domingo, 25 de abril de 2010

Para a família, os amigos e quem se lembrar

Saudade das madrugadas dedicadas às letras e ao silêncio interior,
Saudade do colo perfumado e das mãos carinhosas de minha mãe,
Saudade de minhas colegas Nete, Flávia, Hélvia, Aline, Marisa e mais...
Saudade do pequizeiro da casa de Anísio e Leni, e das comidinhas que lá fazíamos.
Saudade dos tempos de festa no quintal gigantesco do meu avô.
Saudade de mãe Lorde e sua maçã de talco tão grande no quarto de costura.
Saudade de Nesta, Pai Felintro,Vó Lita, Vô Bilo e todos os olhares enrugados e carinhosos.
Saudade do meu pé de manga onde comecei a escrever sobre minhas angústias e alegrias.
Saudade dos amores tão simples, tão sofridos e tão pueris.
Saudade do balé de Tereza, do café no pilão, do torresmo e do abacateiro,
Saudade do Tio Mones, seu sorriso tão carinhoso e suas habilidosas mãos.
Saudade do barulho de Tia Cau, do crochê de tia Lita e das bonecas da Tia Lili,
Saudade do fogão de lenha, da carne no espeto, das galinhas no terreiro e da poeira todinha que tinha ali...
Saudade do primeiro arroz parboilizado que comi na casa de Vó Lita.
Saudade de Lis brincando inocente comigo no quintal e do choro de Amandinha no muro ao lado.
Saudade da datilografia de Dezão e do curso de maquiagem de Gislane.
Saudade de subir no muro correndo atrás de Vilmar e de envenenar lagartas com meu irmão.
Saudade do curso de doces e do curso de flores em tecido que não me tornaram nenhuma profissional.
Saudade do desfile de moda, da gincana folclórica do colégio, de ganhar e perder e aproveitar cada minuto.
Saudade de fazer bolinhas, até beber sabão.
Saudade de fazer crochês intermináveis, bordados desperdiçados e poemas esquecidos.
Saudade de ir à missa e ao chegar em casa cortar bananas em hóstias e simular a comunhão.
Saudade do quintal de Nízia, da irreverência de Dêla, do pé de araçá.
Saudade do pé-de-moleque de tia Zinha e de pular fogueira em noite junina.
Saudade da batata doce assada, das muitas quadrilhas, e de tanto biscoito.
Saudade de ler sobre ufologia na casa de Luciana, do clube do Minas às quintas a noite, sauna e natação.
Saudade de receber cartinhas de Keyla, de comer pipoca na casa de Selma, de sair a noite pra pedalar com as amigas.
Saudade de fazer agenda e aprender a bordar na casa de Anita.
Saudade do violão de papai, do arrastão do Natal, da família reunida, toda ela, sem exceção.
Saudade da única vez que entrei em uma boléia de caminhão, com Tio Zé ao volante.
Saudade de Jane comprando doces na chocolanches com seu cabelo tingido de amarelo na frente, carteira no bolso, sorriso no olhar.
Saudade da Gigi, do Ju, Beto, Dan, Karyne brincando no quintal imenso que nem floresta e da vitamina de abacate no copo de alumínio.
Saudade dos artistas que meu pai pintou no muro, de cuidar de Jon, de brigar com Ju.
Saudade de ver pai Felintro e suas dentaduras pela janela aberta do seu gabinete e das flores miúdas, roxas, vermelhas e brancas enfeitando o quintal.
Saudade da parreira, da trilha de mato, de amassar biscoito de aprender a andar de moto.
Saudade da infância, do uniforme da escola com uma esfera no peito e saia de pregas e de minha única blusa de frio, roxa e de tricô.
Saudade de lamber selos ajudando mamãe no correio, do "Cerço" que um dia desses fez a gente rir.
Saudade de treinar Daniel no seu primeiro dia de trabalho e fazer, por meio dele, o meu primeiro teste vocacional.
Saudade do cofre gigantesco e pesado, dos saquinhos de açúcar refinado que vi ali pela primeira vez.
Saudade da cara sisuda de Donato e do sorriso fácil de Juscelino.
Saudade da bicicleta cargueira amarela e da contra-pedal de papai.
Saudade da jaqueira, tia Marlene e da voz possante de Tio Dedeu.
Saudade de brincar de onça, amarelinha, esconder, queimada e vôlei na porta de casa a noite.
Saudade de subir em árvore, tocar campainhas, fazer bola de meia, estragar bolas de gude.
Saudade de Rex, Tot, pássaro preto, azulão e dos periquitos acidentados.
Saudade de um certo vestido horroroso branco com o desenho de uma bolsa a tiracolo.
Saudade da touca de gesso, do cabelo alisado, das luzes mal feitas e de usar aparelho.
Saudade da limpeza de pele de Nely e das milhares de espinhas na testa.
Saudade do colan, do cinto rosa e roxo de plástico, o batom boka-loka e de rodar o cabelo a noite com um lenço vermelho cheio de furos.
Saudade das panelas de vidro, de Milde, Purcina, Lili e Zenita, do livro que vendi pra comprar um vestido e ser madrinha do casamento.
Saudade do colégio, dos cartazes, do abaixo-assinado e da prova de Paulo.
Saudade da groselha, do beijú de Tassim, do biscoito de queijo do boteco de seu Cindo.
Saudade da festa de maio, das roupas de frio, das redações premiadas, do jornal da escola.
Saudade de Tia Lenilda, Ilza, Tia Lila, Edna, D. Maria José e a inesquecível Maria Luiza.
Saudade de Cindy Lauper a noite incomodando o sono, da coberta vermelha e azul e do gosto ruim do remédio de tia Lina.
Saudade do ebulidor, do vic no peito, das muitas presilhas e da música boa que aprendi a ouvir.
Saudade dos vinis, das enciclopédias de papai e de uma certa fotografia que foi junto.
Saudade do milho assado, do forró do beija-flor, das reuniões domingueiras e de Frei João.
Saudade de Renan, Aleatson, Gabriane, Louro, Leilinha, Dêla e todos os que partiram moços.
Saudade de Giselona, Alessandra e Edinéia nos tempos de colégio e das nossas super-produções artísticas.
Saudade, saudade...
Infância, lembrança...
Saudade.

Traição

Fui ferida, apunhalada, vitimada
Mas não morri dessa vez
Em nenhuma das tantas vezes eu morreria
Porque acredito no ciclo que devolve
Aos feridos a cura da alma
Aos traiçoeiros as pertinentes sanções.

As palavras

Que falta me faz sentir dor,
Que falta de me machucar.
É tudo tão terno, tão bom.

Quero que seja eterno o amor,
Mas também quero a paixão,
Que costuma trazer consigo
As palavras.

O tempo

O tempo se cansou de mim,
Cansado de me dar palavras...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Quanto?

Quanto feijão com arroz alguém tem que comer?
Quanta sopa de letrinhas para aprender a escrever?
Quanto um homem (ou uma mulher) deve se debruçar?
Quanto para ser? Quanto? Quanto?
Até se cansar?

Eu

Às vezes sou nada,
Às vezes me "acho"
E acho que sou algo.