domingo, 27 de junho de 2010

Rogai a vós, os que interrompem a nós!!!

Cyntia Pinheiro



Não existe coisa mais deselegante e desagradável do que um terceiro que chega e interrompe um diálogo. O tempo inteiro, todos os dias, há pessoas que fazem isso e nem percebem. Eu já fiz parte desse time, hoje tento não fazer isso com as pessoas, embora sempre façam isso comigo.

O papo está bom, interessante, empolgante e chega um desavisado, interrompe o papo, geralmente pra falar de assunto diverso e nem desconfia. Quando esse terceiro dá o seu recado rapidinho e sai a gente releva, mas quando o infeliz insiste em não sair de perto, continua falando sem parar e você e seu amigo tentando concluir o papo e não podem, ahhhhhhhhh... Aí é demais!

Eu era adolescente e tinha o hábito de pedalar com as amigas nas ruas planas de Taiobeiras. Nossa turminha de amigas era bem grande e sempre saíamos em bando, geralmente eu, Flávia, Nete, Selma, Aline, Hélvia, Marisa, Alessandra, Edinéia e Gisele (me perdoem se deixei alguém de fora). Mas para pedalar nem sempre todas estávamos juntas, o grupo geralmente era menor, somente as quatro primeiras, sobre quem falarei um pouco mais agora.

Adorávamos comer pipoca feita no fogão de lenha, com banha de porco, na porta da casa de Selminha, Dona Terezinha sempre nos recebia muito bem; Na casa de Nete aprendíamos a bordar com ajuda de Anita e passávamos tardes agradabilíssimas também; A casa de Flávia era a mais impecável em organização, lá eu tinha trânsito livre, pois éramos todos como uma só família, crescemos juntas e morávamos uma em frente à outra, Leni sempre fazia bolos gostosos para o café da tarde; Na minha casa a gente se reunia para dançar, pois talvez eu tivesse a maior sala de visitas, então empurrávamos os móveis e passávamos tardes inteiras ao som de Débora Blando fazendo ensaios intermináveis.

Mas havia uma casa que era excelente para as nossas reuniões, a casa de Gisele. Antonina, mãe da nossa colega, era uma figurinha fantástica. Tinha uma voz exótica, que eu sempre imaginei que seria adequada para a dublagem de desenhos animados ou fantoches. Ela talvez tenha a sido a mãe que mais se envolveu com nossa turma, talvez porque também fosse professora no colégio onde estudávamos. Na casa de Gisele aconteciam as farrinhas, os trabalhos, os ensaios para as nossas apresentações, as reuniões mais importantes que fizemos naquela época jovial. Lá comi cuscuz pela primeira vez, pintamos vestidos para a gincana folclórica, confeccionamos flores de tecido, elaboramos apresentações teatrais incrivelmente lindas e inesquecíveis, tudo sob a tutela da adorável Antonina.

Todas nós tínhamos muita liberdade nas casas umas das outras, e nossas mães foram ótimas parceiras no período estudantil. Foi um período de intercâmbio maravilhoso entre nossas famílias, um tempo saudoso, de grandes recordações.

Chegávamos em casa de Antonina a qualquer hora do dia e éramos absolutamente bem recebidas, o mesmo se dava com Anita e D. Terezinha, as três mães que mais visitávamos.

Em uma tarde de sábado, o quarteto sob duas rodas decidiu fazer uma visitinha à nossa amiga e líder Gisele e como era de praxe chegamos sem avisar. Estranhamente Antonina estava um pouco mais séria, mas não menos simpática, assim como a filha. Sem percebermos um provável inconveniente, eu e minhas parceiras de pedaladas entramos, sentamos no sofá, conversamos sobre vários assuntos, pedimos pra Gisele fazer pipoca, tomamos suco e só depois de aproximadamente uma hora de papo, percebemos que elas realmente estavam diferentes, pareciam querer muito que desconfiássemos de algo.

Então, desconfiada, eu chamei as colegas para irmos embora, ao que a engraçada Antonina falou:

- Não, agora vocês não vão embora não, quando vocês chegaram nós estávamos rezando o terço, pois podem terminar de rezar com a gente.

Ficamos constrangidíssimas, mas não fomos capazes de recusar o convite inusitado. Permanecemos ali por mais uns quarenta minutos rezando o terço, sem saber se fechávamos os olhos pra nos concentrarmos na reza ou se pra escondermos o rubor de nossos rostos envergonhados.

Nunca mais chegamos em casa de ninguém sem avisar, hoje eu não faço isso sob hipótese nenhuma, aliás, coisa rara é eu visitar alguém sem ser convidada. Quanto a interromper a conversa alheia, aprendemos mais do que isso, afinal interrompemos o terço alheio! Quer coisa mais desagradável?

Salve Antonina e sua criatividade!

2 comentários:

  1. Oi professora!
    Realmente têm pessoas que se veem mas, não se enxergam.
    Adorei seu blog vou visitar sempre.
    Bj
    Miriam Orneles.

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  2. Nossa!!!!!!!!! Parece até um dos meus desastres! Também já atrapalhei muita conversa alheia, agora tento me controlar mais.

    Beijos!!! Saudades

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