quinta-feira, 2 de maio de 2013

O Bulliyng nosso de cada dia...


Cyntia Pinheiro

02/05/13

 

O diferente incomoda.  E não é pouco. Incomoda tanto que é necessário colocar pra fora. Explicitar.

Crianças desde cedo começam a notar o diferente. O que não se enquadra é sempre motivo de comentários. Em um primeiro momento são só constatações, nada maldoso, nada de bulliyng. Já que este é concomitante com o nascimento da malícia, da “maldadezinha” que só criança mais velha tem.

E elas começam a notar o menino que usa óculos, o magricela, o gorducho, o baixinho, o negro, a sardenta, o dentuço, a de cabelos crespos, a nariguda...

Se fossem deuses da beleza vivendo no Olimpo da perfeição até que eu poderia concordar, mas não o são, o que as pessoas precisam perceber desde tenra infância é que ninguém tem o direito de apontar a diferença do outro como sendo um defeito, porque todos somos diferentes e nem por isso nossas diferenças constituem defeitos.

Sofri bulliyng a minha infância inteira por causa da minha estatura, tenho indiscutíveis  1,50m de estatura, quando era criança/adolescente, isso me incomodava muito, mas hoje vejo como sendo uma grande vantagem, pois todos sempre me atribuem menos idade do que tenho.

Os apelidos eram terríveis, de péssimo gosto, há uma palavra que mal consigo pronunciar de tão perversa...  Mas passou! Ufa! Passou! Porém, à época, os danos à autoestima foram terríveis.

E agora, começo a sofrer novamente porque sei que os meus filhos passarão pelo mesmo problema. Eles são e serão pequenos para todo sempre, amém. O que eu puder fazer para que eles cresçam eu farei, aliás já estou fazendo, mas sei que não há muito para ser feito.

O mais velho tem seis anos e, na escola, sempre foi o menor da turma e talvez seja sempre assim. Hoje, ao leva-lo à escola encontramos na porta uma coleguinha que o acompanha desde o maternal, ela disse:

- Samuel parece que tem quatro anos.

Fiquei meio perdida, meio sem saber o que dizer, então respondi:

- Mas ele é muito fofo, né?

Ela respondeu:

- É, ele é fofo mesmo. Só é pequenininho...

Abracei meu filhote e respondi:

- Sabe por que ele é pequenininho? Porque a mãe dele é pequenininha, o pai é pequenininho e o irmão dele também. E você sabia que é muito bom ser pequeno assim?

Para minha surpresa ela respondeu:

- Eu sei sim, as pessoas pequenas se escondem melhor no esconde-esconde e são mais rápidas também.

Com aquela resposta dei o assunto por encerrado. Vi que se tratava só de constatação e que não evoluiria para um bulliyng. Mas já é a segunda vez esse ano que passo por esse tipo de situação com meu filho, e sei que outras virão e coisas beeeeeeem piores serão ditas. Não sei muito bem como agir, se ele fosse gordinho eu teria a resposta na ponta da língua: “ se você não quer que te chamem de gordo, emagreça”, mas, infelizmente, não dá pra dizer: “ se não quer ser chamado de baixinho, cresça”. Como não dá pra dizer ao negro: “ embranqueça”.

Nós temos que aceitar o que não pode ser mudado, mas podemos mudar a mentalidade das crianças para que as diferenças sejam respeitadas. E, trabalhar também, as sensibilidades. Afinal, nem tudo nesse mundo é bulliyng.

Diferença é apenas diferença e todo mundo tem alguma. Dizer que o outro é gordo pode ser ou não uma ofensa, depende do contexto em que isso é dito. Referir-se a alguém pelo seu tom de pele também, detesto quando dizem que fulano é “escurinho” ou “moreninho” quando a pessoa é negra, é negro e pronto, tem que se orgulhar disso, não é motivo para constrangimentos, exceto quando o contexto favorece a ofensa.

Já me chamaram de apelidinhos tão carinhoso que eu gostei, mas já me disseram coisas tão grotescas que eu detestei, tudo é contexto e intenção, essa é a que vale!

Devemos ensinar as nossas crianças a respeitar as diferenças, para um mundo mais feliz!

 

quarta-feira, 27 de março de 2013

Segredo de beleza

Cyntia Pinheiro
 
 

                Sim, eu vendo cosméticos, não faz muito tempo. Eles são bons, cheiram bem e atesto que são de excelente qualidade, afinal os utilizo quase todos os dias.

                Mas em minhas andanças por aí descobri uma coisa interessante: a beleza está na alma da mulher, muito mais do que na aparência exterior.

                Fiz, agora em março, 35 anos de idade e, isso às vezes me chateia, pois percebo que meu reflexo no espelho tem mudado, já não tenho a pele dos 18 anos, nem a jovialidade dos 15, mas tenho um pouco mais de maturidade e ela deixa marcas na pele. O bom é que agora eu sei que a pele tem jeito, basta seguir um ritualzinho de beleza diário e a gente vai amenizando os efeitos do tempo, afinal toda mulher deseja envelhecer bem.

                Envelhecer bem, por sua vez, é para poucas. Pois não envolve apenas a aparência da pele, o tônus muscular, ou as curvas arredondadas pelo silicone, envelhecer bem é estado de espírito, tal qual a beleza também o é.

                Muitas mulheres nos dias atuais vivem extremamente infelizes, porque são prisioneiras de excessivos cuidados com o exterior e esquecem de nutrir-se da energia do bem-querer, da leveza do ser e do desfrute de doses miúdas e diárias de pequenas alegrias. Vivem tensas porque não podem, em hipótese alguma, serem vistas descuidadas, desprotegidas de sua criação fantasiosa de uma aparência rigidamente impecável. Nem os maridos conhecem suas esposas. Conheço uma com mais de 40 anos de casada e que afirma que o marido jamais a viu desarrumada, sempre se levantou de madrugada para tomar banho, secar os cabelos, vestir-se, perfumar-se, maquiar-se e estar radiante e pronta todas as manhãs ao despertar do companheiro. Para mim, com o perdão da crítica, mas são 40 anos de prisão e martírio!

                Eu prezo a normalidade, a simplicidade, a verdade! Gosto de estar a vontade em casa para rolar no chão quando meus filhos quiserem rolar no chão, para me sujar de tinta com seus pinceis desajeitados, gosto de me lambuzar de sorvete, esfregar a mão molhada no short, gosto de me entregar à vida sem ressalvas, nem frescuras. Jamais vou arrumar a casa maquiada ou bem vestida com medo de perder o amor do marido, isso é o fim da picada! E muita gente se preocupa com isso! Muuuuuuuuuita gente!

                Arrumação tem hora marcada. Até Chico Xavier, um dos maiores ícones de humildade e simplicidade que o Brasil já conheceu usava peruca para esconder a calvície e, segundo ele mesmo, aquela era uma forma de respeitar as pessoas que com ele conviviam, pois as pessoas não eram obrigadas a conviver com tamanha feiura. No meu sentir, ninguém deve se descuidar, andar desleixada ou amargurada com a própria aparência, mas há momentos e MOMENTOS!

                Eu amo me arrumar, me maquiar, me cuidar! Mas não sou escrava disso, faço quando quero, quando posso e porque estou a fim, não para agradar aos outros, mas para agradar a mim mesma e a minha autoestima. Já disse: quero envelhecer bem! Sem excessos! Sem silicone e sem me preocupar com a opinião alheia.

                Pois em minhas andanças por aí também descobri que nada faz uma mulher mais bonita do que o brilho de felicidade em seus olhos e a fartura do seu sorriso franco!

 

27/03/2013

 

               

               

 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Se você fosse um homem eu quebrava a sua cara!

Cyntia Pinheiro


"Se você fosse um homem eu quebrava a sua cara". Ouvi essa frase hoje em um supermercado e estremeci.
Era cedo, cerca de nove horas da manhã, havia pouca gente fazendo compras, o local estava bem tranquilo.
Cheguei ao caixa com os produtos que desejava adquirir, quando os berros de um homem chamaram a minha atenção. Ele esbravejava, xingava e dizia palavras absurdamente grosseiras à moça do caixa, que entre assustada e indefesa, apenas ouvia silenciosamente.
O homem aparentava uns cinquenta e poucos anos, grisalho, bem vestido, boa aparência, apesar da cara de ave (sim, ele parecia um gavião de olhos bem arregalados - coisa que só percebi na saída e mais adiante explico a razão).
A confusão aconteceu mais ou menos uns dez caixas adiante do que eu estava e eu não faço ideia do que houve, mas isso pouco importa. Não vejo razão alguma para tamanha agressão. Nada no mundo justifica que um homem diga semelhantes palavras a uma mulher. Especialmente, uma mulher que está ali representando uma empresa, fazendo nada além do que prestar um trabalho.
Claro que algo aborreceu o homem, e é claro que a moça do caixa pode ter feito algo de errado, mas não, nada me convence de que não houve excesso. O mundo está cheio de gente coberta de razão.
Pessoas cheias de razão não deveriam sair às ruas, porque não conseguem se relacionar com outras pessoas.
Problemas todo mundo tem, mas educação hoje é artigo de luxo! E quem vive cheio de razão nem sempre é capaz de desfrutar da serenidade que a boa educação agrega e saem por aí descontando seus problemas e frustações nos outros.
Me dirigi ao carro angustiada com o que presenciara e ao sair do estacionamento, passando em frente à porta principal do supermercado, vi o homem de perto, ele saia do recinto carregando um pacotinho de pão-de-forma na mão, sim, pão-de-forma, provável motivo da confusão, e olhou para mim com uma cara de arrogância como jamais vi igual, foi aí que notei que ele tinha cara de ave. Um gavião. Grisalho. Olhos esbugalhados. Cheio de razão!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

TIÃO MAIS CONCEIÇÃO

Texto de Cyntia Pinheiro.

(Este é mais um textinho que fiz para teatro, fez teeeeeeeeeeeeempo, foi em 1996 quando vim morar em Montes Claros, tinha 18 aninhos, foi apresentado na faculdade com adaptações e também no Forró do Lorenzo do Conservatório há uns três anos) Divirtam-se:
 


NARRADOR:  

Boa noite, boa tarde, bom dia!
Vô lhes contá um causo
Que assucedeu outro dia.
 
Era uma veiz uma famia
Lá das banda do nordeste
Tinha uma mãe muito pia
E o pai era um cabra da peste.

A fia, uma moça prendada,
Mas era feia, muito arrasada.
Cunheceu um rapaiz
E logo ficô arriada

Um dia o cabra sumiu
E deu uma sardade danada,
Mas quando o coitado vortô
A festa já tava arrumada.

Fugí era um pôco arriscoso
A mode que o pai era pirigoso
E o danado do noivo,
já tinha feito o gostoso.

A noiva prenha e desonrada
A famia intêra aprumada
O padre já na ispera
E o noivo naquela quimera!

Com um "resolve" no lombo
E a dama segurando o pombo
O jeito foi casá.

Ah! Mais a festa foi boa,
O forró nóis dancemo
O quentão nóis bebemo
E o noivo nem tá mais sofreno

Ocêis tinha que tá lá prá vê
A noiva já embuxada
E o noivo sem bem-querê.
Essa é a história que nóis vai contá procê.

 
CENÁRIO: O NOIVO NA PLANTAÇÃO, ENTRA A NOIVA E FICA A RONDAR...


NOIVO:

Ochente, quem é ocê
Que véve a me arrudiá
Parece que qué me vê
O intão qué me falá.

NOIVA:

Né só vê que quero não
Quero sabê o seu nome
O meu é Conceição.

NOIVO:

Eu chamo é Tião
Se ocê é Conceição
Nóis pode namorá intão

NOIVA:

Vixe! Que avexamento!
É agora que eu to quereno
Cum dé fé o derradêro
Vai sê nosso casamento.

NOIVO:

Casá eu num caso não
Só quero mermo é bejá
Ê trem danado de bão
Coisa mió num há.

NOIVA:

Tá acertado intão,
Tião mais Conceição,
Mais agora vou-me já
Senão meu pai vai lhe capá.

NOIVO:

Se me capa tá danado
Mais dê cá meu isperado
Quero bejá ocê
Pra valê o contratado.

NOIVA:

Já sei que ocê tá quereno
É se apruveitá de mim
Num bejo, num bejo, num bejo
Dispois nóis namora um tiquim.


NUMA OUTRA CENA ESTÁ O PAI E A MÃE DE CONCEIÇÃO, ELA CHEGA

 

CONCEIÇÃO:

Ocêis num sabe o que eu achei
No meio da prantação
Um cabra da muléstia
Que arruinô meu coração.

MÃE:

Escute essa maravia
Ela disincaiô
Homi, é sua fia
Que um noivo arrumô!

PAI:

Vamo marcá o casório
Que se o cabra oiá de perto
Vai vê que tá no purgatório
E aí num dá mais certo.

MÃE:

Fia ocê tem que cuá
O chá de mixirica
No imborná de sá
Deixá o cabra tiririca.

CONCEIÇÃO:

Peraí mãinha,
Casá ele num qué não
Inda mais quando ele vê
Que eu sou um canhão.

MÃE:

Num indianta mermo
Ocê me dá sarstifação
Se ocê faiz a simpatia
Pega bem no coração.

PAI:

Quero vê ele num casá
Quando vê minha coleção (MOSTRA AS ARMAS)
A famia vai chegá
E quero padrinho de montão.

 


NARRADOR:

Meus cumpadi ocêis num sabe
É dispois disso tudo
O que Conceição feiz
Cum seu noivo barrigudo.

CONCEIÇÃO:

Tião, nóis ficô noivo
Que casá nóis vai tê.
Meu pai tá incunvidando o povo
Mermo sem ti cunhecê.

TIÃO:

Nóis ainda nem bejô
E eu falei que num casava
Vem aqui meu amô
Pra nóis dá uma apruveitada.

CONCEIÇÃO:

Só vô se ocê falá
Que cumigo qué casá.

 
TIÃO:

Intonce ocê vem
Que dispois nóis cunversa
Pois olhe aqui meu bem
Que hoje eu tô cum pressa.

 
NARRADOR:

Mais Tião ingambeladô
Muita moça já inganô
E dispois de apruveitá
Conceição ele dexô.

Viajô por muitos dia
E num quis aparecê.
Só que ele num sabia
Que também ia sofrê.

O véio pai da moça
Num agüentava mais
Foi buscá o sem vergonha
Pra vê se tinha paz.

Todo mundo quiria sabê
O que ia acontecê
O povo quiria a festa
Que o véi jurô fazê.

Quando suverteu no mundo
Por 4 mêis e 9 dia
Dexô Conceição chorano
Da sardade que sintia

Vortô cum uma arma nas costa
E o povo a isperá.
Conceição com a barriga
Num dava nem pra disfarçá.

O padre preguiçoso
Acordô cedo esse dia
E o povo sem demora
Foi vê a chegada da famia.

Os padrim era Julieta e Manel
Que dero de presente um pouco de sarapatel
Era também Marieta e Serafim
Que truxeram um colchão
todo feito de capim

Zuleica e Abelardo
Truxero só o mal-olhado
Num gostavam do noivo
Que já tava incabulado

Veio também os pai do noivo
Seu Hermilino, num é minino
E Dona Fernergunda, num é corcunda,
Só truxero raiva e insastifação
Pois a noiva feiz o chá só pra sigurá Tião.

De agora indiante é assustadô
Oceis num sabe o vexame que o noivo passô
Como num quiria entrá, o véio apertô.

 
NOIVO:

Eu num quero casá
Cum essa muié banguela
Por isso num vô entrá
Nem vô abrí a cancela.

PAI:

Entra disinfeliz
Senão ocê vai vê
Três furo nesse nariz
Meu RESOLVE vai fazê.

NARRADOR:

O noivo tentou ir embora
Mas num dava pra correr agora
Oiô pra noiva Conceição
Vixe! Pió que assombração!
E o cabelo ruim
Mermo que vê um aramão.

PADRE:

Tião, ocê é um moço
Que trabaia pra vivê
Entrô nesse sufoco
Quê que nóis pode fazê?

TIÃO:

Olhe seu padre
Casá eu num quero não
Essa muié é muito feia
Inté parece assombração.

JULIETA:

É, na hora de fazê o gostoso
Botô um trabissêro na cara
Agora fica o bustiquento aí
Enrolado a pobre desonrada.

MANEL:

É mermo seu padre
Disincaia essa muié
Pois nóis qué dançá forró
E cumê muito paste.

PADRE:

Intonce nóis já vamo rompê
Mais Conceição ocê sabe
Esse homi num qué ocê.
 
CONCEIÇÃO:

Eu sei seu padre
Isso num é novidade
Mas nenhum qué
Essa é a verdade.

PADRE:

Seu Tião, o sinhô aceita
Entrá na forca e casá cum Conceição?

TIÃO:

E tem jeito de falá não
Cum o pai dela nas costa
Sigurando um revolvão?

PADRE:

Conceição, ocê que é incaiada
Qué casá cum Tião?

CONCEIÇÃO:

Num tem jeito,
Eu quero sim
Pois num vô achá ôtro
cum corage de oiá pra mim.

ZULEICA:

Ande logo seu padre
Que o quentão vai isfriá.

ABELARDO:

Indianta esse negóço
Pru forró nóis cumeçá.

MARIETA:

Ahhhhhh! (CHORANDO)
Discurpa, mais eu chego emocioná,
Um rapais inté bunito
Minha afiada vai sigurá.

SERAFIM:

Cala a boca muié
Num interrompe o sirviço
Casô a mode que ta prenha
E nóis num tem nada cum isso.

MÃE DO TIÂO:

O meu fio esse rapaiz
Nem apruveitô da vida
Agora ta casano
Cum essa desenxabida.

 
PAI DA CONCEIÇÃO:

                                Minha fia é prendada
E é moça direita
Só é um pôco arrasada
Mais inda vai sê prefeita.

PADRE:

Cala a boca por favô
Que eu priciso terminá
Esse casamento da muléstia
Para a festa cumeçá.
Se o noivo tive corage
A noiva pode bejá.

NOIVO:

Corage num tenho não
E num vô nem tentá
Pode ligá o são
Pru forró nóis cumeçá.

NARRADOR:

Ocêis num sabe que tristeza
Acabô assucedendo
Enquanto o povo dançava
A noiva ali sofreno
Tião foi bem dançá
Com as moça que tava lá
Nem viu Conceição
Que se pôs a chorá.
Só que essa tristeza
Inda vai sê maió
Quando ela dé pru fé
Ô dó!
No meio do rasta pé
Foi que Tião armô
Fugiu com a madrinha
Que a todo mundo inganô
Fingindo num gostá do noivo
Zuleica de Abelardo
Ingambelô o povo
Que ficô todo avexado!
No fim do forrozão
Foi que veio a tristeza
Na maió disilusão
Abelardo e Conceição
Sobraro que foi uma beleza!
Sem marido e sem muié
Cum a raiva lá dentro
Avisaro pro veio
Que ficô ferveno.
Cum a arma na cinta
Ocêis sabe o que ele fêiz?
Foi atrais do noivo?
Nunca mais ôtra vêiz.
Feiz foi ajuntá os dois
Pra mode eles assussegá
Foi uma locura,
Nóis num pode negá.
Mais o cabra da muléstia
Só eu sei o quê que virô
Contô essa história
Fingindo sê narradô.
No finar desse causo
Nem todos ficô feliz
Coitado do Abelardo
Num teve o finar qui quis.

 

 

(Cyntia Cybelle Pinheiro)

Escrito em 1996.

 

 

 

 

 

 

 

 

A Rosa e o Cravo

Este é um singelo texto que fiz para o meu irmão Giordano Pinheiro musicar e para ser apresentado pela equipe de musicalização do Conservatório Lorenzo Fernandez em fevereiro de 2011, e ele ainda não terminou de musicar... rs... Então compartilho para que vocês façam as merecidas críticas, antes que ele vire música. Beijinhos, Cyntia.

A Rosa e o Cravo
 
 Texto de Cyntia Pinheiro

Música de Giordano Pinheiro

Fevereiro / 2011

 
Cena 1: O palco é um jardim e a menina entra para regar suas flores cantando:

 Música:


O suave perfume do amor
São delícias em forma de flor
E as gotinhas de orvalho a beijar
Cada pétala faz cintilar...

Hum...
 
A beleza do jardim em flor
São as cores que fazem vibrar
Borboletas trazendo o frescor
Passarinhos que vêm visitar...

Hum...

Cena: Enquanto rega, conversa com as flores:

Menina:

Crisântemos tão queridos!
Enfeitam meu coração
Tão belos e tão coloridos,
Fazem festa na estação.

Margaridas tão delicadas
Orvalhadas e belas,
Mais felizes sois
Em todas as primaveras!

Ah, girassóis!
Quantos sóis perseguem de dia
Enchem meu jardim de beleza
E a vida de nostalgia!

O meu cravo solitário
Tão bonito e tão só
Precioso relicário
Tanta pena! Tanta dó!

Roseiras, begônias e alecrins
Margaridas, crisântemos e jasmins
Como é bom ter flores pra enfeitar
Um jardim tão lindo de cuidar!

Música tensa – muda a entonação

Mas, ouçam-me com toda atenção!
Antes que a lua cheia caia, no negro céu escuridão
A mais bela dentre vós eu vou buscar
Vou colhê-la para um vaso enfeitar
Pois uma flor alegra todo coração
E é uma oferta especial, de gratidão!
 
Cena: A menina sai cantarolando a música do começo. As flores discutem entre si:
 
Rosas: Vocês ouviram? O que está por vir?
Begônias:  Ai, ai, minhas pétalas vão cair!
Alecrins: Ela vai escolher uma flor, a mais bela do jardim.
Girassóis: Com certeza isso vai
                   Acabar sobrando pra mim!
Margaridas: O que vai acontecer?
                        Ela disse que vai nos colher?

Cravo:      Ora, ora quanto alvoroço!
                  Ser colhido não é pra um qualquer
                  Eu aqui sou o único moço
                   Ela nem vai precisar do bem-me-quer
                   Seja lá o que for isso de colher
                   Estou certo de que sou especial
                   Vocês vão ver o que vai acontecer
                   O cravo sendo aclamado na geral
 
Girassóis: Você não tem razão
                   Só pode estar muito doente
                   É claro que o girassol
                   É muito mais imponente

Crisântemos:      Ai, ai, quanto desgaste
                            Olhem bem, vejam vocês,
                            Não perceberam as cores fortes?
                            Dos crisântemos chegou a vez.

Cravo:      Não agüento mais tanta bobagem
                   Ela gosta bem mais de mim
                   Que sou o único cravo nessa paisagem
                   Não percam seu tempo discutindo assim

Rosa:        Não sei não, meus amigos
                   Esse negócio de colher
                   Está me cheirando a perigo
                   Ai, quem me dera poder correr!
 
Cravo:      Pronto, chegou a dona desconfiança
                  Não agüenta a idéia de que vai perder
                   Quanta ignorância! Rosa, desiste!
                   Essa festa não é para você!

Rosa:        Mas eu nem quero concorrer
                   Tenho é medo de ser colhida
                   Não sei se isso vai doer

Cravo:      Doer? Claro que não!
                   Não dói virar celebridade
                   Minha clorofila purpurinada
                   Nos holofotes será realidade!

Rosa:        Cravo, não penso assim
                  Tem algo estranho no ar
                   Penso que algo ruim  
                   Vai acontecer, pode apostar!
 
Cravo (debochado):  A fotossíntese você já fez?
                                      Porque tá parecendo biruta
                                      Eu sou melhor que vocês
                                      E, por favor, Rosa, não discuta!
                                      Você ainda é um botão
                                      Portanto, fique em seu lugar
                                      Você não tem chance não
                                      Então pare de me agourar!
         E grita:                Sai pra lá!!!!!!!!

Rosa:        Cravo, mas e nossa amizade?
                   Você não fica triste?

Cravo:      Eu vou virar celebridade
                   Nossa amizade não mais existe!
 
Todas as flores:          Oh! A amizade acabou!
                                      E agora, o que restou?

Música:  O cravo brigou com a rosa

Todas as flores: Calma, Rosa!
                             Não fique assim tão triste
                              O tempo cuidará do cravo
                              Confie em nós, acredite!

Begônias: Nos dias que se seguiram
                  A rosa só pôde chorar
                   E o cravo mesmo doente
                   Não se deixou cuidar

Alecrim:   Ficava aborrecido
                   Em um canto, muito irritado
                   Pensando no acontecido
                   E não se dando por achado!

Girassóis: A rosa, pobrezinha
                   Lamentava, fazia dó
                   Tinha pena de ver como o cravo
                   Não tinha amigos, estava só!

Crisântemos:     Mas não adiantou
                           Tanto pranto e infelicidade
                            O cravo se recuperou
                            E logo voltou a realidade
 
Margaridas:      A rosa que já murchava
                            Ficou feliz em ver que o cravo
                            Já não agonizava
                            Ganhou viço, desabrochou,
                            Majestosa, bela e branca!
                            Ainda gostava do cravo
                            Nisso era bem franca.
 
Begônias: O cravo continuava petulante
                   Tinha certeza de que ganharia
                   Uma guerra que ele criara
                   No mundo da fantasia
                   Confiava em seu semblante
                   E na pinta de galanteria
 
Música tensa / meia luz
 
Alecrins:   Eis que aconteceu
                  Quando o jardim dormia
                   A lua cheia boiava
                   No negro céu que surgia

Girassóis: Contam as margaridas
                  Que a menina chegou sorrateira
                   Tesoura em punho levou a rosa
                   Com um único golpe, certeira!

Música de suspense

Crisântemos:     E lá está seu lugar
                            Vazio e desolado
                            Assim como se sente o cravo
                            Depois do golpe amargo
 
Margaridas:      O jardim se entristeceu
                            Sem a rosa pálida e singela
                            O cravo quase morreu
                            De tanta saudade dela

Cravo:      Como dói meu coração!
                   Que tragédia aconteceu
                   Como fui tolo e insensato!
                   Devia mesmo ter sido eu.
 
                   A rosa não merecia
                   Um destino assim tão mau
                   E eu que aqui pensava
                   Que ser colhido era legal!
 
                   Como posso ter brigado
                   Com uma amiga só por vaidade?
                   Amizade vale tanto
                   Por que perder por bobagem?
 
                   Agora eu aqui só lamento
                   A falta que ela me faz
                   Seguirei com meu tormento
                   Até quando? Não sei mais!
 
Techo de Música: Carolinha – Chico Buarque / somente o trecho que diz: “... uma rosa morreu... nosso barco partiu... etc”
 
Begônias: O cravo finalmente
                   Aprendeu a grande lição
                   Amizade vale muito
                   Brigar não é bom não!
 
Alecrins:   E quando essa história
                   Estava quase chegando ao fim
                   Ela voltou ao começo
                   Uma surpresa pro alecrim
 
Margaridas:      O jardim voltará a sorrir
                            Disso eu tenho certeza
                            Começando tudo outra vez
                            Para acabar com a tristeza
 
Girassóis: Três dias depois que a rosa partiu
                   A menina voltou ao jardim
                   Com um vaso bem pequeno
                   E o plantou bem perto de mim
 
Crisântemos:     E disse com os cabelos ao vento
                            Uma coisa muito importante
                            Que nesse curto espaço de tempo
                            Já era pra nós emocionante!
 
Menina:    Nesse vaso trago nova
                   A sementinha do amor
                   Plantei uma mudinha
                   Da rosa que desabrochou
 
                   A mamãe ficou feliz
                   Em ganhá-la de presente
                   Mas sabe que uma flor
                   No jardim é mais contente
 
Cena: As flores gritam e comemoram cantando a música final:
 
Refrão:      Menino, o teu jardim tem flor? Ôôô
                   Cuide com amor (bis)
 
                   Menino cuide bem do teu jardim
                   E uma flor vai nascer tão linda assim
                   Não precisa ser a mais especial
                   A beleza quando surge é natural
 
 
FIM