quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Ter coragem

Cyntia Pinheiro

Tenho uma prima, chamada Cleiziane, com quem convivi muito na década de 90, quando nós duas fomos colegas de sala enquanto cursávamos o magistério na Escola Estadual Oswaldo Lucas Mendes em Taiobeiras/MG. Éramos unha e carne, sentáva-mo-nos sempre com as mesas juntas, conversávamos muito e éramos consideradas ótimas alunas.

Ela me ensinou muitas coisas interessantes, como por exemplo, gostar de rock, escrever letras desenhadas e rir muito da vida. Mas uma coisa ela fez por mim um dia, que talvez nem se recorde mais, porém foi de grande importância e que carrego até hoje comigo.

Um dia cheguei em casa e ao entrar em meu quarto, havia um pirulito grande em cima da minha cama, colado nele um bilhete que dizia: " Nunca pule num monte de folhas com um pirulito na mão. Assinado: Linus vem que tem."

Aquele bilhete me intrigou num primeiro momento, mas logo tive certeza de que era coisa dela, a melhor prima-amiga sempre apronta dessas coisas... Fui perguntar a ela quem era o tal "Linus vem que tem" e fui informada de que se tratava do Linus, melhor amigo do Charlie Brown e que ela havia assisido a um episódio em que o Linus falava isso para o Charlie.

Gostei, degustei e adorei a surpresa. Só não imaginava que quase duas décadas depois aquelas palavras ecoariam em meus ouvidos. E tudo isso porque eu me joguei no monte de folhas com o pirulito todo lambido na mão. Sempre me lanço de olhos fechados e descobri que isso me faz bem.

Descobri que sou corajosa, atrevida e não tenho medo de nada, porque carrego comigo uma fé bem grande. Ao pular no monte de folhas de todas as profissões que tive e tenho, fechei os olhos e fui com uma fé enorme no Criador, só colhi frutos bons, algumas folhinhas secas me pegaram, é verdade, mas em outras situações meu pirulito saiu ileso dali.

Hoje eu digo sem pudores e sem falsa modéstia, estou me tornando escritora por amor, sempre fui professora por vocação, sou maquiadora por vontade, sou mãe por talento, serei jurista por paixão e se eu sou tudo isso, ou se aos olhos de alguns não sou o "ó do borogodó", o importante é que eu tive coragem de me lançar no monte de folhas, ainda que folhas secas quisessem aderir ao meu pirulito, isso faz parte da vida, vida essa que eu quero viver, com folhas ou sem folhas, mas com o sabor de quem deseja sempre experimentar.


17/10/2012