sexta-feira, 28 de maio de 2010

Decepção

Subi tão alto pra ver você,
Que quando caí, me machuquei...
Simples assim.

sábado, 22 de maio de 2010

Biombo dialético

Cyntia Pinheiro

Por trás do biombo dialético
Dois estranhos trepam.
Orgasmo linguístico!
Não há sexo.
Só há versos.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Terça a tarde

Cyntia Pinheiro

De um verso apaixonado
Brota o úmido veio do amor
Cristalinamente o olhar cândido me fita
Pela tela inerte do meu computador

Imagino-te a galope
Viril sorriso e dolorosa morte
Que uma fantasia quase viva
E de omissa gravidade fala da minha sorte

Nem mil beija-flores possuem a festa
De tamanha embriaguez do mel de teus lábios
Como se de tempos pregressos eu pudesse
Tocar teu busto tosco e segregado

E nem na foice da morte és desventura
Partindo tão cedo para as paragens eternas
Rubro calor de meu rosto febril
Etéreas manhãs, medos e desejos estéreis

Farta mão sobre o meu corpo descobre
Coloridos sentidos e toda minha calma
Possuindo-me nua em tuas carnes de ouro
Calando o tempo no abismo da alma

E na vaziez de minhas entranhas
Dois desconhecidos se extasiam
Não é sexo, não é corpo
É a descoberta da poesia.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Viu, Soraia, viu!

Cyntia Pinheiro


Soraia é uma amizade recente, de poucos meses, mas com status de décadas ou até séculos em meu coração. É uma menina-mulher que, assim como eu, já trintou, mas preserva uma jovialidade tão eloquente que é difícil atribuir a ela mais que uns vinte e cinco anos.

Nos conhecemos agora, em nossa segunda graduação, e só há três meses passamos a nos sentar lado a lado, aí essa moça atrevida olha nos meus olhos e faz um pedido:

- Cyntia, escreva algo pra mim!

E eu, surpreendida com a inusitada proposta apenas sorri (em deboche) dizendo:

- Viu, Soraia, viu...

Confesso que a minha resposta saiu mais em tom de : "Ok, escrevo, mas agora me deixe estudar."

Só que essa moça tem algo misterioso, por mais que eu respondesse sem pensar ou prenteder, seu pedido tornou-se uma ordem. Uma ordem tão imperiosa que ela conseguiu me tirar às duas e quinze da madrugada de minha cama "queen size" quentinha e bem acompanhada para escrever pra ela, ou sobre ela.

Tudo isso porque Soraia é especial, das amizades intensas e maravilhosas que amealhei na vida, ela faz par com Viviane. Possuem algum tipo de magia interior apaixonante, como um ímã especial.

E quem conhece uma nem precisa conhecer a outra para saber como isso se dá, é supreendente e instantâneo! Quem não conhece nenhuma delas precisa conhecer com urgência! É relevante!

Sol, como a chamamos, tem mesmo muita luz e, por essa razão, atraiu para si duas mariposas bem distintas, Izael e eu.

À sua esquerda ela conta com a lucidez, o amor espontâneo, a verdade, a pureza (ou nem tanto), a sensatez e a hombridade do seu "melhor amigo".

À sua direita ela encontra essa boca gigante que Deus me deu, sempre sorrindo, falando bobagens ou chamando a atenção quando é necessário (e pode apostar, às vezes é necessário).

Ela é um tipo de mulher guerreira que eu não duvido nunca que conquistará todos os seus objetivos, tenho absoluta certeza de que será uma grande jurista, bem como nosso querido Izael.

Ela é uma menina sem juízo que estou sempre empurrando para os amores certos, mas que sempre faz as escolhas erradas e nem por isso deixamos de dar sonoras gargalhadas.

Soraia é um tipo de gente rara nesse mundão de meu Deus, daquelas que sempre tem pronta uma piada, mas em dois segundos muda o semblante e se preocupa sinceramente com as dificuldades dos amigos!

É uma mulher controversa, na medida em que é grande demais, possuidora de predicados tão nobres e tão verdadeiros que nem sempre dá conta de administrar em medida justa, mas o bom é que ela sabe ouvir e peneirar, sem se melindrar com nada, nadinha mesmo, achando graça onde é pra achar e não se ferindo à toa, pois ela sabe viver e aproveitar o bom da vida!

Essa é a minha amiga Soraia, um misto de força e alegria, sobre quem eu quase nada sei, mas sei que amo pra valer!

É isso. Viu, Soraia, viu?


08/05/10 2:15 às 2:45 hs madrugada fria.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

SAGA CAPILAR

Cyntia Pinheiro

Quando eu era criança e morava na cidade de Taiobeiras, a leitura diária era parte de meus hábitos, eu apreciava os quadrinhos que meu pai assinava com freqüência e semanalmente recebíamos exemplares novos em nossa casa. As minhas revistinhas prediletas eram as do Pato Donald e do Tio Patinhas. Lendo eu viajava.

Em uma dessas viagens ao mundo da fantasia, descobri a Maga Patalójika, uma patinha-bruxa cuja ambição era furtar a moedinha número 1 do Tio Patinhas. Para mim, a Maga era linda, tinha cílios imensos e os cabelos perfeitos, negros, na altura dos ombros, ao estilo channell. Decidi que queria ter aquele cabelo.

Há registros fotográficos em que apareço aos sete aninhos com os cabelos na altura dos ombros, escovados “à la Maga”.

Neste intento capilar, eis que certo dia, retornava à nossa cidade, um primo recém-casado com uma moça carioca. Ela era linda! Tinha um rosto de gueixa, redondo e alvo, olhos bem puxados, lábios de um vermelho sangrento, desses que não precisam de batom. Mas o que mais me chamou a atenção naquela nova prima era o seu cabelo, perfeito, exatamente igual ao da Maga Patalójika da revistinha em quadrinhos. Era um channell tão bem feito, tão preto, liso e brilhante que eu fiquei encantada! Quis ter igual.

Minha mãe passou a levar-me com freqüência ao salão de Nízia, a melhor e mais famosa cabeleireira da cidade à época, cujo salão ficava na nossa rua. Aquele foi um ano de incontáveis tratamentos capilares, uma tal de touca de gesso que levava horas para ficar pronta, banho de brilho, alisamentos mal-cheirosos e mil outras artimanhas para ficar parecida com a prima e, conseqüentemente, com a Maga.

No boteco de seu Cindo havia de tudo, todos os “sabores” de xampu da marca “Colorama”, xampu de ovos para cabelos oleosos, xampu de mel para cabelos secos, de lanolina para cabelos crespos e assim por diante, experimentei cada um deles, sem deixar de lado o mais importante de todos, o creme rinse. Era um creme cor-de-rosa com um cheiro ótimo, que dava até vontade de comer, era o único condicionador capilar que eu conhecia. O xampu variava, mas o creme rinse era inevitável, o cabelo ficava gostoso de pentear, com cheirinho imitando groselha.

Um ano se passou e mais uma vez, nas festividades natalinas, a família se reuniria como era de praxe. Fiquei ansiosa esperando as primas chegarem de São Paulo, especialmente aquela esposa do meu primo, queria rever o seu cabelo perfeito e mostrar a ela os avanços pelos quais os meus cabelos haviam passado. Claro que Nízia me socorreu com os tratamentos habituais e a imprescindível escova.

Para minha surpresa, a prima estava com os cabelos completamente diferentes, eles continuavam negros, mas agora estavam imensos, abaixo da cintura, repicados e, ainda mais lindos!

Fiquei arrasada em ver que meus cabelos jamais ficariam tão lindos quanto os da prima, ela era imbatível! Como conseguiu que seu cabelo crescesse tanto em um ano, enquanto os meus fiapos ingratos mal passaram dos ombros?

Essa pergunta deixou muita gente de cabelo em pé também e não apenas eu. Uma outra prima, também em férias e possuidora de madeixas generosas, chamou a esposa do primo para uma conversa, era um momento feminino, uma troca de “figurinhas”, afinal, a mulherada toda estava curiosa e ninguém tinha coragem de perguntar qual o segredo para tanta velocidade de crescimento capilar e de tanta beleza em suas madeixas.

A esposa do primo apenas sorriu e disse:
- Ah! Eu não fiz nada não, na verdade não ligo muito pro meu cabelo, uso qualquer xampu, o mais vagabundinho do mercado mesmo, a única diferença é que uso o melhor condicionador que existe, que é o neutrox, não troco ele por nada!

A outra prima, não menos bela e desfrutando da generosidade de sua cabeleira lisa, sorriu e disse:
- Eu também não ligo muito pra cabelo, uso xampu barato, só tem um que eu não uso de jeito nenhum, que é o tal do Colorama.

Aquela conversa me deixou muito triste, pois eu me esforcei muito para que meu cabelo fosse melhor, minha mãe gastou uma nota comigo em salão, experimentei todos os xampus da marca Colorama que havia na venda de Seu Cindo, e a natureza estava sendo ingrata comigo, eu jamais teria um channell perfeito como elas poderiam desfrutar a qualquer momento. Nesse dia eu odiei o meu cabelo!

Aos dez anos de idade fiz luzes, todos riram de mim quando entrei na piscina do clube e meu cabelo ficou verde por uma semana.

O tempo foi passando, a adolescência chegando e fui conhecendo novas marcas de xampu, novos tratamentos capilares, alisamentos, etc. Usei potes e mais potes de condicionadores das mais diferentes marcas e “sabores”, tais como tutano de boi e até um tal de espermacete de baleia, que prefiro não saber do que se trata, usei diversas vitaminas e até misturebas naturais como a baboza com abacate e óleo de amêndoas, e produtos diversos como neutrox, kolene, seda, alisabel, biorene dentre outros incontáveis.

Mais tarde descobri a chapinha e uma vez tingi de loiro, essa foi a pior fase, pois o cabelo ficou horrível e eu também. Sempre gostei de cortar na altura dos ombros e até mais curto, talvez porque ainda alimentasse o desejo de ter o cabelo da Maga Patalójika. Também aderi às progressivas por um tempo.

Um dia me cansei. Cansei de gastar horas e horas, dinheiros e dinheiros com salão de beleza no sábado para lavar o cabelo na segunda-feira e ele voltar a ser aquela coisa fosca, castanha e sem forma (meu cabelo nunca decidiu se queria ser liso ou encaracolado).

Pois bem, me casei, tive filho e outras preocupações bem mais exigentes do que o meu cabelo e foi aí que ele começou a crescer. Dei-lhe uma folga, parei de correr atrás do cabelo ideal. Não me importei mais com marca, nem preço e nem qualidade do xampu, passei a usar o xampu do meu filho, a lavar regularmente, ah, e o mais importante, desisti de querer ser igual à Maga Patalójika.

Hoje o meu cabelo é assim, 100% natural! Castanho, no meio das costas, lindo, perfeito! Tem dias que ele acorda de mau-humor, mas quem não acorda? O importante é que o cabelo dos meus sonhos sempre esteve na minha cabeça e eu não havia percebido. Acho que nós dois só precisávamos de uma coisa para nos entendermos: CRESCER!