quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O macaco-barrigudo

Cyntia Pinheiro

Na floresta Amazônica, no alto do mapa do Brasil, onde o rio Amazonas faz uma curva em forma de "S" vivia um macaco-barrigudo muito especial. Ele adorava lavar seus olhinhos redondos na barriguinha do "S" do rio todas as manhãs ao acordar e saia logo assobiando no melhor astral.

Gostava de comer frutinhas, no alto das árvores e fazer graça com sua amiga da mesma raça, a macaquinha que carinhosamente ele chamava de "Pancinha".

Pancinha o apelidou de "Fofo", por causa da sua forma redonda e peluda. Ele ficava meio sem graça com esse apelido, mas até que gostava dos carinhos da Pancinha.Lá no alto da árvore os dois amigos trocavam gentilezas, comendo frutas deliciosas, apreciando a vista e fazendo piruetas magistrais no topo das árvores.

Um dia, porém, avistaram uma coisa terrível do outro lado do rio. Era uma nuvem escura de fumaça, muito grande mesmo que ia do chão ao céu, numa vista infernal. Não tiveram dúvidas, a floresta estava pegando fogo.

Fofo e Pancinha pularam o mais depressa que podiam e começaram a se agitar no alto das árvores para chamar a atenção dos outros bichos, logo dezenas de animais se reuniam sob o gigante Jequitibá para uma reunião de emergência. Vieram bichos de todas as espécies para saber o que estava acontecendo.

- E agora, amiguinhos? A floresta parece estar pegando fogo. - disse Pancinha com um olhar aflito.

- Isso mesmo, vimos uma nuvem terrível de fumaça do outro lado do rio, temos que fazer alguma coisa. - Acrescentou o macaco Fofo.

- Mas o que fazer? Como chegar até o lado de lá do rio? - Indagou o macaco-aranha.

- Teremos que dar um jeito nisso. - Retrucou a Onça Pintada.

Os bichos então, decidiram que ajudariam a salvar a mata, pois ali era a sua casa e do outro lado onde a floresta ardia no fogo quente havia outros bichos precisando de ajuda. Se organizaram em equipes e foram para a beira do rio. Lá chegando um bando de jacarés e crocodilos os aguardavam para dar carona. O macaco Fofo e a macaca Pancinha foram os primeiros a subir nos bichos, quase todos os animais conseguiram ser transportados à outra margem.

Lá chegando ficaram ainda mais assustados com tanto fogo e tanta fumaça, havia muitos bichos que estavam perdidos no meio da nuvem escura e já não conseguiam respirar direito. Os amigos salvadores foram encaminhando os bichinhos perdidos para os crocodilos que os levaram em segurança para a outra margem, fazendo um rápido resgate.

Nossos heróis corriam muito pra tentar conter o fogo, mas não conseguiam muita coisa, os olhinhos do macaco-barrigudo ardiam muito, a onça pintada tossia demais e até a pobre da Pancinha já não conseguia nem mais ficar de pé de tão cansada. E o fogo não diminuia.

Passarinhos enchiam seus biquinhos de água e traziam para jogar no fogo, mas ele insistia em se propagar. Até que, de repente, quando as forças já tinham se esgotado, ouviu-se um estrondo bem forte e começaram a cair gotinhas de uma chuva abençoada. Choveu sem parar por muito tempo e nossos amiguinhos, exaustos que estavam, nem perceberam as primeiras gotinhas que lhes lambiam os pelos, pois já estavam todos caídos no chão inertes de tão cansados.

Depois de um tempo, Pancinha acordou e viu que o fogo havia sido apagado pela chuva. Ficou triste porque o cenário ali era desolador. Havia um grande buraco na mata, o fogo consumiu um grande pedaço de vegetação e muitos bichinhos jaziam no meio do clarão.

Procurou seu amigo Fofo e não o encontrou, aos poucos os bichinhos que sobreviveram foram acordando e ficavam estupefatos quando percebiam o que havia acontecido com seu habitat.

- Quem faria uma coisa dessas? - perguntou desconsolada a pobre Pancinha.

- Só mesmo algum bicho muito burro e cruel pra colocar fogo na própria casa e pra matar tanto bicho inocente. - disse furioso o cachorro-vinagre.

- Vejam! - convidou a jaguatirica. - Pode ser uma pista.

Todos os bichinhos olharam na mesma direção, onde haviam cabaninhas de madeira com roupas penduradas nos varais e restos de comida em grandes caldeirões. Foi então que o astuto Gavião-real concluiu:

- Conheço esse bicho, é o bicho-homem que sempre chega destruindo tudo por onde passa...

Todos os animais estavam muito tristes e indignados, principalmente quando viam seus amiguinhos sem vida deitadinhos no chão ainda coberto de cinzas das árvores mortas.
Pancinha, desesperada, só queria saber onde estava seu amigo Fofo. Não o encontrava em lugar nenhum. Foi quando todos os amiguinhos resolveram sair dali para procurá-lo.

Mais adiante avistaram uma aldeia de índios que também eram nativos da região e zelavam pela natureza. Perguntaram por Fofo e foram informados de que um macaco-barrigudo estivera ali mais cedo, pedindo aos índios que fizessem a dança da chuva para tentar salvar a floresta. Pancinha logo entendeu que se tratava do Fofo, mas onde ele estaria agora?

Continuaram procurando pelo amiguinho e se assutaram muito quando o viram caído no meio de uma trilha na floresta. Parte do pelo dele estava queimada e ele tinha na mãozinha uma cuia onde ainda havia um restinho de água que ele usara para tentar conter o fogo. Infelizmente seu corpinho estava sem vida.

Pancinha chorou muito de saudades do seu melhor amigo. Todos ficaram comovidos com a cena triste, mas entenderam que Fofo foi, na verdade, um grande herói, pois quando ele percebeu que todos morreriam em razão do incêndio, arriscou a própria vida para pedir socorro aos índios. E a floresta foi salva por causa de sua atitude.

Embora Pancinha estivesse triste, estava também orgulhosa do seu amigo. Todos os bichos reconheceram o seu valor. E a floresta se uniu por uma causa: cuidar da natureza e não permitir mais que isso aconteça.

Só que o bicho-homem é implacável e não se cansa de atacar a floresta e seus bichinhos, por isso essa história chegou até você. Será que podemos fazer algo para preservar a natureza e salvar o lugar onde vivemos?

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