Cyntia Pinheiro
02/05/13
O diferente incomoda. E não é pouco. Incomoda tanto que é necessário
colocar pra fora. Explicitar.
Crianças desde cedo começam a notar o diferente. O que não
se enquadra é sempre motivo de comentários. Em um primeiro momento são só
constatações, nada maldoso, nada de bulliyng. Já que este é concomitante com o
nascimento da malícia, da “maldadezinha” que só criança mais velha tem.
E elas começam a notar o menino que usa óculos, o magricela,
o gorducho, o baixinho, o negro, a sardenta, o dentuço, a de cabelos crespos, a
nariguda...
Se fossem deuses da beleza vivendo no Olimpo da perfeição
até que eu poderia concordar, mas não o são, o que as pessoas precisam perceber
desde tenra infância é que ninguém tem o direito de apontar a diferença do
outro como sendo um defeito, porque todos somos diferentes e nem por isso
nossas diferenças constituem defeitos.
Sofri bulliyng a minha infância inteira por causa da minha
estatura, tenho indiscutíveis 1,50m de
estatura, quando era criança/adolescente, isso me incomodava muito, mas hoje
vejo como sendo uma grande vantagem, pois todos sempre me atribuem menos idade
do que tenho.
Os apelidos eram terríveis, de péssimo gosto, há uma palavra
que mal consigo pronunciar de tão perversa...
Mas passou! Ufa! Passou! Porém, à época, os danos à autoestima foram
terríveis.
E agora, começo a sofrer novamente porque sei que os meus
filhos passarão pelo mesmo problema. Eles são e serão pequenos para todo
sempre, amém. O que eu puder fazer para que eles cresçam eu farei, aliás já estou
fazendo, mas sei que não há muito para ser feito.
O mais velho tem seis anos e, na escola, sempre foi o menor
da turma e talvez seja sempre assim. Hoje, ao leva-lo à escola encontramos na
porta uma coleguinha que o acompanha desde o maternal, ela disse:
- Samuel parece que tem quatro anos.
Fiquei meio perdida, meio sem saber o que dizer, então
respondi:
- Mas ele é muito fofo, né?
Ela respondeu:
- É, ele é fofo mesmo. Só é pequenininho...
Abracei meu filhote e respondi:
- Sabe por que ele é pequenininho? Porque a mãe dele é
pequenininha, o pai é pequenininho e o irmão dele também. E você sabia que é
muito bom ser pequeno assim?
Para minha surpresa ela respondeu:
- Eu sei sim, as pessoas pequenas se escondem melhor no
esconde-esconde e são mais rápidas também.
Com aquela resposta dei o assunto por encerrado. Vi que se
tratava só de constatação e que não evoluiria para um bulliyng. Mas já é a
segunda vez esse ano que passo por esse tipo de situação com meu filho, e sei
que outras virão e coisas beeeeeeem piores serão ditas. Não sei muito bem como
agir, se ele fosse gordinho eu teria a resposta na ponta da língua: “ se você não
quer que te chamem de gordo, emagreça”, mas, infelizmente, não dá pra dizer: “
se não quer ser chamado de baixinho, cresça”. Como não dá pra dizer ao negro: “
embranqueça”.
Nós temos que aceitar o que não pode ser mudado, mas podemos
mudar a mentalidade das crianças para que as diferenças sejam respeitadas. E,
trabalhar também, as sensibilidades. Afinal, nem tudo nesse mundo é bulliyng.
Diferença é apenas diferença e todo mundo tem alguma. Dizer
que o outro é gordo pode ser ou não uma ofensa, depende do contexto em que isso
é dito. Referir-se a alguém pelo seu tom de pele também, detesto quando dizem
que fulano é “escurinho” ou “moreninho” quando a pessoa é negra, é negro e
pronto, tem que se orgulhar disso, não é motivo para constrangimentos, exceto
quando o contexto favorece a ofensa.
Já me chamaram de apelidinhos tão carinhoso que eu gostei,
mas já me disseram coisas tão grotescas que eu detestei, tudo é contexto e
intenção, essa é a que vale!
Devemos ensinar as nossas crianças a respeitar as
diferenças, para um mundo mais feliz!
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