segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Coração sangrando

Meu coração é barco naufragado
Onde paradoxais enigmas me levam a lugar nenhum
Neste oceano que me sangra no peito
Há aflição e amor, como um dueto dissonante.
Sou menos que posso.
E mais que outros menos.
E o sangue corre e escorre, tem pressa em afogar seus náufragos e acalmar-se como faz o mar depois do temporal.

Desejo de paz

Todo silêncio é pouco quando se deseja a paz
Todo ruído é rouco a ensurdecer quem faz
Não faça de mim refém de teus protestos loucos,
Não me faça sentir na pele a insensatez aos poucos.
Não me condene ao gelo de teus apelos tolos.
Eu só desejo paz!

Frio

Frio é o ósculo
Após o óbito
Fria é a carne
Após o desencarne
Frio é o tempo
Em todo o tormento
Frio é o fim
Após partires de mim.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Com ajuda de Lucas...

Guardo em meu peito pequenos tormentos, que grandes alentos carecem ganhar...
Guardo em meu peito imensos carinhos, que poucos amigos podem requisitar....
Guardo comigo sentimentos inteiros, e controversos anseios de perdoar e amar...
E, se um dia eu puder explicitar, gritarei para o mundo que não há mais dor, apenas amor sem receio de amar!

Amor

Candelabros de sóis
Reluz teus faróis
E tua boca miúda
Que minha boca carnuda
Anseia beijar!

Lábios de nós
Desatam meus atos
De amarras sem fim
Me queimam em beijos
Inteiros em mim!

Olhos sem par
Queimam meu corpo
Com quentes faíscas
Me fisgam em iscas
A dilacerar!

Negra cor.

Teus negros cabelos são seda entre meus dedos
Teus negros olhos são olhos de corpo inteiro
Teus negros pêlos são convite ao meu desejo
Teus negros sonhos, são impudicos e negros.

Um fogo, um jogo

Olhos que traduzem secretos enigmas
Arrancam dos lábios toda a minha saliva
Seduzem, agridem, machucam. Recidiva.
Um par de surpresas tua boca, minha barriga
Paixão sem temores, toda ela colorida
Mexendo, descobrindo, reabrindo feridas
Me fazem mulher, teus olhos, minha brisa
E o corpo se consome como fogo, lascívia.

As mãos me são...

Mãos são infinitas
Como infinito é o céu
Mãos são açúcar
Como açúcar é o mel
Mãos são desejo
Como o desejo é fel
Mãos são as marcas
Como ter marcas é cruel
Mãos são segredos
Como segredos são para quem é fiel.

Delícias

Trechos de corpo
Traduzem aos poucos
O que descubro do todo
Delícias de ti!

Fantasmas

Apoderam-se das energias
Vibram pelas imensas orbes
Levando meu brilho
Gerado a dois.

Fraquejo e movimento-me
Fracassam-"me", se podem isso.
E fluem por meus melhores fluidos,
Fluidos de meu amor.

Invadem meus sonhos
Invadem meu corpo
E meus mais íntimos momentos
Desregrando o que se estabeleceu.

Mas se posso receber ajuda
Tenhos fortes fontes de amor
Que jorram por mim em preces tão ricas
Que me restauram as forças
Sempre que tentam derrubar-me
Deus está sempre comigo.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Rica infância

Oito da noite. A meninada sai louca abandonando suas casas.
Reunião de menino é coisa séria. Tem hora marcada e todo mundo respeita.
Hora de brincar de onça, esconder, caiu no poço, amarelinha, queimada, vôlei, e o que mais inventarem.
Dez horas a mãe chama. E os pés encardidos de tanto correr já não sabem mais se são pretos ou brancos.
E os meninos vão, reclamando com as mães.
Ora, crescidinhos, passam para os próximos meninos a propriedade da rua, brinquem meninos, com juízo. Porque daqui a pouco inventarão o vídeo-game.

O cinema de papel

Poucos meninos eram assim tão capciosos. Poucos tão criativos. Não gostava de brincar na rua. Preferia os livros de mágica e de cinema.
Fez com meu dinheiro seu próprio cineminha e até ganhou dinheiro cobrando ingresso dos outros meninos “mais bestinhas”.
Encarnando Godzilla em papel cartão por trás da tela de papel de seda, iluminado por uma lamparina de querosene, fez mágica, para nós meninos menos capazes.
Nunca nos esqueceremos de Dêla, um menino moço, que morreu tão moço depois de nos alegrar tanto.

Chegou a filmadora

Chegou a tecnologia, a família se reúne, corre todo mundo para a casa do avô.
Vamos menina, veste logo essa roupa, modelito novo, cheio de números, para aparecer bonita na televisão.
“Altia, seu moço! Altia o volume, senão ninguém escuta”.
Monta o carneiro, segue os patinhos, segura esse menino, ninguém pode com ele. Liga o som, filma o arrasta pé.
O churrasco correu solto e nós também,mas não pode dar tchau para a câmera, fica brega.
Só hoje a gente se deu conta do quanto aquilo tudo foi brega, mas foi bom!

No quarto de costura

No quarto de costura tem uma maçã que é puro talco
O cheiro não saiu da memória.
No quarto de costura a gente aprende a bordar
A falar de amor, e a viver o amor.
No quarto de costura a gente dorme quando a mãe e o pai viajam. E a madrugada é povoada de sons, culpa do vento que imperioso sacode as mangueiras e os abacateiros. Tantas frutas caem.
No quarto de costura a gente escuta seu riso roncado e tem a certeza de que é amado.
Também é no quarto de costura que a vitamina de abacate some em segundos e a gente devora os biscoitos com formato de gente.
Foi no quarto de costura que eu guardei minhas melhores lembranças da infância e foi lá também que percebi que eu tinha um anjo, chamado Mãe Lorde.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009




Família é tudo!!! Amo meus eternos amores!!!!!!!

O velho e os meninos

Brincavam os meninos
Com seus sovacos peidorreiros
Meio-dia, sábado, sol a pino.
Lá vem o “véio”, e a “veia” vem logo atrás
Carregando sozinha toda a feira.
Riem dos meninos
E seguem seu destino.
Lá na frente o “véio” se apeia,
Faz pose e grita: “Segura essa os mininu”
E peida, um peido alto e verdadeiro.

Jaqueira

Embaixo de imperiosa jaqueira, um botequim,
um armazém e uma boate. Point da cidade.
De vários pontos olhares curiosos tentavam ver a “véia” recém-chegada do Pernambuco, a abraçar a filha de longa data separadas.
Ao fim do abraço, ao primeiro passo de afastamento, uma jaca desalmada, tentando contra a existência cai entre as duas.
Mãe e filha estupefatas.
A jaca por pouco não matou a “véia”.
Os mecânicos da oficina em frente, mataram a jaca.

Herança

Partiu a velha senhora,
Não tão velha, mas endinheirada
Furou a fila da morte
Tinha gente mais degradada.

Partiu a velha senhora,
Sem hora é toda morte
Furou a fila da sorte
No banco mais de um milhão.

Partiu a velha senhora,
E os urubus já pousaram
Furam a fila no banco
Dizendo-se seus emissários.

É, partiu a velha senhora
Nem houve tempo para saudades
Furou-se a regra da fé
Furaram seus olhos fechados.

Rex

Negro, pequeno e excessivamente peludo.
De nome Rex. Inofensivo talvez.
Cachorro rebelado é pior que cachorro bravo.
Assim se fez nossa separação.
Depois desse dia, nunca mais quis um cachorro.

Japão

Debaixo do pé de Jambo cavávamos até o Japão. Depois de um palmo, desenterramos um tesouro, não sei quem o escondeu lá. Mas eram moedas, muitas. Que já não valiam mais. Matutamos naquele disparate, quem doido assim enterraria dinheiro? Passado que não nos pertencia. Impossível decifrar.
Outro dia, cavaremos outro buraco.

Cozinhadinha

Fogão improvisado, panelas cheias de sabão embaixo.
Hora de cozinhar. O pequizeiro é nosso companheiro generoso e nos presenteia sempre que dá.
Nunca vi pequis tão grandes.
Nem tanta fumaça assim. A melhor comida do mundo era feita ali, no quintal do número 101 da minha rua.
Até minha mãe foi experimentar.
Chato era lavar tudo aquilo, fim do dia, fim da brincadeira, fim de toda a graça.
Sempre tinha alguém pra reclamar da qualidade da lavada da panela.
Mas era assim que passávamos nossas férias.
A inocência tão bonita de outros tempos nos levou ao altar, hoje imitamos a brincadeira.

O nome da gente

O nome da gente é coisa insatisfatória.
Por que tem gente pior que o nome que tem?
Por que tem gente com nome tão ruim que não lhe convém?
Essa coisa de nome é peremptória.

Mas bem que poderia ser opção,
Seria bom se todo mundo se chamasse menino,
ou menina até ter idade de escolher seu destino.
Pois é assim que a gente é chamado até ter profissão.

Difuntinas, Escolásticas e Bucetildes
Todas agradeceriam se uma vez na vida
Pudessem optar por nomes condizentes com a lida
Oriunda, Reduzina e Ampliada, todas humildes.

Temporal

Corta o ar a gota frenética a inundar o solo,
Não uma gota ímpar
Incontáveis e determinadas gotas
Desejam enxarcar o mundo
Violentando a terra
Vingando-se imperiosas.
Caiu chuva?
Não. Dilúvio.
E matou gente.
Traiu quem a negava
Humilhou quem a repudiava
E trouxe calamidade a milhões.
Vingança de Deus?
É Deus bradando no céu como tenebroso trovão?
Não.
É vingança mesmo do tempo
É auto-vingaça do homem
Que tem mãos de destruição!
Nenhuma gota ficou no céu.
Nenhum grão no chão.
Nem pétalas, nem casas.
É o flagelo do homem
Abrindo o ano com gotas grossas furando-lhe a retina.
E emudecendo muitos corações.
Mas não enxerga. É burro.
Estupidez! Só vê quando a chuva já foi
Que tem solidariedade e recomeço.
Ignora o recado de Deus:
Não destrua o planeta!


em 02/01/2009

Tentam

Travou-se trama tremenda
Tremendo, temendo tramar
Trambiques, tratados, trouxas
Tratando, tentando trapacear.

Trabalham tramando trapaças
Travessos trambiqueiros trafegam
Trazendo tantas tentações
Tentam te trapacear.

Tem tanta tinta terra
Tantos tropeiros trepam
Tantos tormentos torpes
Tremulam tarados tapados.

Tem trem tentando trazer
Tropeiros tentados tangidos
Tal tempo total toparia
Todavia talvez te tapear.

Corações partidos

Partem os pais
Partem-se os corações
O céu chora lágrimas de chuva
E Deus engrossa o coro dos anjos
Com voz de trovão.
O dia é música fúnebre
Choram os olhos
Chora o coração.

Partem os pais
Levam a sua razão
Sem olhar se a razão do outro tem alguma razão
Ficam órfãos os filhos, de pais que vivem
E não sabem o que fazer.
Perdidos os pais,
Partidos os filhos.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Lagartas

Lagartas no pé de laranja, fedem.
Motivo para traquinagens.
Pega o baygon, uma seringa, injeta veneno nelas.
Contorcem-se as lagartas. Riem-se os meninos.
Os pais inocentes, nunca imaginaram tamanha arte.

Inveja

Canudinho faz bolinha de sabão
Canudão faz bolão.
A inveja faz cosquinha,
Irresistível tentação.
Chora, dá birra, calundu,
Toma posse do canudão.
Faz bolão.
E chupa, chupa o canudão,
divertido é,
até beber sabão!

O cocô

Meninos brincam na rua à noite. Uma idéia.
Alguém traz um cocô recém-fabricado.
Injetam-lhe uma bomba junina.
Arma preparada.
Um acende o pavio.
Todos se protegem.
Bomba de cocô, muitas casas respingadas.

Açúcar

Geléia, suspiro e bala doce, no boteco de Anterão.
Biscoito de queijo, açúcar, paçoquinha na venda de seu Cindo e põe na conta.
Guloseimas, suspiro e pipoca doce, só na venda de seu Quinca.
Assim, os filhos crescem açúcar.

Flor

Flores encantadas, rosas desabrochadas.
Todo tipo de flores. Encantamento.
Perturbação.
Perturbarão o vizinho,
para pedir ou para furtar, ao fim da aula.
Toda mãe merece flor roubada.

Na casa velha

Escravas de muitos algozes,
vorazes, implacáveis. Familiares contumazes.
Escravas perenes, pilando, no pilão.
Sorriso furtivo, olhar submisso, e no pilão, pilam.
Milho, café, o que tiver, como numa cadência uma desce a outra sobe, ao pilão. Sob o céu, de imperdoável verão.

Poda de parreira

Poda de parreira. Menino sobe, menina desce. Descem e sobem e podam. Corta daqui, tem mais folha ali. E num piscar de olhos, entardece.
E flertam, sem saberem-se flertados.
Borboletas, lagartas, bichos de todo tipo, perambulam, pululam ao ar úmido das Taiobeiras.
E o menino poda a parreira. Agora menos folhas no alto, menos chão no chão.
E a menina tesoura em punho, poda a parreira. Grande parreira, festa no ar. No alto da parreira.
E as uvas virão roxas e doces, na próxima estação.
E a menina nem gosta das uvas que dão no pé.