Cyntia Pinheiro
Fez uma viagem para "além-mar", África do Sul, cujo objetivo era assistir à Copa do Mundo de 2010.
Mas o avião quebrou em um outro aeroporto, a oeste no continente, e foram obrigados a pernoitar em uma cidadezinha nigérrima, misérrima, contrastante com o evento tão grandioso.
Lá chegando, ela encontrou tantos africanóides, nada sulistas, morrendo de fome nas bandas pobres, perto de esgotos podres, costelas a mostra, cara de morte, morte, malfadada sorte.
Pensou em não embarcar. Talvez ali pudesse ser mais útil. Questionou a utilidade de tanta farra futebolística, era só uma bola e algumas coxas grossas correndo na grama verdinha e nova dos estádios luxuosos.
Ali a pobreza era proporcionalmente gritante, escandalosa, opositora a tanta ostentação desportiva, que naquele momento julgou sem nexo, sem razão de ser.
Passou a mão pela testa acreditando que o gesto poderia afastar o pensamento tão desconfortável, mas ele não se moveu dali, estava determinado a lhe fazer desistir de seguir viagem. E ela desistiu.
Na manhã seguinte comunicou à empresa de turismo que não seguiria viagem com os demais, decidiu ficar na Nigéria, para sempre.
Limpou a bunda de meninos negros esqueléticos e aidéticos, trocou curativos de mães cadavéricas, participou de movimentos humanitários, se envolveu com aquele povo de um jeito que passou a pertencê-lo.
A copa do mundo terminou, seu país perdeu, todos voltaram para casa, sem encontrar o sentido daquela viagem desperdiçada com algazarra, vuvuzelas barulhentas, promiscuidade e vazio interior.
A jovem médica que permanceu nas bandas pobres da África começou a viver naquele dia em que o avião quebrou. Encontrou ali o inferno na terra, e viu que no inferno poderia ser útil, como voluntária de Deus.
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EXCELENTE!
ResponderExcluirAPLAUSOS PARA A JOVEM MÉDICA.
PARABENS PRA VC QUE TÃO BEM NOS TRANSMITIU ESSE EVENTO.