Cyntia Pinheiro
Quando eu era criança e morava na cidade de Taiobeiras, a leitura diária era parte de meus hábitos, eu apreciava os quadrinhos que meu pai assinava com freqüência e semanalmente recebíamos exemplares novos em nossa casa. As minhas revistinhas prediletas eram as do Pato Donald e do Tio Patinhas. Lendo eu viajava.
Em uma dessas viagens ao mundo da fantasia, descobri a Maga Patalójika, uma patinha-bruxa cuja ambição era furtar a moedinha número 1 do Tio Patinhas. Para mim, a Maga era linda, tinha cílios imensos e os cabelos perfeitos, negros, na altura dos ombros, ao estilo channell. Decidi que queria ter aquele cabelo.
Há registros fotográficos em que apareço aos sete aninhos com os cabelos na altura dos ombros, escovados “à la Maga”.
Neste intento capilar, eis que certo dia, retornava à nossa cidade, um primo recém-casado com uma moça carioca. Ela era linda! Tinha um rosto de gueixa, redondo e alvo, olhos bem puxados, lábios de um vermelho sangrento, desses que não precisam de batom. Mas o que mais me chamou a atenção naquela nova prima era o seu cabelo, perfeito, exatamente igual ao da Maga Patalójika da revistinha em quadrinhos. Era um channell tão bem feito, tão preto, liso e brilhante que eu fiquei encantada! Quis ter igual.
Minha mãe passou a levar-me com freqüência ao salão de Nízia, a melhor e mais famosa cabeleireira da cidade à época, cujo salão ficava na nossa rua. Aquele foi um ano de incontáveis tratamentos capilares, uma tal de touca de gesso que levava horas para ficar pronta, banho de brilho, alisamentos mal-cheirosos e mil outras artimanhas para ficar parecida com a prima e, conseqüentemente, com a Maga.
No boteco de seu Cindo havia de tudo, todos os “sabores” de xampu da marca “Colorama”, xampu de ovos para cabelos oleosos, xampu de mel para cabelos secos, de lanolina para cabelos crespos e assim por diante, experimentei cada um deles, sem deixar de lado o mais importante de todos, o creme rinse. Era um creme cor-de-rosa com um cheiro ótimo, que dava até vontade de comer, era o único condicionador capilar que eu conhecia. O xampu variava, mas o creme rinse era inevitável, o cabelo ficava gostoso de pentear, com cheirinho imitando groselha.
Um ano se passou e mais uma vez, nas festividades natalinas, a família se reuniria como era de praxe. Fiquei ansiosa esperando as primas chegarem de São Paulo, especialmente aquela esposa do meu primo, queria rever o seu cabelo perfeito e mostrar a ela os avanços pelos quais os meus cabelos haviam passado. Claro que Nízia me socorreu com os tratamentos habituais e a imprescindível escova.
Para minha surpresa, a prima estava com os cabelos completamente diferentes, eles continuavam negros, mas agora estavam imensos, abaixo da cintura, repicados e, ainda mais lindos!
Fiquei arrasada em ver que meus cabelos jamais ficariam tão lindos quanto os da prima, ela era imbatível! Como conseguiu que seu cabelo crescesse tanto em um ano, enquanto os meus fiapos ingratos mal passaram dos ombros?
Essa pergunta deixou muita gente de cabelo em pé também e não apenas eu. Uma outra prima, também em férias e possuidora de madeixas generosas, chamou a esposa do primo para uma conversa, era um momento feminino, uma troca de “figurinhas”, afinal, a mulherada toda estava curiosa e ninguém tinha coragem de perguntar qual o segredo para tanta velocidade de crescimento capilar e de tanta beleza em suas madeixas.
A esposa do primo apenas sorriu e disse:
- Ah! Eu não fiz nada não, na verdade não ligo muito pro meu cabelo, uso qualquer xampu, o mais vagabundinho do mercado mesmo, a única diferença é que uso o melhor condicionador que existe, que é o neutrox, não troco ele por nada!
A outra prima, não menos bela e desfrutando da generosidade de sua cabeleira lisa, sorriu e disse:
- Eu também não ligo muito pra cabelo, uso xampu barato, só tem um que eu não uso de jeito nenhum, que é o tal do Colorama.
Aquela conversa me deixou muito triste, pois eu me esforcei muito para que meu cabelo fosse melhor, minha mãe gastou uma nota comigo em salão, experimentei todos os xampus da marca Colorama que havia na venda de Seu Cindo, e a natureza estava sendo ingrata comigo, eu jamais teria um channell perfeito como elas poderiam desfrutar a qualquer momento. Nesse dia eu odiei o meu cabelo!
Aos dez anos de idade fiz luzes, todos riram de mim quando entrei na piscina do clube e meu cabelo ficou verde por uma semana.
O tempo foi passando, a adolescência chegando e fui conhecendo novas marcas de xampu, novos tratamentos capilares, alisamentos, etc. Usei potes e mais potes de condicionadores das mais diferentes marcas e “sabores”, tais como tutano de boi e até um tal de espermacete de baleia, que prefiro não saber do que se trata, usei diversas vitaminas e até misturebas naturais como a baboza com abacate e óleo de amêndoas, e produtos diversos como neutrox, kolene, seda, alisabel, biorene dentre outros incontáveis.
Mais tarde descobri a chapinha e uma vez tingi de loiro, essa foi a pior fase, pois o cabelo ficou horrível e eu também. Sempre gostei de cortar na altura dos ombros e até mais curto, talvez porque ainda alimentasse o desejo de ter o cabelo da Maga Patalójika. Também aderi às progressivas por um tempo.
Um dia me cansei. Cansei de gastar horas e horas, dinheiros e dinheiros com salão de beleza no sábado para lavar o cabelo na segunda-feira e ele voltar a ser aquela coisa fosca, castanha e sem forma (meu cabelo nunca decidiu se queria ser liso ou encaracolado).
Pois bem, me casei, tive filho e outras preocupações bem mais exigentes do que o meu cabelo e foi aí que ele começou a crescer. Dei-lhe uma folga, parei de correr atrás do cabelo ideal. Não me importei mais com marca, nem preço e nem qualidade do xampu, passei a usar o xampu do meu filho, a lavar regularmente, ah, e o mais importante, desisti de querer ser igual à Maga Patalójika.
Hoje o meu cabelo é assim, 100% natural! Castanho, no meio das costas, lindo, perfeito! Tem dias que ele acorda de mau-humor, mas quem não acorda? O importante é que o cabelo dos meus sonhos sempre esteve na minha cabeça e eu não havia percebido. Acho que nós dois só precisávamos de uma coisa para nos entendermos: CRESCER!
quinta-feira, 6 de maio de 2010
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Fiquei aqui rindo sozinha!!! Eu adorava o colorama de babosa....rsrsrrss Você lembra quando vinha umas embalagens individuais? Um saquinho do colorama vendido nas "vendas" kkkkk... Nas férias, eu ainda tinha que dividir o tal saquinho com minha prima.Outro dia fizeram uma espécie de versão comemorativa e lançaram um lote do samphoo e do creme rinse naquela embalagem simplória de antigamente. Comprei na hora!!!! kkkkkk
ResponderExcluirNossa... Vc me fez relembar minha infância...
ResponderExcluirAmava creme rinse kkkkkkkkkkk... "e pra ser sincera achava que só eu tinha vontade de comê-lo" rsrsrsrsrs.... bjus.... Sol
heheh! Na verdade pra mim que sou da roça, roça, roção, tinha o cabelo lavado com sabão artesanal, xampu de cidade era finezérrimo. Dá-lhe Neutrox kkkkkkk!!!
ResponderExcluirMuitas saudades, Cyndi! Parabéns pelos posts. Vc arrasa!!! Bjks sem fim. Amo demais você, minha amiga!
ResponderExcluirEu também fui leitor ferrenho dos quadrinhos da Disney, mas não reparava muito nos modelitos e cabelos das patinhas rsrs
ResponderExcluirMas pelo visto foram várias as suas metamorfoses capilares né? Coisas do universo feminino : ) rs
bj
bom!!!!!
ResponderExcluirgostei do txto!
todos tmos q crscer né? ate cablo! mas o meu ta na fase do cair! uhauhauhuhahuahuahuahu
bjim saudade!
Olá Cintya... Realmente a maturidade faz com que tenhamos satisfação plena... Aprendemos a amar tudo que faz parte... de tudo mesmo!
ResponderExcluirbjs
Giselle
Oi cyntia!
ResponderExcluirque bacana, adorei seu texto!!! Fiz uma viagem no tempo... Só senti falta de um desenho da Maga aqui para relembrar, principalmente dos sapatinhos dela, ainda bem que vc gostou mais do cabelo. KKKKK
Muitos beijos, e não deixe de escrever nunca, acho seus textos ótimos.
Iracema.
Oi, passei por aqui.Amanda
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