quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A dor do crescimento

Cyntia Pinheiro


Dizem que crescer dói. Mas não sou a pessoa mais indicada para confirmar tal afirmativa porque crescer não é exatamente a minha especialidade, já que não passei de um metro e meio de estatura.

Quando minhas perninhas doíam - e eu era uma criança bem cheia de energia - minha mãe sempre dizia que era a dor do crescimento. Elas doeram várias vezes, mas eu não cresci na mesma proporção, por isso deixei de acreditar que crescer, fisicamente, dói.

Mas é claro que crescer - em sentido mais abrangente - dói. E dói pra valer! Nos campos afetivo, emocional, psicológico e social é onde mais dói. Para constatar isso não é necessário ser especialista, basta ser humano.

Meus filhos estão crescendo, Samuel já tem cinco anos, é o baixinho da turma - bem coerente à sua herança genética - mas tem demonstrado um saboroso crescimento em todos os aspectos da vida.

Outro dia me disse preocupado: "Mãe, eu não quero crescer."
E eu fui logo perguntando curiosa: "Por que não, filho?"
Para minha surpresa a resposta foi: "Porque se eu crescer minha mão vai ficar muito grande pra segurar esse carrinho."

Achei muito interessante a preocupação do meu pequenino, bem legítima aliás , afinal, ele ama os carrinhos miúdos e ter mãos grandes é inviável para esse tipo de brincadeira, segurar o carrinho pequeno é, para ele, como segurar a própria infância. Mas ele sabe que está crescendo, e isso realmente o assusta.

No feriado de carnaval, na casa da vovó, mordeu uma espiga de milho e o dentinho inferior da frente doeu. Veio me mostrar e constatei: "Está mole, parabéns filho! Vai ganhar um dente novo." Novamente a surpresa, ele ficou apavorado com a ideia de ficar banguela, com a ideia de ganhar um dente grande - coisa de gente grande - chorou inconsolável por uns dez minutos e não quis que eu contasse isso a ninguém.
Nem a ideia de ganhar presente ou moedinha trazida pela "fada do dente" o fez ficar feliz! Isso pouco importa, ele quer mesmo é continuar criança, "feito Peter Pan" como ele mesmo diz...

Mas diz cada coisa que só me faz constatar: por mais que não cresça na estatura como nós gostaríamos, cresce dia após dia na maturidade linda de criança esperta e sagaz! Ao mesmo tempo preserva nos olhinhos a beleza de uma infância que só vai embora quando a hora chegar, meio escapulida das mãos, meio sem ter outro jeito, contanto que se vá, mas deixe ficar para sempre a felicidade nesse coraçãozinho puro que amamos tanto!

Seja feliz, meu anjo lindo! Crescendo... sem deixar de ser menino!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Assim você me mata...

Cyntia Pinheiro


E o casamento pede socorro. Sim, mídia, assim você o mata. Hoje, antigos valores são tratados como se banalidades fossem. Diariamente a imprensa trata do casamento, mas trata de forma muito negativa, como se fosse algo ruim, prejudicial às necessidades - animalescas - da raça humana.

Ontem, 11 de fevereiro de 2012, a imprensa noticiou em tom quase festivo o divórcio do cantor Michel Teló, cuja música(?) de apenas quatro acordes "Ai se eu te pego", teria sido uma das razões para o fim do casamento com a dentista "Ana Carolina". É o preço da fama e do sucesso.

Um importante jornal do horário nobre disparou mais ou menos assim: confirmado o fim do casamento do músico Michel Teló que agora é considerado o mais novo "bom partido" do mundo das celebridades.

Sinto que tal informação soa quase como um convite para as fãs do cantor, como quem diz: Vamos, garotas, comecem a formar a fila, porque o rei do "ai se eu te pego" está pronto para "pegar geral". E então, reforça-se a banalização do matrimônio, como se quem se separasse não tivesse sentimentos, como se um divórcio - por ser consensual - não fosse sofrido, como se o casamento não fosse nada além de um contrato que pode ser rasgado e cada um vai viver como bem entende, adquirindo uma instantânea amnésia em que o outro já não representa mais nada.

Não conheço o casal em questão, e confesso que para escrever esse texto tive que pesquisar sobre esse cantor, o Michel Teló. Involuntariamente já ouvi trechos da sua música (?) que pelo jeito faz um sucesso estrondoso no Brasil e no mundo, não sei quase nada sobre ele, mas imagino que qualquer pessoa, sendo gente de carne e osso, possui sentimentos e duvido que o referido casal seja desprovido deles.

É lamentável que o preço do sucesso seja tão alto, o submundo (com o perdão da palavra) das celebridades está recheado de histórias semelhantes, a mídia pinta com cores vivas o divórcio de alguém como sendo carta de alforria, casam-se dúzias de vezes e separam-se na mesma proporção, filhos são trazidos ao mundo de forma irresponsável, um dia com um marido, no outro com outro e poucos meses depois já é um terceiro... e assim vai... a coisa vai perdendo o sentido.

Casamento duradouro é para poucos, recentemente tivemos a felicidade de apreciar a história de amor do casal centenário Sr. Izalino e D. Elvira Miranda, lá da minha terra, meus vizinhos de frente, que fizeram as - consideradas raríssimas - bodas de carvalho! Oitenta anos de vida conjugal, família unida, exemplo de dignidade e de felicidade para todo o Brasil, exibido no fantástico no dia 15 de janeiro de 2012, disso sim me orgulho.

Puxa vida! Ninguém é obrigado a estar casado se está infeliz, mas também não é porque o "cara" se separou que está "pronto pra outra", na minha terra costumamos dizer: espera pelo menos o defunto esfriar...

Deixe a vida acontecer, deixe o barco correr, deixe os sentimentos se abrandarem, porque o rio segue seu curso, assim como os corações seguem seus destinos.

E viva o casamento! Sempre!


P.S.: Ontem também completamos oito anos de casados, e sim, estamos muito felizes juntos! Com a graça de Deus!

sábado, 4 de fevereiro de 2012

A vovó

Cyntia Pinheiro


A chegada do Vinícius poderia ser contada em vários capítulos, porque foi um momento muito especial para nós, mas nada se compara à atuação da vovó Fia que esteve conosco o tempo todo.

Uma mulher à frente do seu tempo, a Sra. Daitelinta (para nós apenas vovó Fia), dedicou 33 anos de sua vida aos correios, e coloca dedicação nisso, se orgulha em contar que jamais faltou ao trabalho ou se atrasou. Mulher forte, não é muito ligada aos próprios problemas, ao contrário, está sempre pronta a resolver os problemas de todos a sua volta, ainda que se anule para isso.

Lamber selos? Ela sabe bem, mas não é só, também sabe lamber a cria. Mesmo com uma chaga aberta na perna por causa de uma queimadura arranjada uns dias antes do meu parto, ela veio receber meu rebentinho com uma dedicação sem tamanho. Chegou no sábado e tomou conta de tudo. Trouxe cinco frangos do próprio quintal, já abatidos para eu comer pirão - tradição na minha terra.

Cuidou de Samuel quando estive internada, cuidou da minha casa com esmero e arranjou tempo para cuidar de mim também no hospital. Meu pai - coisa linda - que também se mudou para cá naqueles dez dias inesquecíveis preparou cartazes com "vivas" e "boas vindas" para mim e Vinícius, comprou uma poltrona confortabilíssima para eu amamentar e assistiu de pertinho cada momento nosso.

Meus pais foram - e sempre serão - essenciais. Minha mãe foi indescritível. Cuidou com perfeição do nosso bebê, tratou do umbigo, deu banho, trocou fraldas, colocou para arrotar e, ainda, esquentou uma batata para minhas costas doloridas, fez o pirão delicioso, levou café na cama, limpou, arrumou, se entregou de corpo e alma nessa tarefa de ser vovó.

Nem todas as parturientes têm a sorte que eu tive, pois já não se fazem mais vovós como antigamente, a minha, embora muito jovem, é vovó à moda antiga, tal qual eu pretendo ser um dia - se essa graça Deus me conceder - e só posso me orgulhar e agradecer por esses pais perfeitos, que são amigos, companheiros e muito presentes!

Foram dez dias inesquecíveis, já estamos com saudades.