Cyntia Pinheiro
Acabo de retornar de agradável passeio à casa dos meus pais em Taiobeiras. Fomos eu e meus pequenos Samuel e Vinícius passar uma semana por lá e o maridão/paizão nos buscou no fim de semana.
É bom viajar, mas também é bom retornar. Porém, apesar de agradáveis - passeio e retorno - , uma imagem marcará para sempre a minha vida, uma imagem triste para mim.
No dia 17 de maio estive visitando minha avó paterna, a quem carinhosamente chamo do Vovó Lita. Ela que sempre foi uma mulher alegre, divertida, cheia de piadas e sorrisos largos, padece há algum tempo do famigerado Alzheimer. Nas outras visitas que fiz, em outras idas a Taiobeiras, apesar de decadente, vovó me parecia melhor, seus olhinhos ainda brilhavam, sua voz ainda era ouvida e ela podia se mover com facilidade.
Dessa vez, cortou-me o coração vê-la parada, olhar distante entre um cochilo e outro, imóvel por quase todo o tempo. Já não sustenta a saliva e sua face está rígida. Não é a mesma vovó. Vovó Lita tinha uma voz estridente, barulhenta, alegre, tinha sempre uma piadinha pronta e me contava seus romances dos tempos de solteirice. Trabalhou e aposentou-se nos correios, tinha uma letra bonita, fluida e uma boa cabeça para os números.
Apaixonados, ela e o vovô, até pouco antes da doença, poderiam ser vistos em qualquer noite passeando de mãos dadas pela pracinha no centro da cidade. Dinâmica, inteligente, feliz. Assim era a vovó. Como pôde ficar desse jeito tão tristonho de se ver?
Com zelo as tias queridas cuidam dela dia e noite e o vovô já nem espera mais que o tempo a faça melhorar, o vovô continua acarinhando, beijando, amando como a amou a vida inteira, sempre foram um casal lindo de se ver. Jamais brigaram, sempre os víamos namorando, mesmo com o embranquecer dos cabelinhos.
Ao sair, mesmo tendo ouvido dizerem que ela já não reconhece mais ninguém, peguei com firmeza em seus ombros, e perguntei: "Vovó, você se lembra de mim? Sou a Cyntia" e ela olhou no fundo dos meus olhos, fez um minúsculo gesto de afirmação e uma grossa lágrima escorreu pelo canto de seu olhinho esquerdo.
Jamais me esquecerei desse momento, que me emociona, entristece e que me marcou para sempre.
Que Deus lhe conforte, vovó querida, todos os dias, até que chegue o dia de partir.
Com todo afeto do meu coração,
Cyntia Pinheiro.
domingo, 20 de maio de 2012
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oh Cyntia, vc sempre me faz chorar...
ResponderExcluirEsses avisos de que a vida está fechando mais um dos seus ciclos são muito doloridos.O importante é não esuqecer que, de uma forma ou de outra, apesar da doença, ela está lá dentro com tudo que viveram juntas.
Beijos afetuosos...