sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Diálogo no trânsito

Cyntia Pinheiro

Paro no semáforo e avisto um colega de conservatório, ele acena para mim e eu aceno de volta. Samuel atento pergunta:

- Mãe, pra quem você deu tchau?
- Pro Rafa, Sam.
- Qual Rafa?
- Rafa lá do conservatório, aquele da flauta, que toca com Jon.
- O conservatório agora é aqui, mãe?
- Nâo filho, a gente não está vindo de lá do conservatório agora?

Samuel se espicha pra ver o meu colega e nota que ele está parado ao lado da esposa com um carrinho de bebê.

- Mâe, Rafa tem um bebê?
- Tem sim, filho.
- E ele tá naquele carrinho?
- Tá.
- Fazendo o que?
- Ué Sam, tá passeando com o papai e a mamãe dele.
- Por quê?
- Porque eles querem passear, igual a gente passeia.
- E onde que tá o carro de Rafa?
- Ah, filho, deve estar estacionado igual o nosso estava.
- Na rua?
- É.
- E onde eles vão colocar o carrinho do bebê no carro?
- No porta-malas, ué. É lá que a gente coloca essas coisas.
- Nâo, mas se ele colocar lá o bebê vai chorar, mãe.
- Mas Samuel, o bebê não vai no porta-malas com o carrinho.
- Então onde que ele vai?
- Na cadeirinha, Sam, igual a você.

Lá na frente eu começo a rir e Samuel pergunta:

- Por que você tá rindo, mãe?
- Porque você é engraçadinho, filho.
- Eu? Por quê?
- Porque você ficou preocupado com o bebê, né? Você pensou que Rafa ia guardar o bebê no porta-mala?

Samuel esboça um sorrisinho cabreiro:

- Pensei mesmo, mas foi só um pouquinho...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Ensaio sobre a chatice

Cyntia Pinheiro

Todo mundo é chato! Inclusive o mundo, que quando criança eu pensava que fosse redondo, mas a terra é, na verdade, oval, ou seja, nada mais nada menos do que um círculo achatado.

Mas ao pensar a chatice alheia busco em mim mesma um parâmetro, um referencial. Descobri que todos somos chatos, aliás, chatos não, chatérrimos, chatíssimos, um porre!

Não há pessoa no mundo que não seja chata. Até o mais agradável dos homens em algum momento da existência será considerado chato por alguém. Isso porque a chatice não está na pessoa considerada chata, mas na pessoa que a classifica como tal.

Explico melhor. Algumas características minhas são tão agradáveis a alguns quanto insuportáveis para outros, esse segundo grupo de pessoas é exatamente aquele que provavelmente me considera chata.

Isso tudo porque ninguém é capaz de agradar a todos, aliás, ainda bem, porque essa pessoa seria a mais chata de todas.

E mais, isso também se dá porque a chatice não está no emissor da mensagem, mas no receptor dela. Ou seja, até um sorriso que eu der pode ser mensurado, de modo que se o receptor for alguém que goste de mim, ele me achará agradável, se for destinado a alguém que não gosta de mim, soará como inconveniente, como deboche, como chato!!!!!!

Isso é prova de que nem todo mundo é chato para todo mundo o tempo todo. Tem gente que é chato pra um e não é para o outro.

Mas, mais chato do que o chato é quem convive com o chato, já que a chatice está nele. Por isso selecionamos pessoas para estarem perto de nós, e estas são exatamente as consideradas por nós como "menos chatas". Nesse caso, nem se trata de chatice propriamente dita, escolhemos o cônjuge pelas qualidades que tem e, obviamente, pela capacidade que temos em lidar com os seus defeitos (a chatice).

Mas todo mundo é chato! Não tem esse que nunca foi chato, pelo menos uma vez na vida. E há os mais chatos ainda que o são por picardia, por "chatura" mesmo, só de birra, só pra encher o saco! Aqueles que têm o poder de manipular os outros no sentido de fazê-los mais suscetíveis à própria inconveniência. "Vou ser chato porque eu gosto e pronto!" Esses são os mais chatos, ou não, há quem goste da irreverência desses tipos sarcásticos e sagazes, eu, particularmente, não gosto, acho-os terrivelmente chatos.

Há os chatos que nem imaginam que o sejam, e os que chorariam se soubessem que o mundo os acha chatos, mas uma coisa deve servir de consolo: O mundo é chato! Todo mundo é chato!

Bem, vou ficando por aqui, porque estou começando a achar que esse texto está ficando extremamente CHATO!!!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Berceuse a Samuel

Cyntia Pinheiro


Dorme, meu menino,
Meu pequeno anjo,
Que no seu colinho
Jesus quer te aconchegar.

Sonha com os anjos,
Que no céu te esperam,
Brincando pelas nuvens
De pular e flutuar.

Amanhã desperta,
Trazendo o sol contigo
Iluminando o dia
Que vai nos abençoar.




(Quer musicar este poema????????? Fale comigo)