(Este é mais um textinho que fiz para teatro, fez teeeeeeeeeeeeempo, foi em 1996 quando vim morar em Montes Claros, tinha 18 aninhos, foi apresentado na faculdade com adaptações e também no Forró do Lorenzo do Conservatório há uns três anos) Divirtam-se:
NARRADOR:
Boa noite, boa tarde, bom dia!
Vô lhes contá um causo
Que assucedeu outro dia.
Era uma veiz uma famia
Lá das banda do nordeste
Tinha uma mãe muito pia
E o pai era um cabra da peste.
A fia, uma moça prendada,
Mas era feia, muito arrasada.
Cunheceu um rapaiz
E logo ficô arriada
E logo ficô arriada
Um dia o cabra sumiu
E deu uma sardade danada,
Mas quando o coitado vortô
A festa já tava arrumada.
Fugí era um pôco arriscoso
A mode que o pai era pirigoso
E o danado do noivo,
já tinha feito o gostoso.
A noiva prenha e desonrada
A famia intêra aprumada
O padre já na ispera
E o noivo naquela quimera!
Com um "resolve" no lombo
E a dama segurando o pombo
O jeito foi casá.
Ah! Mais a festa foi boa,
O forró nóis dancemo
O quentão nóis bebemo
E o noivo nem tá mais sofreno
Ocêis tinha que tá lá prá vê
A noiva já embuxada
E o noivo sem bem-querê.
Essa é a história que nóis vai
contá procê.
CENÁRIO: O NOIVO NA PLANTAÇÃO, ENTRA A NOIVA E FICA A
RONDAR...
NOIVO:
Ochente, quem é ocê
Que véve a me arrudiá
Parece que qué me vê
O intão qué me falá.
NOIVA:
Né só vê que quero não
Quero sabê o seu nome
O meu é Conceição.
NOIVO:
Eu chamo é Tião
Se ocê é Conceição
Nóis pode namorá intão
NOIVA:
Vixe! Que avexamento!
É agora que eu to quereno
Cum dé fé o derradêro
Vai sê nosso casamento.
NOIVO:
Casá eu num caso não
Só quero mermo é bejá
Ê trem danado de bão
Coisa mió num há.
NOIVA:
Tá acertado
intão,
Tião mais
Conceição,
Mais agora
vou-me já
Senão meu pai
vai lhe capá.
NOIVO:
Se me capa tá danado
Mais dê cá meu isperado
Quero bejá ocê
Pra valê o contratado.
NOIVA:
Já sei que ocê tá quereno
É se apruveitá de mim
Num bejo, num bejo, num bejo
Dispois nóis namora um tiquim.
NUMA OUTRA CENA ESTÁ O PAI E A MÃE DE CONCEIÇÃO, ELA CHEGA
CONCEIÇÃO:
Ocêis num sabe o que eu achei
No meio da prantação
Um cabra da muléstia
Que arruinô meu coração.
MÃE:
Escute essa maravia
Ela disincaiô
Homi, é sua fia
Que um noivo arrumô!
PAI:
Vamo marcá o casório
Que se o cabra oiá de perto
Vai vê que tá no purgatório
E aí num dá mais certo.
MÃE:
Fia ocê tem que cuá
O chá de mixirica
No imborná de sá
Deixá o cabra tiririca.
CONCEIÇÃO:
Peraí mãinha,
Casá ele num qué não
Inda mais quando ele vê
Que eu sou um canhão.
Que eu sou um canhão.
MÃE:
Num indianta mermo
Ocê me dá sarstifação
Se ocê faiz a simpatia
Pega bem no coração.
PAI:
Quero vê ele num casá
Quando vê minha coleção (MOSTRA
AS ARMAS)
A famia vai chegá
A famia vai chegá
E quero padrinho de montão.
NARRADOR:
Meus cumpadi ocêis num sabe
É dispois disso tudo
O que Conceição feiz
Cum seu noivo barrigudo.
CONCEIÇÃO:
Tião, nóis ficô noivo
Que casá nóis vai tê.
Meu pai tá incunvidando o povo
Mermo sem ti cunhecê.
TIÃO:
Nóis ainda nem bejô
E eu falei que num casava
Vem aqui meu amô
Pra nóis dá uma apruveitada.
CONCEIÇÃO:
Só vô se ocê
falá
Que cumigo qué casá.
TIÃO:
Intonce ocê vem
Que dispois nóis cunversa
Pois olhe aqui meu bem
Que hoje eu tô cum pressa.
Mais Tião ingambeladô
Muita moça já inganô
E dispois de apruveitá
Conceição ele dexô.
Viajô por muitos dia
E num quis aparecê.
Só que ele num sabia
Que também ia sofrê.
O véio pai da moça
Num agüentava mais
Foi buscá o sem vergonha
Pra vê se tinha paz.
Todo mundo quiria sabê
O que ia acontecê
O povo quiria a festa
Que o véi jurô fazê.
Quando suverteu no mundo
Por 4 mêis e 9 dia
Dexô Conceição chorano
Da sardade que sintia
Vortô cum uma arma nas costa
E o povo a isperá.
Conceição com a barriga
Num dava nem pra disfarçá.
O padre preguiçoso
Acordô cedo esse dia
E o povo sem demora
Foi vê a chegada da famia.
Os padrim era Julieta e Manel
Que dero de presente um pouco de
sarapatel
Era também Marieta e Serafim
Que truxeram um colchão
todo feito de capim
Zuleica e Abelardo
Truxero só o mal-olhado
Num gostavam do noivo
Que já tava incabulado
Veio também os pai do noivo
Seu Hermilino, num é minino
E Dona Fernergunda, num é
corcunda,
Só truxero raiva e insastifação
Pois a noiva feiz o chá só pra
sigurá Tião.
De agora indiante é assustadô
Oceis num sabe o vexame que o
noivo passô
Como num quiria entrá, o véio
apertô.
NOIVO:
Eu num quero casá
Cum essa muié banguela
Por isso num vô entrá
Nem vô abrí a cancela.
PAI:
Entra disinfeliz
Senão ocê vai vê
Três furo nesse nariz
Meu RESOLVE vai fazê.
Meu RESOLVE vai fazê.
NARRADOR:
O noivo tentou ir embora
Mas num dava pra correr agora
Oiô pra noiva Conceição
Vixe! Pió que assombração!
E o cabelo ruim
Mermo que vê um aramão.
PADRE:
Tião, ocê é um moço
Que trabaia pra vivê
Entrô nesse sufoco
Quê que nóis pode fazê?
TIÃO:
Olhe seu padre
Casá eu num quero não
Essa muié é muito feia
Inté parece assombração.
JULIETA:
É, na hora de fazê o gostoso
Botô um trabissêro na cara
Agora fica o bustiquento aí
Enrolado a pobre desonrada.
Botô um trabissêro na cara
Agora fica o bustiquento aí
Enrolado a pobre desonrada.
MANEL:
É mermo seu padre
Disincaia essa muié
Pois nóis qué dançá forró
E cumê muito paste.
PADRE:
Intonce nóis já vamo rompê
Mais Conceição ocê sabe
Esse homi num qué ocê.
CONCEIÇÃO:
Eu sei seu padre
Isso num é novidade
Mas nenhum qué
Essa é a verdade.
PADRE:
Seu Tião, o sinhô aceita
Entrá na forca e casá cum Conceição?
Entrá na forca e casá cum Conceição?
TIÃO:
E tem jeito de falá não
Cum o pai dela nas costa
Sigurando um revolvão?
PADRE:
Conceição, ocê que é incaiada
Qué casá cum Tião?
CONCEIÇÃO:
Num tem jeito,
Eu quero sim
Pois num vô achá ôtro
cum corage de oiá pra mim.
ZULEICA:
Ande logo seu padre
Que o quentão vai isfriá.
ABELARDO:
Indianta esse negóço
Pru forró nóis cumeçá.
MARIETA:
Ahhhhhh! (CHORANDO)
Discurpa, mais eu chego emocioná,
Um rapais inté bunito
Minha afiada vai sigurá.
SERAFIM:
Cala a boca muié
Num interrompe o sirviço
Casô a mode que ta prenha
E nóis num tem nada cum isso.
MÃE DO TIÂO:
O meu fio esse rapaiz
Nem apruveitô da vida
Agora ta casano
Cum essa desenxabida.
Cum essa desenxabida.
Minha fia é prendada
E é moça direita
Só é um pôco arrasada
Mais inda vai sê prefeita.
PADRE:
Cala a boca por favô
Que eu priciso terminá
Esse casamento da muléstia
Para a festa cumeçá.
Se o noivo tive corage
Para a festa cumeçá.
Se o noivo tive corage
A noiva pode bejá.
NOIVO:
Corage num tenho não
E num vô nem tentá
Pode ligá o são
Pru forró nóis cumeçá.
NARRADOR:
Ocêis num sabe que tristeza
Acabô assucedendo
Enquanto o povo dançava
A noiva ali sofreno
Tião foi bem dançá
Com as moça que tava lá
Nem viu Conceição
Que se pôs a chorá.
Só que essa tristeza
Inda vai sê maió
Quando ela dé pru fé
Ô dó!
No meio do rasta pé
No meio do rasta pé
Foi que Tião armô
Fugiu com a madrinha
Que a todo mundo inganô
Fingindo num gostá do noivo
Zuleica de Abelardo
Ingambelô o povo
Que ficô todo avexado!
No fim do forrozão
Foi que veio a tristeza
Na maió disilusão
Abelardo e Conceição
Sobraro que foi uma beleza!
Sem marido e sem muié
Cum a raiva lá dentro
Avisaro pro veio
Que ficô ferveno.
Cum a arma na cinta
Ocêis sabe o que ele fêiz?
Foi atrais do noivo?
Nunca mais ôtra vêiz.
Feiz foi ajuntá os dois
Pra mode eles assussegá
Foi uma locura,
Nóis num pode negá.
Mais o cabra da muléstia
Só eu sei o quê que virô
Contô essa história
Fingindo sê narradô.
No finar desse causo
Nem todos ficô feliz
Coitado do Abelardo
Num teve o finar qui quis.
(Cyntia
Cybelle Pinheiro)
Escrito
em 1996.
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