quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A coisa mais linda...

Cyntia Pinheiro


Dizem que os anjos têm asas, tocam arpa e possuem cabelos loirinhos e cacheados, mas sempre que me deparo com um, ele é bem diferente disso.

Hoje foi o dia de levar o meu anjinho particular para retirar seus cachinhos e ele se comportou muitíssimo bem, resultado: um corte de cabelo perfeito! Ficou ainda mais lindo!

Mas, lindo mesmo foi o que nos aconteceu ao sairmos da barbearia (meninos cortam cabelo em barbearias), meu filho me pediu:

- Mamãe, não quero ir pra casa, quero passear mais.

Não pude resistir ao pedido, principalmente porque havia uma loja em liquidação logo ali na frente, chamei o baixinho para entrar lá comigo e ficamos um tempinho apreciando os calçados a preço de banana.

O tempo "perdido" ali foi exato, preciso, sob medida para o que viria em seguida. Ao sairmos da loja descíamos distraídos pela rua quando nos deparamos com uma pequena rampa, uma deformidade no passeio que descemos sem dificuldade, mas lá embaixo havia um velhinho octogenário que tentava subir e não conseguia.

Confesso que não prestei atenção naquele senhor de imediato, mas somente quando ele abriu um largo sorriso e me pediu com um tom quase solene:

- Minha filha, quero te fazer um pedido, mas por favor não me leve a mal... Será que você pode me ajudar a subir aqui?

Nem vi quando troquei a mão do meu pequenino por aquela mãozinha frágil, delicada e fraquinha daquele homem. Tenho certeza absoluta de que não fiz muita diferença, porque o velhinho me deu sua mão direita e com a esqueda dava impulso ao corpo puxando a parede da loja que havia ali com toda a sua força.

Ao entregá-lo sem o menor esforço ao passeio retilínio que ele seguiria dali por diante, o velhinho beijou-me a mão e nos abençoou grandemente, agradecendo de forma vibrante o bem que eu lhe havia feito.

Aquele momento foi sublime, inexplicável pra mim. Meu coração pareceu revestido por uma força diferente, suave, que o pressionava gostosamente e me fazia saborear uma leveza nunca antes experimentada.

Olhei aquele anjinho enrugado bem no fundo dos olhos e em silêncio lhe agradeci pela oportunidade de sentir seu toque, a força do seu sorriso e a inacreditável energia que pulou dele pra mim num ritual único e especial.

Trocamos algumas pouquíssimas palavras de cortesia, gratidão e carinho, e, embora eu desejasse prolongar aquele momento, seguimos cada qual o nosso destino. Segurei novamente a mãozinha delicada do meu menino-anjo que nada mencionou, apenas respeitou o momento que se deu ali, e atravessamos a rua buscando nosso veículo.

Ao olhar para trás o anjinho mais experiente havia desaparecido, não sei se entrou em alguma porta ou se sumiu magicamente como fazem os anjos nas histórias que ouvimos por aí, só sei que Deus abençoou meu dia e essa foi a coisa mais linda que já me aconteceu.

Um comentário:

  1. Que coisa linda!!! Fico deveras emocionada com situações assim. É preciso ter sempre a sutileza de perceber a diferença entre um momento trivial e uma cena iluminada. Que bom que você sempre capta os sinais do que é divino.

    Saudades....

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