NÓS DESATADOS
Márcio Adriano Moraes
Professor de Literatura do Colégio Sólido
De dentro saem textos. De todas as aberturas possíveis como fluídos humanos. A inspiração vem em palavras nem sempre poéticas, nem sempre com nexo. O demônio do Ego que insiste, que teima, que descarrega o seu Eu sobre o próprio eu é avassalador. Vade retro Ego infiel. Ainda que haja dor, ainda que haja dores. Uma dor nem sempre própria, uma dor do outro, carregada de algo mais que dorido. A dor do outro é o pranto próprio.
Eis que chega o filho, estado pleno de satisfação materna. O filho fruto ventre, mas também o filho fruto tropo de papel. Poesia despertada de choro de ninar. Universo delicado, alquebrado, ameaçado, alterado, viciado, forçado. Tudo como tem que ser, tem de ser um segredo preso pela raiz como um galho de natureza. E as flores turvas, submersas em água fria, mergulham no aquário íntimo dos corpos esquecidos nas calçadas no fim da tarde. Dos corpos desnudos que se mostram, se abraçam, se abrasam. A dor é inominável.
As incertezas doem como o som do canto. Doem como o futuro, como a dúvida, como a calúnia, o implante de lembrança embriagada. O medo não suplanta a solidão que traz, apesar de só, felicidade em pleno meio-dia de uma paixão caminhada para o vazio. Confessar a tristeza de hoje e se entregar ao álcool com desejo. Brindar a vida entorpecida e cair de sonho em um sexo passional, ocasional. Ficar acordada louvando a insônia como única companheira, povoada de sonhos insanos. Um livro inacabado, feito a pinceladas curtas, impressionistas bem na calada da noite, sem as luzes, indo contra o estilo. Apenas ouvindo os silêncios e se assustando com os barulhos que saem da caneta saboreando o papel sobre a mesa de madeira. Luzes brilhando para perdoar você.
O corpo queima, o desejo arde, a paixão tem temores, todos coloridos e sedutores. Violar o sacrário do corpo libidinoso e corroer as entranhas. A sensação perfeita, orgasmo astral, sonho vivo ou fantasia, distorcendo a mente, deleite, maestria. Ah, delícias... sonhando... seios... nádegas... línguas... vagina... penetração... movimento... pênis... gemidos... ejaculação... promessas... ilusão... onde há supremacia das palavras e do amor?
Assim os lábios atam como pares indissolúveis. Peixe fisgado com isca de beijos. Saudade da noite, da mão, do corpo quase sem corpo. Agora é só esperar outra noite em que a libido seja proibida e poder recusar o sonho na cama, noite inteira.
Corasóis. Corados sóis, corados sois sós. Você em preto e branco no porta-retrato são recordações estaladas no peito. Um anjo para perfumar os dias e quem sabe inspirar poesias. Cantar, dançar, musicar, expressar os sentidos sentimentos sambando no compasso e na cadência de um amor que se entregou. Ah, o amor! Já disseram que é ferida que dói e não se sente, mas dói. O amor mata de tanto amor.
Na escola da vida, amigos, perder e ganhar, despedir. Crer em Deus, nesse sinal real que está bem na frente dos olhos, como as estrelas no céu.
E por que não brincar? Se extravasar em pleno sol com os meninu da rua. Peidar um peido alto e verdadeiro. Contar piada e chorar de tanto rir. Sentar ao redor do avô para ouvi-lo contar histórias e tremer de medo no quartinho de costura abandonado. Coisas da meninice: pé de manga, cinema de papel, o cão rex, lagartas no pé de laranja, baygon, bolinha de sabão, bomba de cocô; rica infância; lembrança com sabor de romã.
Tudo isso e muitas outras frases ao anoitecer em um Pinheiro chamado Cyntia.
Cordialmente
Márcio Adriano Moraes
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
sábado, 1 de janeiro de 2011
Ano Novo
Meus vestidos, muitos, despidos.
Minhas carnes, mudas, multipliquem.
Meu amor, festejado, seja firme.
Meu trabalho, renovado, capacite.
E para minhas mãos, Midas.
Minhas carnes, mudas, multipliquem.
Meu amor, festejado, seja firme.
Meu trabalho, renovado, capacite.
E para minhas mãos, Midas.
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