava morrido, entendeu? Agora eu vivi outra vez. Só isso, e acabou a história.
Um coisa que Samuel adora
" (Samuel fala quase suspirando):
- Ai mãe, tem uma coisa que eu adoro...
- O quê, filho?
- Ai mãe, eu adoro esse amor...
- Que amor, meu bem?
- Esse amor que a gente tem."
Fico pensando que é impossível ser infeliz quando se tem uma coisinha linda como essa em casa! Obrigada, meu Deus!
- Ai mãe, tem uma coisa que eu adoro...
- O quê, filho?
- Ai mãe, eu adoro esse amor...
- Que amor, meu bem?
- Esse amor que a gente tem."
Fico pensando que é impossível ser infeliz quando se tem uma coisinha linda como essa em casa! Obrigada, meu Deus!
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Mais um dia para ser lindo!
Cyntia Pinheiro
Hoje pela manhã acordei o meu pequeno Samuel e o apressei para o café, pois ele tinha uma consulta marcada com seu endocrinologista, que é quem acompanha o seu crescimento há cerca de um ano.
Comemos rapidinho e fomos para o consultório como fazemos habitualmente a cada três meses. Hoje foi a nossa primeira consulta pela manhã, sempre prefiro mais próximo do pôr-do-sol para que possamos ir em família, mas dessa vez não foi possível e o papai não pôde estar conosco.
Depois do habitual cadastro e do “desagradável” pagamento pela consulta (já que temos plano de saúde, mas o médico se descredenciou), nos sentamos para aguardar nossa vez.
Samuel sempre observa flores novas no jardim do consultório e sempre vai até lá colher uma miudinha para mim e outra para ele, e temos que passar o tempo todo com as flores pequenininhas nas mãos, até que ele se esqueça delas. Por mais que eu explique que a flor é mais contente quando fica em família, lá no jardim, enfeitando a rua, ele insiste em me fazer essa gentileza, e eu não tenho condições de impedi-lo, pois sou romântica e adoro receber flores.
Bem, sentamo-nos em uma única poltrona, pois não havia mais lugares vagos. Ao meu lado estava uma jovem senhora rechonchuda e muito simpática que logo foi puxando assunto. À direita, um pouco mais à frente, duas outras senhoras conversavam animadamente e ao lado delas estava um velhinho com olhar terno de mãos dadas com uma velhinha que estava sentada em uma cadeira de rodas. Esse casal logo despertou a nossa atenção, pois a senhora estava agitada, sorria muito e balbuciava alguns pedaços de palavras, como quem tentasse se expressar desesperadamente e não conseguisse.
Sua atenção estava toda voltada para Samuel, ela dava pequenos gritinhos, de alegria, empolgação e entusiasmo. Parecia fascinada por ele. Sorria sem parar em pequenas e sonoras sílabas soltas, meio sem sentido, mas que demonstravam com nitidez a sua alegria em ver uma criança. Meu pequeno portava um balão que ganhou na rua ontem, e logo o senhor que acompanhava a alegre velhinha o chamou para jogarem, trocaram alguns tapas no balão e deram boas gargalhadas. A cada tapa que o velhinho ou Samuel davam no balão, a simpática senhora se entusiasmava mais, estava encantada com a brincadeira, mas eu não achei aquilo muito prudente, fiquei receosa de incomodar as pessoas, ou temi que algo se quebrasse, então não deixei que a brincadeira continuasse.
Logo o simpático velhinho, que a cada minuto acariciava sua companheira, me explicou que há cerca de um ano ela sofreu AVC, e não podia mais conversar, estava impossibilitada de várias funções, mas por mais que ele não houvesse dito isso, percebia-se que ela não perdera a vontade de viver e a alegria dela era contagiante. Trocavam olhares e adulações que demonstravam um carinho infinito, de uma vida inteira de companheirismo e afeto.
Em um momento, a empolgada velhinha olhou para o meu menino com toda ternura, levou as mãozinhas trêmulas até os lábios e jogou para ele um beijo solto no vento. Imediatamente pedi:
- Meu amor, jogue um beijinho pra ela também.
Mas ele foi seco:
- Não.
Então insisti:
- Por que você não dá sua florzinha pra ela, filho?
Ele apenas disse:
- Não.
Levantou-se em seguida e saiu da sala. A senhora sorriu, e eu fiquei tentando imaginar o que o meu pequeno estava pretendendo fazer. Para a surpresa geral, o meu menino retornou trazendo uma florzinha pequenina e foi direto entrega-la, espontaneamente, àquela linda e sorridente senhora de rostinho sofrido, enrugado, de cabelos branquinhos como plumas de algodão. A surpresa foi geral.
A emoção tomou conta de todos os que ali estavam e presenciaram a cena. Ela sorria e dava gritinhos de emoção, enquanto as lágrimas escorriam de seus olhinhos apertados, dava beijinhos repetidos na singela florzinha com tanta sofreguidão, que não houve ninguém ali que não se emocionasse. Até Samuel ficou com os olhinhos cheios de lágrima, que enxugava por baixo dos óculos e dizia:
- Mamãe, eu adorei!
Agora era a vez do meu menino se emocionar, ele dava gargalhadinhas de felicidade e repetia:
- Adorei, mãe!
Eu também adorei, filho. Meu coração ficou grandão naquela hora, tanto que parecia que ia explodir, e até agora enquanto escrevo fico emocionada. Foi lindo demais! Fiquei tão orgulhosa de você, fiquei tão feliz por ver aquela pessoinha tão frágil, tão sofrida, tão amável emocionar-se por um gesto tão simples, por causa de uma florzinha de meio centímetro, irrelevante para tanta gente, mas que mudou meu dia e com toda a certeza, mudou o dia de todas as pessoas que ali estavam.
São nos pequenos gestos que descobrimos as coisas mais lindas da vida, como por exemplo, o quão emocionante é viver, na infância e na velhice, com verdade e emoção.
08/08/2011
Hoje pela manhã acordei o meu pequeno Samuel e o apressei para o café, pois ele tinha uma consulta marcada com seu endocrinologista, que é quem acompanha o seu crescimento há cerca de um ano.
Comemos rapidinho e fomos para o consultório como fazemos habitualmente a cada três meses. Hoje foi a nossa primeira consulta pela manhã, sempre prefiro mais próximo do pôr-do-sol para que possamos ir em família, mas dessa vez não foi possível e o papai não pôde estar conosco.
Depois do habitual cadastro e do “desagradável” pagamento pela consulta (já que temos plano de saúde, mas o médico se descredenciou), nos sentamos para aguardar nossa vez.
Samuel sempre observa flores novas no jardim do consultório e sempre vai até lá colher uma miudinha para mim e outra para ele, e temos que passar o tempo todo com as flores pequenininhas nas mãos, até que ele se esqueça delas. Por mais que eu explique que a flor é mais contente quando fica em família, lá no jardim, enfeitando a rua, ele insiste em me fazer essa gentileza, e eu não tenho condições de impedi-lo, pois sou romântica e adoro receber flores.
Bem, sentamo-nos em uma única poltrona, pois não havia mais lugares vagos. Ao meu lado estava uma jovem senhora rechonchuda e muito simpática que logo foi puxando assunto. À direita, um pouco mais à frente, duas outras senhoras conversavam animadamente e ao lado delas estava um velhinho com olhar terno de mãos dadas com uma velhinha que estava sentada em uma cadeira de rodas. Esse casal logo despertou a nossa atenção, pois a senhora estava agitada, sorria muito e balbuciava alguns pedaços de palavras, como quem tentasse se expressar desesperadamente e não conseguisse.
Sua atenção estava toda voltada para Samuel, ela dava pequenos gritinhos, de alegria, empolgação e entusiasmo. Parecia fascinada por ele. Sorria sem parar em pequenas e sonoras sílabas soltas, meio sem sentido, mas que demonstravam com nitidez a sua alegria em ver uma criança. Meu pequeno portava um balão que ganhou na rua ontem, e logo o senhor que acompanhava a alegre velhinha o chamou para jogarem, trocaram alguns tapas no balão e deram boas gargalhadas. A cada tapa que o velhinho ou Samuel davam no balão, a simpática senhora se entusiasmava mais, estava encantada com a brincadeira, mas eu não achei aquilo muito prudente, fiquei receosa de incomodar as pessoas, ou temi que algo se quebrasse, então não deixei que a brincadeira continuasse.
Logo o simpático velhinho, que a cada minuto acariciava sua companheira, me explicou que há cerca de um ano ela sofreu AVC, e não podia mais conversar, estava impossibilitada de várias funções, mas por mais que ele não houvesse dito isso, percebia-se que ela não perdera a vontade de viver e a alegria dela era contagiante. Trocavam olhares e adulações que demonstravam um carinho infinito, de uma vida inteira de companheirismo e afeto.
Em um momento, a empolgada velhinha olhou para o meu menino com toda ternura, levou as mãozinhas trêmulas até os lábios e jogou para ele um beijo solto no vento. Imediatamente pedi:
- Meu amor, jogue um beijinho pra ela também.
Mas ele foi seco:
- Não.
Então insisti:
- Por que você não dá sua florzinha pra ela, filho?
Ele apenas disse:
- Não.
Levantou-se em seguida e saiu da sala. A senhora sorriu, e eu fiquei tentando imaginar o que o meu pequeno estava pretendendo fazer. Para a surpresa geral, o meu menino retornou trazendo uma florzinha pequenina e foi direto entrega-la, espontaneamente, àquela linda e sorridente senhora de rostinho sofrido, enrugado, de cabelos branquinhos como plumas de algodão. A surpresa foi geral.
A emoção tomou conta de todos os que ali estavam e presenciaram a cena. Ela sorria e dava gritinhos de emoção, enquanto as lágrimas escorriam de seus olhinhos apertados, dava beijinhos repetidos na singela florzinha com tanta sofreguidão, que não houve ninguém ali que não se emocionasse. Até Samuel ficou com os olhinhos cheios de lágrima, que enxugava por baixo dos óculos e dizia:
- Mamãe, eu adorei!
Agora era a vez do meu menino se emocionar, ele dava gargalhadinhas de felicidade e repetia:
- Adorei, mãe!
Eu também adorei, filho. Meu coração ficou grandão naquela hora, tanto que parecia que ia explodir, e até agora enquanto escrevo fico emocionada. Foi lindo demais! Fiquei tão orgulhosa de você, fiquei tão feliz por ver aquela pessoinha tão frágil, tão sofrida, tão amável emocionar-se por um gesto tão simples, por causa de uma florzinha de meio centímetro, irrelevante para tanta gente, mas que mudou meu dia e com toda a certeza, mudou o dia de todas as pessoas que ali estavam.
São nos pequenos gestos que descobrimos as coisas mais lindas da vida, como por exemplo, o quão emocionante é viver, na infância e na velhice, com verdade e emoção.
08/08/2011
segunda-feira, 4 de julho de 2011
sexta-feira, 3 de junho de 2011
quinta-feira, 31 de março de 2011
O casamento da Vivi
A Vivi vai se casar! E daí o quê que tem?
Bem, é melhor eu começar contando o que não tem: não tem vestido de porta-bandeira, não tem pajem, não tem dama de honra, nem marcha nupcial, nem bombons saborosos na porta da igreja, ah! nem igreja!
É porque a Vivi, antes Barbosa, agora Donner, é muito moderna. E sempre foi moderna assim. Exótica, diferente, culta, linda, explosiva, especialmente quando se trata de gargalhadas, e ainda consegue ser a melhor amiga do mundo! Tenho saborosas recordações dos nossos tempos de amigas inseparáveis, e digo toda orgulhosa que o mais eficiente que o destino conseguiu foi nos separar geograficamente, porque o resto continua (quase) igual.
O "quase" é porque os caminhos que escolhemos trilhar foram beeeeem diferentes, eu me casei, tive filho, ela continua livre, leve e solta... mas é por pouco tempo!
Ela é uma menina super inteligente que já leu o Mahabharata várias vezes, sabe tudo de cultura, religião e filosofia indianas, já fez gnose e se retirou para um mosteiro zen-budista quando se sentiu energeticamente fraca. Já manipulou energia, estudou magia, meditação e fez mechas azuis no cabelo. Aprendeu inglês cantando e aprendeu a cantar brincando. O palco sempre foi a sua casa, gosta das luzes, dos aplausos e dos holofotes. Discute sobre qualquer assunto com uma propriedade de especialista e não se intimida por nada.
Um dia essa menina me falou assim: "Cindy (é como ela me chama até hoje), eu vou embora, Montes Claros está pequena demais para mim!" Uma semana depois já tinha vendido tudo, largado o emprego, namorado, amigos e partia para a capital, foi buscar a realização pessoal e musical com que tanto sonhava.
Sabe tudo de jazz, blues, belting e técnicas de pintura. É exímia artesã de fantoches, e especialista em contar histórias infantis. Canta como ninguém e ainda sabe cozinhar. Sua comida antigamente eram pedrinhas de gelo sobrepostas aquecidas no microondas, e ficava uma delícia - ela é capaz de jurar!
Seus olhos gigantescos parecem duas pedras de ônix, e seus cabelos que ela demorou anos para cortar ficaram lindos imitando desenho de anime japonês.
Viviane é um figura! Entende de runas, tarô, reiki e tem fascínio pela Índia, se diz até portadora de um verdor característico na pele. Sabe tudo sobre cristais, florais e cromoterapia. Conhece cada chacra (ou xacra) do corpo humano e sabe de qual cuidar quando se tem algum problema de saúde. Sua kundalini é radiante!
Shiva e Ganesha eram seu cartão de visita pintados em um bom tamanho na parede do seu quarto. Agni sempre lhe fascinou, assim como o fogo, Viviane é praticamente um Nero!
Eu não seria capaz de descrever a metade das coisas que ela cultiva em sua sabedoria milenar, de processos reencarnatórios absolutamente proveitosos, porque não tenho nem vocabulário para tanto.
Pois então, é dessa pessoa que estou falando, assim fica fácil entender porque se casar com a Vivi é algo muito mais do que importante, ou melhor, o casamento da Vivi é algo no mínimo inusitado, porque ela é uma pessoa ímpar que jamais se viu prisioneira de cárcere algum, nem mesmo do amor! Ela não é do tipo que sempre esperou pelo príncipe encantado montado em um cavalo branco, muito provavelmente esperaria por um motoqueiro cabeludo com uma guitarra nas costas. Ela jamais escolheria por parceiro um cara com nome no diminutivo, não dá pra ser Rodrigo ou Diguinho, tem mesmo que ser o DIGÃO. Um cara capaz de cuidar com zelo dessa jóia rara, e eu, na qualidade de irmã por opção e por seleção natural me sinto no direito de ordenar: Digão, cuida bem dessa "amolite"... essa é uma jóia rara, não é pra qualquer um e ela escolheu você.
Desejo a vocês a plena felicidade! O amor companheiro! A alegria sempre renovada e a força de desejarem sempre estar juntos!
Com todo amor,
Cyntia Cybelle Pinheiro - Barbosa (esse último pra ficar mais irmã ainda da Vivi)
Bem, é melhor eu começar contando o que não tem: não tem vestido de porta-bandeira, não tem pajem, não tem dama de honra, nem marcha nupcial, nem bombons saborosos na porta da igreja, ah! nem igreja!
É porque a Vivi, antes Barbosa, agora Donner, é muito moderna. E sempre foi moderna assim. Exótica, diferente, culta, linda, explosiva, especialmente quando se trata de gargalhadas, e ainda consegue ser a melhor amiga do mundo! Tenho saborosas recordações dos nossos tempos de amigas inseparáveis, e digo toda orgulhosa que o mais eficiente que o destino conseguiu foi nos separar geograficamente, porque o resto continua (quase) igual.
O "quase" é porque os caminhos que escolhemos trilhar foram beeeeem diferentes, eu me casei, tive filho, ela continua livre, leve e solta... mas é por pouco tempo!
Ela é uma menina super inteligente que já leu o Mahabharata várias vezes, sabe tudo de cultura, religião e filosofia indianas, já fez gnose e se retirou para um mosteiro zen-budista quando se sentiu energeticamente fraca. Já manipulou energia, estudou magia, meditação e fez mechas azuis no cabelo. Aprendeu inglês cantando e aprendeu a cantar brincando. O palco sempre foi a sua casa, gosta das luzes, dos aplausos e dos holofotes. Discute sobre qualquer assunto com uma propriedade de especialista e não se intimida por nada.
Um dia essa menina me falou assim: "Cindy (é como ela me chama até hoje), eu vou embora, Montes Claros está pequena demais para mim!" Uma semana depois já tinha vendido tudo, largado o emprego, namorado, amigos e partia para a capital, foi buscar a realização pessoal e musical com que tanto sonhava.
Sabe tudo de jazz, blues, belting e técnicas de pintura. É exímia artesã de fantoches, e especialista em contar histórias infantis. Canta como ninguém e ainda sabe cozinhar. Sua comida antigamente eram pedrinhas de gelo sobrepostas aquecidas no microondas, e ficava uma delícia - ela é capaz de jurar!
Seus olhos gigantescos parecem duas pedras de ônix, e seus cabelos que ela demorou anos para cortar ficaram lindos imitando desenho de anime japonês.
Viviane é um figura! Entende de runas, tarô, reiki e tem fascínio pela Índia, se diz até portadora de um verdor característico na pele. Sabe tudo sobre cristais, florais e cromoterapia. Conhece cada chacra (ou xacra) do corpo humano e sabe de qual cuidar quando se tem algum problema de saúde. Sua kundalini é radiante!
Shiva e Ganesha eram seu cartão de visita pintados em um bom tamanho na parede do seu quarto. Agni sempre lhe fascinou, assim como o fogo, Viviane é praticamente um Nero!
Eu não seria capaz de descrever a metade das coisas que ela cultiva em sua sabedoria milenar, de processos reencarnatórios absolutamente proveitosos, porque não tenho nem vocabulário para tanto.
Pois então, é dessa pessoa que estou falando, assim fica fácil entender porque se casar com a Vivi é algo muito mais do que importante, ou melhor, o casamento da Vivi é algo no mínimo inusitado, porque ela é uma pessoa ímpar que jamais se viu prisioneira de cárcere algum, nem mesmo do amor! Ela não é do tipo que sempre esperou pelo príncipe encantado montado em um cavalo branco, muito provavelmente esperaria por um motoqueiro cabeludo com uma guitarra nas costas. Ela jamais escolheria por parceiro um cara com nome no diminutivo, não dá pra ser Rodrigo ou Diguinho, tem mesmo que ser o DIGÃO. Um cara capaz de cuidar com zelo dessa jóia rara, e eu, na qualidade de irmã por opção e por seleção natural me sinto no direito de ordenar: Digão, cuida bem dessa "amolite"... essa é uma jóia rara, não é pra qualquer um e ela escolheu você.
Desejo a vocês a plena felicidade! O amor companheiro! A alegria sempre renovada e a força de desejarem sempre estar juntos!
Com todo amor,
Cyntia Cybelle Pinheiro - Barbosa (esse último pra ficar mais irmã ainda da Vivi)
domingo, 20 de março de 2011
Flávia
Cyntia Pinheiro
Eu estava agora mesmo pensando no tamanho do amor de Deus por mim.
Concluí que Deus tem por mim um amor infinito, incomensurável, intangível, inimaginável.
Deus me ama tanto que me deu uma família maravilhosa, um filho precioso, um trabalho adequado, oportunidades justas, excelentes amigos, várias habilidades, alguns talentos e incontáveis surpresas deliciosas em minha passagem pelo planeta.
Devo mesmo ser grata a Deus! E sou, muito grata por tudo o que Ele, na sua graça e infinita misericórdia, me tem dado!
Uma das coisas mais belas que conquistei nesses trinta e três anos habitando este corpo foram as amizades verdadeiras. Alguns dizem que se ao longo da vida se conseguir o equivalente aos dedos de uma mão em amizades verdadeiras o sujeito pode considerar-se rico. Francamente, ter apenas cinco amigos verdadeiros é pobreza demais! Eu, nesse aspecto, considero-me milionária. Tenho muito mais do que isso, graças a Deus!
Hoje, em especial, preciso falar de Flávia. Essa menina que além de me conceder a felicidade de sua companhia no ambiente de trabalho, me deu uma nova profissão, me deu oportunidades, me deu presentes lindos, me permitiu ser tia dos seus filhos, aceitou ser tia do meu, está sempre pensando em mim, sempre pronta a me dar a mão, jamais se esquece de mim em suas orações, insistiu (e olha que é difícil) em me aceitar como sou, apesar de todas as mazelas e defeitos que tenho, veio morar perto de mim (apesar de quase não me visitar, hehe)... Enfim, Flávia é uma amizade inteira, talvez a mais inteira de todas as minhas amizades, é alguém que me faz sentir amada, querida, me faz sentir totalmente importante e especial como jamais me senti. Flávia é alguém cujo assunto não acaba, cuja companhia não cansa, cujo jeitinho meigo fascina. É uma pessoa que sempre contribui sem ferir, sempre diz o que precisa dizer com muito tato, incapaz de ofender, magoar, aborrecer... É alguém que quer me ver voando alto, quer me ver feliz, grande, prosperando e desse modo está sempre torcendo por mim, SEMPRE! Vejo isso em seus olhos, quando ela diz: "Que Deus abençoe suas mãos, minha amiga!"
Então, amiga, o que posso dizer a você, senão desejar que Deus derrame todas as bênções do universo em sua casa, em sua vida, em suas mãos habilidosas, em seu casamento? O que posso dizer a você além de: "Cuide-se, porque eu te quero sempre por perto"? O que posso dizer, minha querida? O que posso desejar?
Meu coração explode de alegria por ter você em minha vida, você é mais que uma amiga, uma irmã. Você é a materialização da bênção de Deus!
Desejo apenas ser capaz de retribuir por tudo isso. Pois você merece tudo de melhor!
Obrigada por ter decidido permanecer comigo.
Com todo amor,
Cyntia.
Eu estava agora mesmo pensando no tamanho do amor de Deus por mim.
Concluí que Deus tem por mim um amor infinito, incomensurável, intangível, inimaginável.
Deus me ama tanto que me deu uma família maravilhosa, um filho precioso, um trabalho adequado, oportunidades justas, excelentes amigos, várias habilidades, alguns talentos e incontáveis surpresas deliciosas em minha passagem pelo planeta.
Devo mesmo ser grata a Deus! E sou, muito grata por tudo o que Ele, na sua graça e infinita misericórdia, me tem dado!
Uma das coisas mais belas que conquistei nesses trinta e três anos habitando este corpo foram as amizades verdadeiras. Alguns dizem que se ao longo da vida se conseguir o equivalente aos dedos de uma mão em amizades verdadeiras o sujeito pode considerar-se rico. Francamente, ter apenas cinco amigos verdadeiros é pobreza demais! Eu, nesse aspecto, considero-me milionária. Tenho muito mais do que isso, graças a Deus!
Hoje, em especial, preciso falar de Flávia. Essa menina que além de me conceder a felicidade de sua companhia no ambiente de trabalho, me deu uma nova profissão, me deu oportunidades, me deu presentes lindos, me permitiu ser tia dos seus filhos, aceitou ser tia do meu, está sempre pensando em mim, sempre pronta a me dar a mão, jamais se esquece de mim em suas orações, insistiu (e olha que é difícil) em me aceitar como sou, apesar de todas as mazelas e defeitos que tenho, veio morar perto de mim (apesar de quase não me visitar, hehe)... Enfim, Flávia é uma amizade inteira, talvez a mais inteira de todas as minhas amizades, é alguém que me faz sentir amada, querida, me faz sentir totalmente importante e especial como jamais me senti. Flávia é alguém cujo assunto não acaba, cuja companhia não cansa, cujo jeitinho meigo fascina. É uma pessoa que sempre contribui sem ferir, sempre diz o que precisa dizer com muito tato, incapaz de ofender, magoar, aborrecer... É alguém que quer me ver voando alto, quer me ver feliz, grande, prosperando e desse modo está sempre torcendo por mim, SEMPRE! Vejo isso em seus olhos, quando ela diz: "Que Deus abençoe suas mãos, minha amiga!"
Então, amiga, o que posso dizer a você, senão desejar que Deus derrame todas as bênções do universo em sua casa, em sua vida, em suas mãos habilidosas, em seu casamento? O que posso dizer a você além de: "Cuide-se, porque eu te quero sempre por perto"? O que posso dizer, minha querida? O que posso desejar?
Meu coração explode de alegria por ter você em minha vida, você é mais que uma amiga, uma irmã. Você é a materialização da bênção de Deus!
Desejo apenas ser capaz de retribuir por tudo isso. Pois você merece tudo de melhor!
Obrigada por ter decidido permanecer comigo.
Com todo amor,
Cyntia.
domingo, 13 de março de 2011
Meu aniversário!
Neste 13 de março, 33 janeiros me cumprimentam.
E sou feliz por uma só coisa que vale por todas:
A bênção de ter uma família, e todos os dias ter dois anjos para me aconchegarem.
Ainda que isso me custe a inspiração, que sempre desaparece quando estou feliz!
Aniversário (Palavra Cantada)
"Hoje eu sinto que cresci bastante (mentira)
Hoje eu sinto que estou muito grande (mentira outra vez)
Sinto mesmo que sou um gigante (piada)
Do tamanho de um elefante (ainda mais com esse corpitcho)
É que hoje é meu aniversário (isso é verdade)
E quando chega meu aniversário
Eu me sinto bem maior, bem maior, bem maior, bem maior do que eu era antes (na graça de Deus, eu me sinto mesmo)"
E sou feliz por uma só coisa que vale por todas:
A bênção de ter uma família, e todos os dias ter dois anjos para me aconchegarem.
Ainda que isso me custe a inspiração, que sempre desaparece quando estou feliz!
Aniversário (Palavra Cantada)
"Hoje eu sinto que cresci bastante (mentira)
Hoje eu sinto que estou muito grande (mentira outra vez)
Sinto mesmo que sou um gigante (piada)
Do tamanho de um elefante (ainda mais com esse corpitcho)
É que hoje é meu aniversário (isso é verdade)
E quando chega meu aniversário
Eu me sinto bem maior, bem maior, bem maior, bem maior do que eu era antes (na graça de Deus, eu me sinto mesmo)"
quarta-feira, 9 de março de 2011
Curiosidade de filho atento
- Aquele carro é da polícia ou do bombeiro?
- É uma ambulância.
- E a ambulancha faz o que? Prende ou salva?
- É uma ambulância.
- E a ambulancha faz o que? Prende ou salva?
terça-feira, 1 de março de 2011
Coisas de um homenzinho de quatro anos
- Mamãe, porque você não me dá um irmãozinho?
- Uai, filho, tem que pedir pro papai do céu.
- Mas eu já pedi. E por que ele não me dá?
- Ah, filho, tem que esperar, ele vai te dar na hora certa.
- Mamãe, eu acho que você não tá comendo direito a sua comidinha?
- É? Por que, amor?
- Porque tem que comer muito muito muito pra sua barriga crescer um tantão e virar um bebê...
(risos)
- Ai filho, que inocência...
- Uai, filho, tem que pedir pro papai do céu.
- Mas eu já pedi. E por que ele não me dá?
- Ah, filho, tem que esperar, ele vai te dar na hora certa.
- Mamãe, eu acho que você não tá comendo direito a sua comidinha?
- É? Por que, amor?
- Porque tem que comer muito muito muito pra sua barriga crescer um tantão e virar um bebê...
(risos)
- Ai filho, que inocência...
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Recebi esse presente de Natal do professor Márcio, sobre o meu primeiro livro "Desatados, nós"
NÓS DESATADOS
Márcio Adriano Moraes
Professor de Literatura do Colégio Sólido
De dentro saem textos. De todas as aberturas possíveis como fluídos humanos. A inspiração vem em palavras nem sempre poéticas, nem sempre com nexo. O demônio do Ego que insiste, que teima, que descarrega o seu Eu sobre o próprio eu é avassalador. Vade retro Ego infiel. Ainda que haja dor, ainda que haja dores. Uma dor nem sempre própria, uma dor do outro, carregada de algo mais que dorido. A dor do outro é o pranto próprio.
Eis que chega o filho, estado pleno de satisfação materna. O filho fruto ventre, mas também o filho fruto tropo de papel. Poesia despertada de choro de ninar. Universo delicado, alquebrado, ameaçado, alterado, viciado, forçado. Tudo como tem que ser, tem de ser um segredo preso pela raiz como um galho de natureza. E as flores turvas, submersas em água fria, mergulham no aquário íntimo dos corpos esquecidos nas calçadas no fim da tarde. Dos corpos desnudos que se mostram, se abraçam, se abrasam. A dor é inominável.
As incertezas doem como o som do canto. Doem como o futuro, como a dúvida, como a calúnia, o implante de lembrança embriagada. O medo não suplanta a solidão que traz, apesar de só, felicidade em pleno meio-dia de uma paixão caminhada para o vazio. Confessar a tristeza de hoje e se entregar ao álcool com desejo. Brindar a vida entorpecida e cair de sonho em um sexo passional, ocasional. Ficar acordada louvando a insônia como única companheira, povoada de sonhos insanos. Um livro inacabado, feito a pinceladas curtas, impressionistas bem na calada da noite, sem as luzes, indo contra o estilo. Apenas ouvindo os silêncios e se assustando com os barulhos que saem da caneta saboreando o papel sobre a mesa de madeira. Luzes brilhando para perdoar você.
O corpo queima, o desejo arde, a paixão tem temores, todos coloridos e sedutores. Violar o sacrário do corpo libidinoso e corroer as entranhas. A sensação perfeita, orgasmo astral, sonho vivo ou fantasia, distorcendo a mente, deleite, maestria. Ah, delícias... sonhando... seios... nádegas... línguas... vagina... penetração... movimento... pênis... gemidos... ejaculação... promessas... ilusão... onde há supremacia das palavras e do amor?
Assim os lábios atam como pares indissolúveis. Peixe fisgado com isca de beijos. Saudade da noite, da mão, do corpo quase sem corpo. Agora é só esperar outra noite em que a libido seja proibida e poder recusar o sonho na cama, noite inteira.
Corasóis. Corados sóis, corados sois sós. Você em preto e branco no porta-retrato são recordações estaladas no peito. Um anjo para perfumar os dias e quem sabe inspirar poesias. Cantar, dançar, musicar, expressar os sentidos sentimentos sambando no compasso e na cadência de um amor que se entregou. Ah, o amor! Já disseram que é ferida que dói e não se sente, mas dói. O amor mata de tanto amor.
Na escola da vida, amigos, perder e ganhar, despedir. Crer em Deus, nesse sinal real que está bem na frente dos olhos, como as estrelas no céu.
E por que não brincar? Se extravasar em pleno sol com os meninu da rua. Peidar um peido alto e verdadeiro. Contar piada e chorar de tanto rir. Sentar ao redor do avô para ouvi-lo contar histórias e tremer de medo no quartinho de costura abandonado. Coisas da meninice: pé de manga, cinema de papel, o cão rex, lagartas no pé de laranja, baygon, bolinha de sabão, bomba de cocô; rica infância; lembrança com sabor de romã.
Tudo isso e muitas outras frases ao anoitecer em um Pinheiro chamado Cyntia.
Cordialmente
Márcio Adriano Moraes
Márcio Adriano Moraes
Professor de Literatura do Colégio Sólido
De dentro saem textos. De todas as aberturas possíveis como fluídos humanos. A inspiração vem em palavras nem sempre poéticas, nem sempre com nexo. O demônio do Ego que insiste, que teima, que descarrega o seu Eu sobre o próprio eu é avassalador. Vade retro Ego infiel. Ainda que haja dor, ainda que haja dores. Uma dor nem sempre própria, uma dor do outro, carregada de algo mais que dorido. A dor do outro é o pranto próprio.
Eis que chega o filho, estado pleno de satisfação materna. O filho fruto ventre, mas também o filho fruto tropo de papel. Poesia despertada de choro de ninar. Universo delicado, alquebrado, ameaçado, alterado, viciado, forçado. Tudo como tem que ser, tem de ser um segredo preso pela raiz como um galho de natureza. E as flores turvas, submersas em água fria, mergulham no aquário íntimo dos corpos esquecidos nas calçadas no fim da tarde. Dos corpos desnudos que se mostram, se abraçam, se abrasam. A dor é inominável.
As incertezas doem como o som do canto. Doem como o futuro, como a dúvida, como a calúnia, o implante de lembrança embriagada. O medo não suplanta a solidão que traz, apesar de só, felicidade em pleno meio-dia de uma paixão caminhada para o vazio. Confessar a tristeza de hoje e se entregar ao álcool com desejo. Brindar a vida entorpecida e cair de sonho em um sexo passional, ocasional. Ficar acordada louvando a insônia como única companheira, povoada de sonhos insanos. Um livro inacabado, feito a pinceladas curtas, impressionistas bem na calada da noite, sem as luzes, indo contra o estilo. Apenas ouvindo os silêncios e se assustando com os barulhos que saem da caneta saboreando o papel sobre a mesa de madeira. Luzes brilhando para perdoar você.
O corpo queima, o desejo arde, a paixão tem temores, todos coloridos e sedutores. Violar o sacrário do corpo libidinoso e corroer as entranhas. A sensação perfeita, orgasmo astral, sonho vivo ou fantasia, distorcendo a mente, deleite, maestria. Ah, delícias... sonhando... seios... nádegas... línguas... vagina... penetração... movimento... pênis... gemidos... ejaculação... promessas... ilusão... onde há supremacia das palavras e do amor?
Assim os lábios atam como pares indissolúveis. Peixe fisgado com isca de beijos. Saudade da noite, da mão, do corpo quase sem corpo. Agora é só esperar outra noite em que a libido seja proibida e poder recusar o sonho na cama, noite inteira.
Corasóis. Corados sóis, corados sois sós. Você em preto e branco no porta-retrato são recordações estaladas no peito. Um anjo para perfumar os dias e quem sabe inspirar poesias. Cantar, dançar, musicar, expressar os sentidos sentimentos sambando no compasso e na cadência de um amor que se entregou. Ah, o amor! Já disseram que é ferida que dói e não se sente, mas dói. O amor mata de tanto amor.
Na escola da vida, amigos, perder e ganhar, despedir. Crer em Deus, nesse sinal real que está bem na frente dos olhos, como as estrelas no céu.
E por que não brincar? Se extravasar em pleno sol com os meninu da rua. Peidar um peido alto e verdadeiro. Contar piada e chorar de tanto rir. Sentar ao redor do avô para ouvi-lo contar histórias e tremer de medo no quartinho de costura abandonado. Coisas da meninice: pé de manga, cinema de papel, o cão rex, lagartas no pé de laranja, baygon, bolinha de sabão, bomba de cocô; rica infância; lembrança com sabor de romã.
Tudo isso e muitas outras frases ao anoitecer em um Pinheiro chamado Cyntia.
Cordialmente
Márcio Adriano Moraes
sábado, 1 de janeiro de 2011
Ano Novo
Meus vestidos, muitos, despidos.
Minhas carnes, mudas, multipliquem.
Meu amor, festejado, seja firme.
Meu trabalho, renovado, capacite.
E para minhas mãos, Midas.
Minhas carnes, mudas, multipliquem.
Meu amor, festejado, seja firme.
Meu trabalho, renovado, capacite.
E para minhas mãos, Midas.
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